Hiroo
Onoda foi um oficial de inteligência do Exército Imperial Japonês que ganhou
notoriedade por sua extraordinária história de resistência após o fim da
Segunda Guerra Mundial.
Nascido
em 19 de março de 1922, na vila de Kamekawa, província de Wakayama, Japão,
Onoda tornou-se um símbolo de lealdade, dever e, para alguns, teimosia, ao
continuar lutando na ilha de Lubang, nas Filipinas, por quase três décadas após
a rendição do Japão em 1945.
Contexto Histórico e Missão
Em
1944, com a guerra no Pacífico se intensificando, Onoda, então um jovem tenente
de 22 anos, foi enviado à ilha de Lubang com ordens claras: organizar táticas
de guerrilha contra as forças aliadas e nunca se render.
Ele
fazia parte de uma unidade especial de inteligência, treinada para sobreviver
em condições adversas e conduzir operações de sabotagem. Sua missão incluía
destruir pistas de pouso e instalações portuárias para dificultar o avanço
inimigo, além de coletar informações estratégicas.
No
entanto, as instruções mais marcantes que recebeu foram de seu comandante,
Major Yoshimi Taniguchi: ele deveria resistir a qualquer custo, mesmo que isso
significasse lutar sozinho, e jamais cometer suicídio ou se entregar.
Em
1945, quando o Japão se rendeu após os bombardeios atômicos de Hiroshima e
Nagasaki, Onoda e seus companheiros, isolados na selva de Lubang, não receberam
a notícia oficialmente.
Folhetos
anunciando a rendição foram lançados na ilha pelas forças aliadas, mas Onoda,
desconfiado, acreditava que eram propaganda inimiga para enganá-lo. Sua
formação militar e o rígido código de honra japonês, conhecido como bushido,
reforçavam sua determinação de continuar a missão.
Vida na Selva
Por
quase 30 anos, Onoda viveu escondido nas densas florestas de Lubang,
enfrentando condições extremas. Ele sobreviveu com uma dieta improvisada, que
incluía bananas, cocos, arroz roubado de fazendas locais e, ocasionalmente,
carne de gado abatido.
Onoda
liderava um pequeno grupo de soldados, mas, ao longo dos anos, seus
companheiros foram mortos ou se renderam. O último deles, o cabo Kinshichi
Kozuka, foi morto por forças filipinas em 1972, deixando Onoda sozinho.
Durante
esse período, Onoda realizou ataques esporádicos contra moradores locais e
forças policiais, acreditando estar em guerra. Esses incidentes causaram a
morte de cerca de 30 pessoas e ferimentos em outras, o que levou as autoridades
filipinas a considerá-lo uma ameaça.
Apesar
disso, Onoda via suas ações como parte de sua missão militar, sem saber que o
conflito mundial havia terminado.
A Rendição
A
história de Onoda começou a chamar atenção internacional nos anos 1970, quando
rumores sobre um "soldado fantasma" japonês ainda ativo em Lubang
chegaram ao Japão. Em 1974, um jovem aventureiro japonês, Norio Suzuki, decidiu
procurar Onoda.
Após
encontrá-lo na selva, Suzuki ganhou sua confiança, mas Onoda recusou-se a
abandonar sua missão sem ordens diretas de um superior. Suzuki então localizou
o antigo comandante de Onoda, Major Taniguchi, que havia se tornado livreiro
após a guerra.
Em 9 de
março de 1974, Taniguchi viajou a Lubang e, em uma cerimônia formal, ordenou
que Onoda depusesse as armas. Aos 52 anos, Onoda finalmente se rendeu,
entregando sua espada de samurai, seu fuzil Arisaka Type 99 ainda funcional,
munições e granadas.
A
rendição de Onoda foi um evento midiático global. Ele saiu da selva vestindo
seu uniforme militar esfarrapado, ainda em bom estado, e foi recebido com uma
mistura de admiração e perplexidade.
Nas
Filipinas, ele enfrentava acusações pelos ataques realizados, mas o governo
filipino, sob pressão internacional e considerando as circunstâncias,
concedeu-lhe perdão.
Vida Após a Guerra
Ao
retornar ao Japão, Onoda enfrentou dificuldades para se adaptar a uma sociedade
que havia mudado drasticamente desde a década de 1940. O Japão pós-guerra era
uma nação modernizada, com valores diferentes dos da era imperial em que ele
fora criado.
Sentindo-se
deslocado, Onoda decidiu emigrar para o Brasil em 1975, onde se estabeleceu
como fazendeiro na colônia japonesa de Terenos, no Mato Grosso do Sul.
Lá, ele
se casou com Machie Onoda, uma professora japonesa, e viveu por cerca de uma
década, criando gado e integrando-se à comunidade nipo-brasileira.
Em
1984, Onoda retornou ao Japão e fundou a "Escola da Natureza Onoda",
um acampamento educativo para jovens, onde ensinava técnicas de sobrevivência e
valores como resiliência e autodisciplina, inspirado em suas experiências na
selva.
Ele
também publicou um livro de memórias, No Surrender: My Thirty-Year War (Sem
Rendição: Minha Guerra de Trinta Anos), que detalha sua vida em Lubang e se
tornou um best-seller.
Legado e Reflexões
Hiroo
Onoda faleceu em 16 de janeiro de 2014, aos 91 anos, em Tóquio. Sua história é
frequentemente vista como um exemplo extremo de lealdade e obediência militar,
mas também levanta questões sobre os limites do dever e o impacto do fanatismo.
Para
alguns, Onoda é um herói que personifica a determinação; para outros, sua
relutância em aceitar a realidade reflete uma tragédia pessoal e os horrores da
guerra, que o mantiveram preso a um conflito inexistente por quase 30 anos.
Sua vida
também destaca o impacto cultural do bushido e do militarismo japonês da era
imperial, que valorizavam a honra acima da própria vida. Além disso, a história
de Onoda ressoa como um lembrete dos desafios enfrentados por soldados em zonas
de guerra isoladas, onde a falta de comunicação pode perpetuar conflitos
pessoais muito após o fim oficial das hostilidades.
Curiosidades e Impacto Cultural
Impacto
na cultura popular: A história de Onoda inspirou livros, documentários e até
referências em filmes e séries. Sua vida é frequentemente citada em discussões
sobre lealdade, sobrevivência e os efeitos psicológicos da guerra.
Interação
com moradores locais: Durante seus anos em Lubang, Onoda e seus homens foram
vistos como figuras quase míticas pelos moradores, que os chamavam de
"homens da montanha".
Apesar
dos conflitos, alguns relatos indicam que Onoda ocasionalmente trocava itens
com os locais, mantendo uma relação ambígua com a população.
Reconhecimento:
Embora nunca tenha recebido condecorações formais do governo japonês, Onoda foi
admirado por muitos no Japão como um símbolo de perseverança. No entanto, sua
história também gerou críticas, especialmente entre aqueles que viam sua
resistência como desnecessária e prejudicial.
Hiroo
Onoda permanece uma figura fascinante, cuja vida reflete tanto a força do
espírito humano quanto as complexidades de um mundo marcado por guerras e suas
consequências duradouras.





















