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sábado, agosto 02, 2025

Próprios.



Apenas os loucos e os solitários podem se dar ao luxo de serem eles mesmos. Os solitários não têm ninguém a quem agradar; vivem fora do alcance dos julgamentos, alheios às expectativas que moldam a maioria.

Já os loucos, esses, romperam de vez com as correntes invisíveis da aprovação. Não pedem licença para existir - apenas existem, com toda a intensidade e estranheza que isso carrega.

Ambos caminham à margem da normalidade: um por opção silenciosa, o outro por impulso irrefreável. E talvez, no fundo, sejam os únicos verdadeiramente livres.

Os solitários conversam com seus pensamentos em longas madrugadas insones, conhecem os próprios abismos e aprendem a admirar a solidão como quem observa o mar - ora calmo, ora violento, mas sempre profundo.

Não há máscaras em seus rostos nem necessidade de performance. Eles não precisam fingir para manter ninguém por perto.

Os loucos, por sua vez, são como tempestades: imprevisíveis, sinceros demais, perigosamente autênticos. Dizem o que pensam sem pensar no que dizem.

Riem alto quando deveriam chorar. Enxergam conexões que o mundo “são” não vê. E por isso assustam, mas também encantam. Porque há beleza na desordem que habita suas almas.

Em um mundo que exige coerência e conveniência, ser verdadeiro é um ato radical. Por isso só os que não têm nada a perder - ou não se importam em perder - ousam ser o que são.

E talvez, só talvez, sejam eles os mais lúcidos de todos.

quinta-feira, julho 31, 2025

Casa secreta


“Essa mulher é uma casa secreta. Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas. Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais...” (Eduardo Galeano)

Com essas palavras, o escritor uruguaio Eduardo Galeano tece uma metáfora poderosa e enigmática, como é característica de sua obra. Em sua escrita, sempre carregada de poesia e crítica social, Galeano transforma a figura da mulher em um símbolo de profundidade, mistério e memória.

A "casa secreta" não é apenas um espaço físico, mas uma representação da alma humana, repleta de camadas, segredos e histórias que ecoam no silêncio.

Seus "cantos" guardam vozes - talvez de alegrias, dores, sonhos ou lutas - e seus "fantasmas" são as memórias, os traumas ou as heranças culturais que moldam quem ela é.

E aqueles que se aventuram a conhecê-la, a desvelar seus mistérios, ficam irrevogavelmente transformados, presos à sua essência. Essa citação, extraída de uma das muitas reflexões poéticas de Galeano, reflete sua habilidade de capturar a complexidade da existência em poucas palavras.

Conhecido por obras como As Veias Abertas da América Latina (1971) e O Livro dos Abraços (1989), Galeano frequentemente explorava temas como identidade, memória e resistência, com um olhar especial para as mulheres, que em suas narrativas são retratadas como forças vitais, guardiãs de histórias e símbolos de resiliência.

A "casa secreta" pode ser interpretada como uma homenagem à mulher latino-americana, que carrega em si as vozes de gerações, os fantasmas da opressão colonial e patriarcal, e a força de quem, apesar de tudo, permanece inquebrantável.

A metáfora de Galeano ressoa em muitos contextos. A mulher como "casa secreta" evoca a ideia de um refúgio, mas também de um labirinto. Suas paredes guardam não apenas beleza, mas também cicatrizes.

Em seus cantos, ecoam as vozes de avós que contaram histórias, de mães que lutaram por seus filhos, de mulheres que desafiaram sistemas de opressão. Os "fantasmas" podem ser as memórias de injustiças, como as lutas feministas que marcaram a América Latina nas últimas décadas, ou as dores pessoais que cada mulher carrega em silêncio.

Quem entra nessa casa - seja um amante, um filho, um amigo ou mesmo a sociedade - encontra um universo que não pode ser esquecido, pois ele transforma, ensina e, às vezes, assombra.

