Um texto ateu - "1 - Não diria que sou ateu, nem agnóstico. Apenas isso: Deus não me importa. O que me importa é o planeta e os habitantes da terra - os seres humanos inclusive, mas não apenas.
2 - Dito isso, é interessante lembrar que aqueles que acreditam em Deus não são citados pela história como seres humanos pacíficos, tolerantes e bondosos. Muito ao contrário: sempre que surge uma idade da fé, a morte se espalha pelo mundo.
A guerra Santa é uma criação dos teístas-Judeus, cristãos, islamitas, comunistas e não dos ateus: ateus não costumam fazer guerras santas.
3 - Quando afirmo que Deus não me importa, não nego de forma alguma a existência do Invisível. Não diria que sou materialista.
O que reafirmo é que não existe qualquer ligação entre uma possível divindade ou a religião e o Invisível que nos cerca e que não conhecemos ainda. Não diria, por exemplo, que as fadas são cristãs.
Ou que os átomos são judeus. Ou que a kundalini é islamita ou, quem sabe budista. Ou seja: o Invisível existe, mas não há nele nada de religioso.
Pretender associar o Invisível ao religioso é repetir um comportamento pré-histórico. Feliz ou infelizmente, estamos no início do século XXI.
4 - Ao contrário do que pretende os teístas, a história fala de ateus pacíficos, grandes estudiosos e amantes da humanidade.
E mostra que os crentes perseguiram, prenderam, torturaram e mataram milhões de pessoas, em todo o mundo e em todas as épocas. Pergunta-se: a religiosidade e a crença em Deus tornam os seres humanos mais pacíficos, justos e tolerantes?
5 - Nos países onde o Estado e a Igreja não se separaram como o Brasil e toda a América Latina os políticos chegam ao poder ou lá permanecem quando se mostram piedosos, quando contribuem para instituições de caridade e, especialmente, quando se afirmam tementes a Deus.
Ora, a história também mostra que o administrador ou político teísta não é necessariamente melhor do que aquele que não crê. Pode-se perfeitamente crer em Deus e ser um péssimo político, um corrupto, um autoritário.
Mas é verdade que se tem mais espaço, mais poder e conquista-se mais simpatia quando se é teísta. Em países de mentalidade medieval como o Brasil, se ganha até mais votos. No sacro Império Brasileiro é preciso ter boas relações com a Igreja (e com Deus) para se politicamente vitorioso.
6 - Alguém pode ingenuamente dizer que países comunistas não são religiosos e, ainda assim, fizeram e fazem perseguições contra aqueles que discordam de suas regras.
Eu responderia afirmando que a União Soviética nunca deixou de ser religiosa: lá a religião mudou de endereço e o Estado substituiu a Igreja.
Exemplo disso é o que o comunismo adotou o "culto da personalidade" e mantém a múmia do santo Lênin em Moscou, para ser devidamente adorada.
O comunismo é tão religioso que está cheio de dogmas. Até prova em contrário, não existem dogmas para os ateus: o dogmatismo é uma das características básicas de toda religiosidade.
7 - O fanatismo é outra característica daqueles que têm fé e não dos ateus.
8 - Afirmo que a crença em Deus é interesseira. Ora, quem acreditaria em Deus se essa crença não lhe fosse útil?
Todas as religiões dizem algo que pode ser resumido assim: "Comporte-se bem agora e mais tarde sua recompensa virá em dobro".
Pergunto: por que tratar com reverência uma divindade que trabalha com juros? Os banqueiros também trabalham dessa forma e não são bem vistos.
9 - Um argumento muito utilizado pelos teístas - especialmente aqueles que pretendem participar da Era de Aquário é a afirmação de que a religião é a forma pela qual o homem se "religa" com a divindade superior.
Ora, a palavra religião, originalmente não tem qualquer relação com religar: "religo" é o culto prestado aos deuses, religo é ligar, atar.
Os teístas, sabiamente, quiseram unir os dois conceitos. Têm todo o direito, é claro. Mas estão enganados.
10 - Estamos nos preocupando há milênios - toda a Era de Peixes, no mínimo - com um Deus único, misto de general, juiz e censor.
O resultado ai está à nossa volta: alguns religiosos afirmam conhecer a vontade divina nos seus mínimos detalhes e exigem ser ouvidos, por bem ou por mal.
Enquanto isso, não conhecemos o bastante a nós mesmos e essa ignorância tem causados sofrimentos terríveis a toda humanidade.
Proposta: que no próximo século a humanidade cuide da humanidade e tente se conhecer mais profundamente. Que Deus permaneça por um tempo no almoxarifado das crenças, preconceitos e medos humanos.
11 - A fé não quer evolução, a liberdade e o companheirismo entre os homens. A fé é reacionária: os fiéis pretendem conhecer a resposta para todas as dúvidas que temos na vida. A utopia não: quer a fantasia, buscam as respostas, as possibilidades.
O utópico quer um tempo novo e busca criar condições para que este tempo surja, agora ou no futuro.
12 - O homem não é o centro do sistema solar ou do Universo e não interessa se existe qualquer divindade olhando por nós. “A questão é uma só: reduzir o homem a sua mínima grandeza.”