Venda de Esposas na Inglaterra - Na
Inglaterra, a venda de esposas era uma maneira de acabar com um casamento insatisfatório,
normalmente de maneira consensual. Esse costume provavelmente se originou no
final do século XVII, época em que o divórcio era uma impossibilidade
prática para todos, exceto os mais ricos.
Na
visão de um casal que desejava separar-se de maneira moralmente aceitável, a
venda apresentava-se como um processo vexatório, mas que permitia tornar legítimo,
e, portanto, socialmente satisfatório, o rearranjo da sua relação conjugal.
Em sua forma
típica esse costume assumiu uma forma ritualizada, que buscava assegurar a
pretensa legalidade das transações. A venda era anunciada publicamente, e em
seguida o marido levava sua esposa por um cabresto até o local onde ela
ocorreria, normalmente um mercado.
Ali,
a esposa era leiloada diante de espectadores, e, como sinal de realização
do negócio, dinheiro era trocado e a esposa era entregue pelo cabresto ao
comprador. As vendas também podiam incluir os filhos, e por vezes os valores em
dinheiro eram completados com outros bens, notadamente bebidas alcoólicas e
animais.
O
valor da venda não parece ter sido a principal consideração durante as vendas,
mas existem registros de maridos e outros interessados comprando e revendendo
esposas em busca de lucro.
Embora relatos
da época buscassem salientar aspectos cômicos das vendas, a situação era
inerentemente humilhante e podia ser degradante para os envolvidos, sobretudo a
esposa.
Contudo,
muitos relatos contemporâneos sugerem a independência e a vitalidade sexual das
mulheres, e afirmam que o consentimento da esposa era essencial para o sucesso
de cada transação.
Embora
esposas tenham-se negado a serem vendidas durante o século XIX, não
existem registros de resistência à venda no século XVIII. Com efeito, são
conhecidos casos de esposas que insistiram em ser vendidas, que foram vendidas
para seus familiares, e que arranjaram suas próprias vendas a agentes
contratados.
A
venda de esposas parece ter sido difundida por toda a Inglaterra, e cerca de
quatrocentas ocorrências foram documentadas, um número pequeno em comparação
com os casos de abandono conjugal do mesmo período.
Embora o costume
não tivesse fundamento legal e, notadamente a partir de meados do século
XIX, frequentemente resultasse em processos judiciais, em geral a atitude das
autoridades públicas e religiosas era ambígua em relação a ele.
Pelo
menos um magistrado declarou não acreditar que tivesse o direito de impedir a
venda de esposas, e houve casos de clérigos e comissários das Poor Laws forçando
maridos a venderem suas esposas como forma de evitar seu envio para workhouses.
A
crescente exposição de vendas de esposas nos jornais gradualmente aumentou a
oposição a esse costume e, como consequência, o número de vendas documentadas
diminuiu a partir da segunda metade do século XIX.
A
prática persistiu até às primeiras décadas do século XX, quando vendas
menos públicas ainda ocorriam ocasionalmente, e o último caso de que se tem
notícia foi reportado em Leeds, em 1926.