Para enriquecer a reflexão, podemos conectar a metáfora de Galeano a acontecimentos históricos e culturais. Na América Latina, as mulheres têm sido protagonistas de movimentos que desafiam o status quo.

Nos anos 1970 e 1980, as Mães da Praça de Maio, na Argentina, tornaram-se um símbolo de resistência ao buscarem justiça para seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar.

Essas mulheres, como casas secretas, guardavam em seus corações as vozes de seus filhos e os fantasmas de um passado doloroso, transformando sua dor em luta.

Mais recentemente, movimentos como o Ni Una Menos, surgido em 2015 na Argentina e espalhado por toda a América Latina, trouxeram à tona as vozes de mulheres que exigem o fim da violência de gênero.

Essas mulheres são casas secretas que, ao abrirem suas portas, revelam não apenas suas próprias histórias, mas as de uma coletividade. A citação de Galeano também pode ser lida em um contexto mais universal.

Cada pessoa, em algum grau, é uma "casa secreta". Todos nós guardamos vozes - de sonhos, medos, aspirações - e escondemos fantasmas - arrependimentos, perdas, traumas.

A metáfora nos convida a explorar a profundidade do outro com respeito e empatia, reconhecendo que entrar na vida de alguém é um ato de coragem e responsabilidade.

Quem o faz, como diz Galeano, "não sai nunca mais", pois leva consigo as marcas dessa conexão. Hoje, em um mundo marcado por polarizações e superficialidade nas relações, a mensagem de Galeano ganha ainda mais relevância.

Em tempos de redes sociais, onde a vida é frequentemente reduzida a aparências, a ideia de uma "casa secreta" nos lembra da importância de buscar o que está além da superfície - nas pessoas, nas histórias, nas lutas.

É um convite para ouvir as vozes silenciadas, para acolher os fantasmas do passado e para reconhecer a força daqueles que, como as mulheres descritas por Galeano, são ao mesmo tempo refúgio e mistério.

Assim, a "casa secreta" de Galeano não é apenas uma mulher, mas um símbolo da própria vida: complexa, cheia de camadas, repleta de ecos e sombras. Entrar nela é um privilégio; compreendê-la, uma jornada sem fim.

terça-feira, julho 29, 2025

Autoestima


 


Autoestima e Amor Próprio: A Perspectiva de Nietzsche

“Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todo amor é amor próprio. Pense naqueles que você ama: cave profundamente e verá que não ama a eles, mas as sensações agradáveis que esse amor produz em você! Você ama o desejo, não o desejado.”

- Friedrich Nietzsche

Essa provocativa afirmação de Friedrich Nietzsche, extraída de Assim Falou Zaratustra ou inspirada em suas ideias, desafia as concepções tradicionais de altruísmo e amor.

Para Nietzsche, a autoestima e o amor próprio não são apenas centrais à experiência humana, mas a verdadeira força motriz por trás de todas as ações, incluindo aquelas que, à primeira vista, parecem desinteressadas.

Ele sugere que mesmo o amor direcionado aos outros está intrinsecamente ligado ao desejo de satisfazer necessidades internas, como a busca por prazer, validação ou realização pessoal.

Nietzsche, um dos filósofos mais influentes do século XIX, argumentava que as ações humanas são guiadas por instintos profundos, muitas vezes mascarados por ideais morais ou sociais.

Em sua visão, o amor - seja por um parceiro, um amigo, um familiar ou até uma causa - não é um ato puramente altruísta, mas uma expressão do amor fati (amor ao destino) ou da vontade de potência, conceitos centrais em sua filosofia.

Quando amamos, segundo Nietzsche, buscamos afirmar nossa própria existência, intensificar nossa vitalidade ou encontrar significado em nossas experiências.

Assim, o objeto do amor - a pessoa ou ideia amada - torna-se um espelho das nossas próprias aspirações e desejos. Por exemplo, ao ajudar alguém, podemos sentir prazer na sensação de sermos úteis, virtuosos ou reconhecidos.

