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domingo, outubro 16, 2022

She Wolf (Loba)

“She Wolf” (Loba). A expressão foi utilizada no teatro inglês para classificar rainhas de origem francesa que se envolveram em um mundo dominado por nobres e reis: o da política. Ao longo das gerações, a memória coletiva cristalizou o imaginário de mulheres liderando exércitos e conselhos de ministros como algo não natural. 

Para que essa ideia pudesse parecer mais aceitável nos anais da História, suas figuras foram masculinizadas e destituídas de qualquer traço de feminilidade que pudesse denotar fraqueza. Do contrário, eram retratadas como abominações, cujas más intenções supostamente contribuíram para deflagrar guerra civil. 

Contudo, pesquisas recentes na área dos estudos de gênero e sexualidade contribuíram para desconstruir tal interpretação, apresentando personalidades como Matilda da Inglaterra, Eleanor de Aquitânia, Isabella da França ou Maria I da Inglaterra como construtoras do caminho que possibilitou a ascensão de outras rainhas à política britânica.

Pejorativamente chamadas de “female kings” – ou reis-fêmeas, termo equivalente a rainha reinante – essas soberanas passaram por difíceis provações até estabelecer um modelo de governo no qual o feminino não era visto como franqueza, e sim como parte de sua forma de conduzir os negócios públicos. 

Helen Castor, autora do livro “She Wolves” e do documentário de mesmo nome, aponta a imperatriz Matilda, filha do rei Henrique I, como a primeira “loba” da Inglaterra. O conceito popularizado por Shakespeare foi utilizado pela escritora para classificar princesas que não se limitaram ao papel social esperado de uma consorte da realeza. 

O caminho pavimentado por Matilda, Eleanor de Aquitânia, Isabella de França e Margarida de Anjou possibilitou que soberanas como Maria I e Elizabeth I da Inglaterra assumissem sucessivamente o trono, na qualidade de rainhas reinantes e governassem durante um momento em que a política era considerada um privilégio masculino e as mulheres eram relegadas aos papeis de reprodutoras e donas do lar.

Texto de Renato Drummond Tapioca Neto

Imagem: pintura de John William Waterhouse


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