Ao amar romanticamente, podemos estar apaixonados pela ideia do amor ou pela forma como a outra pessoa nos faz sentir vivos, desejados ou completos.

Mesmo em atos de sacrifício, como o de um pai que se dedica aos filhos ou de um voluntário que trabalha por uma causa, Nietzsche argumentaria que há uma satisfação interna - seja a realização de um ideal, a superação de um desafio ou a afirmação da própria identidade.

Essa perspectiva não deve ser vista como uma condenação do amor ou da autoestima, mas como uma provocação para olharmos honestamente para nossas motivações. Nietzsche não nega o valor do amor ou da generosidade; ele apenas questiona a ideia de que essas ações são desprovidas de interesse próprio.

Para ele, reconhecer o amor próprio como a raiz de nossas ações é libertador, pois nos permite abraçar nossa natureza humana sem a culpa imposta por moralidades tradicionais, como as do cristianismo, que frequentemente associam o egoísmo a algo negativo.

No contexto da autoestima, a filosofia de Nietzsche sugere que cultivar o amor próprio é essencial para uma vida plena. Ele via a autoestima não como vaidade superficial, mas como uma aceitação profunda de si mesmo, com todas as imperfeições e forças.

Em Assim Falou Zaratustra, o filósofo exalta a ideia de se tornar “o que se é”, um chamado para que cada indivíduo descubra e afirme sua singularidade.

A autoestima, nesse sentido, é a base para criar valores próprios e viver autenticamente, em vez de se submeter a normas externas. Essa visão de Nietzsche teve um impacto duradouro, influenciando áreas como a psicologia, a literatura e até a cultura popular.

Por exemplo, a psicologia moderna, com figuras como Carl Jung e Abraham Maslow, ecoa ideias nietzschianas ao enfatizar a importância da autorrealização e da autoaceitação.

No entanto, a perspectiva de Nietzsche também é controversa: críticos argumentam que sua ênfase no amor próprio pode justificar comportamentos egoístas ou narcisistas.

Em resposta, defensores de Nietzsche apontam que sua filosofia não promove o egoísmo mesquinho, mas uma autoafirmação que permite aos indivíduos contribuírem para o mundo de forma criativa e autêntica.

Além disso, a citação reflete o contexto histórico e pessoal de Nietzsche. Vivendo em uma Europa marcada por mudanças sociais e pelo declínio da influência religiosa, ele buscava desafiar as estruturas morais que, em sua visão, sufocavam a vitalidade humana.

Sua própria vida, marcada por solidão, problemas de saúde e uma busca incessante por significado, reflete o peso de suas ideias. Nietzsche não apenas teorizou sobre o amor próprio, mas viveu intensamente a luta por afirmar sua própria existência em um mundo que ele considerava hostil à autenticidade.

Em última análise, a provocação de Nietzsche sobre o amor e a autoestima nos convida a refletir: o que realmente nos motiva? Quando amamos, o que estamos buscando?

Ao reconhecer que nossas ações são, em essência, expressões do amor próprio, podemos não apenas compreender melhor a nós mesmos, mas também viver com maior honestidade e propósito.

Para Nietzsche, a verdadeira autoestima não é se colocar acima dos outros, mas afirmar a própria existência com coragem, aceitando a complexidade de ser humano.

domingo, julho 27, 2025

Lição de amor


 

Perguntei ao meu velho professor o que era amor, por causa do verbo amar. Aquele sábio ancião me ouviu, fitou-me com um sorriso sereno e respondeu, após uma pausa: “Amor, meu jovem, conheci só um: substantivo comum, às vezes comum de dois.”

Com um brilho de desgosto nos olhos, ele prosseguiu, como quem carrega um segredo antigo: “Amar, como verbo, não é sempre regular. É triste dizer “amei”, pois carrega o peso do passado.”

É incerto dizer “amarei”, pois o futuro é um véu de promessas frágeis. E nunca se diz “hei de amar”, pois o amor não se conjuga em vontades certas.

O verbo amar, continuou ele, não é igual para todos. Seus tempos e modos se torcem, por vezes, num defeito sutil:

Há orações que se perdem, sem predicado claro, sem sujeito definido, Como se o amor, em sua essência, fugisse às regras da gramática da vida. Só hoje, com o passar dos anos, dou valor à lição que o professor me ofertou.

Há quem adore esse verbo, conjugando-o com fervor, em risos e juras. Mas há também quem chore, com o coração em farrapos. Por ter conjugado o amor em tempos que não voltam mais.

Reflexão sobre a lição

O poema de Frederico de Brito, com sua simplicidade profunda, tece uma metáfora entre o amor e a gramática, revelando a complexidade de um sentimento que, embora universal, é experimentado de formas tão distintas.

O velho professor, com sua sabedoria tingida de melancolia, ensina que o amor não se deixa domar por regras fixas. Ele é, ao mesmo tempo, um substantivo - algo concreto, palpável, que pode unir dois corações - e um verbo, cheio de nuances, que se conjuga de maneira imprevisível.

Os acontecimentos que envolvem o amor, como o poema sugere, são marcados por dualidades: alegria e dor, certeza e dúvida, passado e futuro. Cada pessoa que conjuga o verbo amar carrega uma história única.

Há aqueles que, ao dizer “amo”, vivem o êxtase do presente, como se o mundo inteiro se resumisse a um instante. Outros, ao murmurar “amei”, enfrentam o vazio de um amor que se desfez, como uma frase interrompida.

E há ainda os que temem dizer “amarei”, pois sabem que o futuro pode ser tão esquivo quanto as promessas que o acompanham. O poema também evoca os acontecimentos da vida que moldam nossa relação com o amor.

Um coração jovem, como o do narrador ao perguntar ao professor, pode buscar definições claras, mas a maturidade revela que o amor é mais que um conceito - é uma experiência que se vive, se sofre e se celebra.

É o primeiro encontro que acelera o peito, a despedida que corta a alma, ou até mesmo os silêncios compartilhados que dizem mais que palavras.

Frederico de Brito, ao construir essa “Lição de Amor”, nos convida a refletir sobre como o amor, em suas muitas conjugações, é o fio que costura a existência humana.

Seja na euforia de um novo romance, na saudade de um amor perdido ou na esperança cautelosa de um amor por vir, o verbo amar permanece, eternamente, um desafio à lógica e uma lição que nunca termina de ser aprendida.

A Fila do Trem da Vida


 

O trem da vida avança, incansável, cortando o véu do tempo. Em cada estação, acolhe almas em sua jornada e se despede de outras, que seguem para o desconhecido.

Estamos todos enfileirados, à espera de nossa vez, sem saber quantos passos nos separam do embarque final. A fila é inevitável, inexorável. Não há como recuar, desviar ou escapar do seu fluxo.

Essa é a única certeza que nos une: somos finitos, e o tempo é um mistério que não deciframos. Diante dessa transitoriedade, o que significa viver?

Talvez seja encontrar sentido na espera, transformar o efêmero em eterno. Cada momento é uma centelha de infinito, uma chance de inscrever algo profundo na tapeçaria da existência.

Viva com propósito, não como quem segue um roteiro, mas como quem busca compreender o que pulsa por trás de cada instante. Inspire os outros, não apenas com palavras, mas com a autenticidade de ser quem você é.

Um olhar, um gesto, uma presença podem reacender a chama de quem se sente apagado. Elogie mais, julgue menos. Veja a beleza nas imperfeições, tanto nas dos outros quanto nas suas.

A autocrítica, quando excessiva, é um peso que obscurece a alma; o autoamor, por outro lado, é a luz que a ilumina. Faça um estranho se sentir visto, um "ninguém" se sentir único.

Um sorriso pode ser um portal para a esperança, um lembrete de que, mesmo na fugacidade da vida, há espaço para a conexão humana. Seja a diferença que reverbera, que ecoa além do seu tempo.

Os acontecimentos, com suas alegrias e dores, são os fios que tecem nossa história. Alguns nos elevam, outros nos ferem, mas todos nos ensinam. A vida, em sua sabedoria enigmática, coloca cada evento em seu devido lugar.

O que parece caos hoje pode ser a clareza de amanhã. Releve as ofensas, pois guardar mágoa é carregar um fardo que não lhe pertence. Em vez disso, colecione aprendizados, aqueles que lapidam a alma e a preparam para o que está por vir.

Liberte o rancor, que é apenas uma sombra da dor. Deixe o amor transborda, não como um ato de troca, mas como uma expressão do que você é. Ame, mesmo quem não compreende o amor.

Ame, sem esperar reciprocidade, porque o amor é a força que dá sentido à existência. Acima de tudo, ame a si mesmo. Reconcilie-se com suas falhas, celebre suas vitórias, acolha sua humanidade.

Pois, no fim, é no coração que reside a verdadeira bagagem que levamos. Prepare-se para partir a qualquer momento, pois a fila não revela sua ordem. Quando chegar a hora, suas mãos estarão vazias de bens, mas plenas do que você cultivou na alma.

Não se pode levar riquezas, mas se leva a memória dos instantes em que fez a diferença, em que amou sem reservas, em que viveu com coragem.

Transforme pequenos momentos em monumentos de significado: o sabor de um prato novo, o som de uma risada compartilhada, o silêncio de um instante de paz.

São essas frações de eternidade que constroem uma vida plena. A existência é um mistério, um sopro entre dois silêncios. Não tema o desconhecido do fim, mas abrace o mistério do agora.

Viva cada dia como uma meditação sobre o que é ser humano. Perdoe, porque o perdão liberta. Arrisque, porque o arrependimento nasce da omissão.

Ame, porque o amor é a única força que transcende o tempo. E, quando o trem da vida chamar seu nome, que você possa embarcar com a serenidade de quem deixou um legado de luz, levando consigo apenas o que o coração guardou.

sábado, julho 26, 2025

Improviso



Às vezes, ocorrem encontros, mesmo com pessoas completamente desconhecidas, que despertam nosso interesse de imediato, num instante fugaz, de forma inesperada e imprevisível, antes mesmo que uma única palavra seja trocada.

Esses momentos, tão simples e ao mesmo tempo profundos, parecem carregar uma força misteriosa, como se o destino, por um breve instante, revelasse um vislumbre de algo maior.

Em Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski captura essa experiência com sua habitual sensibilidade para as complexidades da alma humana.

A citação reflete o instante em que Raskólnikov, o protagonista atormentado, cruza olhares com figuras que, embora passageiras em sua jornada, ressoam em seu tumultuado mundo interior.

No contexto da obra, esses encontros não são meros acasos. Eles carregam o peso das tensões psicológicas e morais que permeiam a narrativa. Raskólnikov, imerso em sua luta existencial, encontra nesses instantes um espelho de suas próprias inquietações.

Um olhar trocado com um estranho na rua, por exemplo, pode evocar nele tanto a culpa que o consome quanto a busca por conexão humana em meio à sua alienação.

Dostoiévski, mestre em explorar os abismos da consciência, usa esses momentos para ilustrar como até os eventos mais triviais podem reverberar profundamente em nossas vidas.

Além disso, esses encontros súbitos também ecoam uma ideia universal: a possibilidade de que, em um único olhar, possamos vislumbrar algo essencial sobre o outro ou sobre nós mesmos.

Em Crime e Castigo, esses instantes são muitas vezes ambíguos, carregados de uma tensão entre empatia e desconfiança, refletindo a São Petersburgo caótica e opressiva que serve de pano de fundo para a história.

Assim, Dostoiévski nos convida a refletir sobre a natureza efêmera, mas poderosa, das conexões humanas, que podem surgir e se dissipar em um piscar de olhos, mas deixam marcas indeléveis.

sexta-feira, julho 25, 2025

Não tive tempo

 

Hoje, ao atender o telefone que tocava insistentemente, meu mundo desabou. Entre soluços e uma voz embargada do outro lado da linha, recebi a notícia que nunca imaginei ouvir: meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, aquele que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis, havia sofrido um grave acidente de carro.

Ele faleceu quase instantaneamente. O choque me paralisou. Desliguei o telefone sem dizer muito, como se as palavras tivessem se dissolvido na dor. Caminhei lentamente até meu quarto, meu refúgio, onde o silêncio parecia gritar mais alto que meus pensamentos.

Fechando a porta, as lembranças de nossa amizade inundaram minha mente como um filme em câmera lenta. Voltei à nossa juventude, à faculdade, aos dias em que a vida parecia leve e cheia de possibilidades.

Lembrei das noites em bares, das conversas intermináveis regadas a risadas e cervejas, dos amores não correspondidos que confessávamos entre suspiros, das colas improvisadas para as provas, da cumplicidade que nos unia.

Os sorrisos... ah, como eles vinham fácil naquela época! Cada gargalhada compartilhada era um tijolo na construção de uma amizade que eu julgava inabalável. Lembrei da formatura, um marco agridoce.

A emoção de conquistar o diploma misturava-se à melancolia das despedidas. Nos abraçamos com lágrimas nos olhos, prometendo que a distância não nos separaria, que manteríamos contato, que novos encontros viriam.

Nos olhos dele, vi a promessa sincera de que eu nunca seria esquecido. E, de fato, ele nunca me esqueceu. Ele cumpriu sua parte. Mas eu... eu falhei. Perdi a conta das vezes em que ele me ligou quando eu estava no fundo do poço, com sua voz calorosa trazendo alento.

Ele sempre encontrava tempo para me ouvir, para me encorajar. E eu? Quantas vezes respondi aos e-mails que ele me enviava, cheios de esperança, histórias engraçadas e promessas de um futuro melhor?

Minha caixa de entrada se acumulava com suas mensagens, mas eu as deixava lá, intocadas, porque "não tinha tempo". Sempre tão ocupado, tão preso às minhas prioridades, eu ignorava o que realmente importava.

Lembro do dia em que acordei no hospital após a cirurgia para retirada do apêndice. Foi o rosto preocupado dele que vi ao abrir os olhos, sua presença silenciosa me dando força.

Quando perdi meu pai, foi no ombro dele que chorei até esgotar as lágrimas. Quando meu noivado desmoronou, foi ele quem ouviu minhas lamúrias, pacientemente, sem nunca julgar.

Ele estava lá, sempre. Mas eu... onde estive quando ele precisou de mim? Vasculhei minha mente, tentando lembrar de uma única vez em que peguei o telefone só para dizer o quanto ele era importante, o quanto sua amizade iluminava minha vida.

Não consegui. Eu era um homem ocupado demais. O trabalho, as reuniões, as metas, a correria do dia a dia - tudo parecia mais urgente. Não me dei ao trabalho de enviar um texto simples, uma mensagem de carinho, algo que pudesse alegrar o dia dele. Não tinha tempo.

Agora, com o coração em pedaços, percebo meu egoísmo. Nunca notei que ele estava bebendo mais do que o normal. Achava graça no seu jeito expansivo após alguns copos, no seu riso fácil, na sua energia contagiante.

Para mim, ele era apenas uma ótima companhia, bêbado ou não. Só agora, tarde demais, enxergo os sinais que ignorei. Talvez ele estivesse se sentindo sozinho, perdido, precisando de alguém que o ouvisse como ele sempre me ouviu.

Aquelas mensagens engraçadas que ele deixava na minha secretária eletrônica, as mesmas que deletei sem responder, talvez fossem um pedido de ajuda disfarçado. Elas nunca sairão da minha consciência.

Se eu tivesse saído do meu pedestal egocêntrico, se tivesse dedicado um pouco do meu precioso tempo, talvez ele não tivesse se afogado na bebida. Talvez não tivesse pegado o carro naquela noite, em um estado em que claramente não podia dirigir.

Talvez ele ainda estivesse aqui, com seu sorriso largo e sua energia que iluminava tudo ao redor. Mas eu não vi. Eu não quis ver. E agora, as perguntas que martelam minha mente - “Por que ele estava bebendo tanto?

Por que não me contou o que sentia? Como eu não percebi?” - jamais terão resposta. O tempo, que sempre usei como desculpa, me roubou a chance de fazer diferente.

Com o coração pesado, escolho uma roupa preta, que reflete o luto que carrego. Ligo para meu chefe e aviso que não irei trabalhar hoje. Talvez nem amanhã, nem depois.

Preciso desse tempo para chorar, para homenagear com meu pranto aquele que foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. E, ironicamente, descubro que, para acompanhar seu corpo sem vida, para me despedir dele em um funeral silencioso, eu tenho tempo.

Essa dor me ensinou uma lição amarga: o tempo é implacável. Ele não espera, não perdoa, não volta atrás. Se você não tomar as rédeas da sua vida, ele te engole e te escraviza.

Hoje, trabalho com o mesmo empenho de sempre, mas apenas durante o expediente. Fora dele, sou um ser humano, não apenas “o profissional”. Nunca mais deixei uma mensagem na minha secretária eletrônica sem resposta, nem que seja com um simples “oi”.

Encho a caixa de entrada dos meus amigos com mensagens de carinho, histórias engraçadas, palavras de esperança. Digo às pessoas o quanto elas são importantes para mim, porque aprendi que essas palavras não podem esperar.

Abraço meus irmãos, meus pais, meus amigos. Esses laços, tão frágeis e tão preciosos, podem se desfazer em um instante. Distribuo sorrisos e gestos de afeto a todos que cruzam meu caminho - afinal, por que guardá-los?

A vida é curta, e o tempo é um mestre cruel que nos ensina, às vezes tarde demais, o que realmente importa. Se você chegou até aqui, encontrou um tempinho para ler este texto.

Agora, peço que reserve mais um minuto para fazer algo simples, mas poderoso: mande uma mensagem para um amigo, diga a um familiar que você o ama, mostre às pessoas queridas que elas são importantes.

Não deixe para amanhã, porque o amanhã pode não chegar. Faça alguém sorrir hoje, amanhã e sempre. A vida é feita de pequenos gestos, e são eles que constroem memórias que nunca serão apagadas.

quinta-feira, julho 24, 2025

Complexidade




Um homem toca acordeom para um casal apaixonado que se beija. De dentro do ônibus, alguém montado em sua solidão, observa. E talvez, mais solitário ainda, alguém que não está na foto e registra. 

Melodia de um Acordeom: O Contraste da Solidão e do Amor

Em uma praça banhada pela luz suave do entardecer, um homem de chapéu surrado dedilha um acordeom. Suas mãos, calejadas pelo tempo, extraem uma melodia agridoce que dança no ar, como se contasse histórias de amores antigos e saudades guardadas.

À sua frente, um casal apaixonado se entrega a um beijo, alheio ao mundo. Seus corpos entrelaçados, seus sorrisos entrecortados, parecem existir em uma bolha de felicidade, onde só há espaço para eles e a música que os embala.

De dentro de um ônibus estacionado, alguém observa. A janela embaçada reflete um rosto cansado, talvez de uma longa jornada ou de um dia que não trouxe respostas.

Montado em sua solidão, esse passageiro contempla o casal com um misto de inveja e melancolia. Seus olhos capturam a cena como quem guarda um quadro que nunca poderá pintar.

Ele está só, mas não é apenas a ausência de companhia que pesa - é o vazio que carrega no peito, um silêncio que nenhuma melodia pode preencher. E, mais solitário ainda, há alguém que não aparece na cena.

Um fotógrafo, talvez, ou apenas um transeunte com um celular na mão, que registra o momento. Ele clica, congela o instante, mas não faz parte dele. Seu papel é observar, eternizar, mas não pertencer.

A lente capta o amor do casal, a dedicação do acordeonista, a introspecção do passageiro no ônibus, mas não revela o que se passa em seu próprio coração. Ele é o narrador invisível, aquele que vê beleza e dor, mas permanece à margem, carregando sua própria solidão.

Solidão: Um Estado, não um Destino

Solidão não é sinônimo de estar desacompanhado. Muitas pessoas atravessam momentos de solidão, seja por escolha, seja por circunstâncias que a vida impõe.

Há quem encontre na solidão refúgio, um espaço para se reconectar consigo mesmo, para ouvir os próprios pensamentos sem o ruído do mundo. Estar sozinho pode ser um alívio, uma pausa para respirar, uma oportunidade de redescobrir prazeres simples - um livro, uma caminhada, o som de um acordeom que ecoa em uma praça.

Quando escolhida e controlada, a solidão pode ser um ato de liberdade, um momento de introspecção que fortalece. Mas há outra face da solidão, aquela que se impõe sem convite.

É o que sente o passageiro no ônibus, preso em seus pensamentos enquanto o mundo lá fora celebra o amor. É o que talvez sinta o fotógrafo, que registra a felicidade alheia, mas não encontra a sua própria.

Essa solidão não é uma escolha, mas um peso. Ela sussurra dúvidas, revive memórias de conexões perdidas, e faz com que até uma praça vibrante pareça um lugar de silêncios.

O Contexto da Cena: Um Instante de Vida

A praça, com seus bancos gastos e árvores que testemunham gerações, é um microcosmo da vida. O acordeonista, com sua música, não toca apenas para o casal apaixonado. Ele toca para si mesmo, para os passantes, para o vento que leva suas notas.

Talvez ele também carregue sua solidão, disfarçada na melodia que oferece ao mundo. O casal, absorto em seu amor, representa a efemeridade da felicidade - um momento perfeito que, como a música, logo se dissipará.

O passageiro no ônibus, com seus pensamentos distantes, talvez esteja voltando de um dia de trabalho, ou talvez tenha deixado alguém para trás. E o fotógrafo, aquele que registra, pode ser um artista em busca de beleza, ou apenas alguém que, ao capturar a vida, tenta encontrar sentido na sua própria.

Essa cena, tão simples e ao mesmo tempo tão cheia de camadas, reflete a complexidade das emoções humanas. Cada personagem, à sua maneira, está conectado pela presença do outro, mesmo que não se conheçam.

O acordeom une o casal em sua dança de amor, o passageiro em sua introspecção, o fotógrafo em seu desejo de eternizar. E, no fundo, todos eles compartilham algo universal: a busca por conexão, seja com outro, consigo mesmo ou com o mundo.

Uma Reflexão Sobre o Estar Só

A solidão, como a música do acordeom, pode ser bela ou dolorosa, dependendo de como a vivemos. Para o casal, a melodia é um pano de fundo para o amor; para o passageiro, é um lembrete do que falta; para o fotógrafo, é uma inspiração que ele captura, mas não possui.

Estar sozinho não é o mesmo que estar vazio, mas às vezes os dois se confundem. A verdadeira solidão, aquela que escolhemos, pode nos ensinar a ouvir nossa própria voz, a encontrar equilíbrio no caos.

Mas a solidão imposta, aquela que nos pega desprevenidos, exige coragem para ser enfrentada. Talvez o passageiro no ônibus encontre, um dia, sua própria melodia.

Talvez o fotógrafo, ao rever a foto, perceba que também faz parte da história que registrou. E talvez o casal, anos depois, olhe para trás e se lembre daquele beijo sob o som do acordeom como um dos instantes que definiu suas vidas.

A solidão e o amor, assim como a música, são passageiros - mas deixam marcas que carregamos para sempre.