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quarta-feira, agosto 28, 2024

Auschwitz I


Auschwitz I: O Campo Central do Horror Nazista

Auschwitz I, localizado em Oświęcim, na Polônia ocupada, foi o campo de concentração original e o coração administrativo do complexo de Auschwitz, um dos maiores símbolos do Holocausto.

Construído em 1940, o local originalmente abrigava quartéis de artilharia do exército polonês, compostos por 16 edifícios térreos de alvenaria. Com o avanço da repressão nazista e a superlotação de outros campos, a SS (Schutzstaffel) buscava um novo espaço para internar prisioneiros.

O Obergruppenfuhrer Erich von dem Bach-Zelewski, líder da polícia da Silésia, identificou o potencial da área. Richard Glücks, chefe da Inspetoria dos Campos de Concentração, enviou Walter Eisfeld, ex-comandante de Sachsenhausen, para avaliar o local.

Após a aprovação, Heinrich Himmler, líder da SS, ordenou a construção do campo, que foi supervisionada por Rudolf Höss, seu primeiro comandante, com Josef Kramer como subcomandante.

Expulsão e Preparação do Terreno

Para viabilizar o projeto, a SS despejou cerca de 1.200 moradores locais que viviam em barracas próximas aos quartéis, criando uma "área de interesse" de 40 km² ao redor do campo.

Entre 1940 e 1941, aproximadamente 17 mil poloneses e judeus dos distritos ocidentais de Oświęcim e vilas próximas, como Broszkowice, Babice, Brzezinka, Rajsko, Plawy, Harmeze, Bór e Budy, foram forçados a abandonar suas casas.

Essas expulsões visavam estabelecer uma Zona de Exclusão, isolando o campo do mundo exterior e facilitando as operações genocidas da SS. Muitas das residências vagas foram ocupadas por alemães étnicos (Volksdeutsche) trazidos de fora do Reich, enquanto os judeus despejados eram enviados para guetos superlotados.

Cerca de 300 judeus de Oświęcim foram requisitados para trabalhar nas fundações do campo, sob condições brutais. A construção foi marcada por violência e exploração, com os trabalhadores submetidos a longas jornadas, alimentação insuficiente e abusos constantes.

Primeiros Prisioneiros e Expansão

Em maio de 1940, os primeiros prisioneiros chegaram: 30 criminosos alemães transferidos de Sachsenhausen, designados para atuar como kapos - supervisores privilegiados que controlavam outros internos em troca de benefícios.

Em 14 de junho de 1940, o primeiro transporte em massa, composto por 728 prisioneiros poloneses (incluindo 20 judeus), chegou da prisão de Tarnów. Esses prisioneiros, em sua maioria dissidentes, intelectuais e membros da resistência polonesa, foram alojados temporariamente no edifício da antiga Polish Tobacco Monopoly, até que o campo estivesse concluído.

A população de Auschwitz I cresceu rapidamente. Em março de 1941, o campo já abrigava 10,9 mil prisioneiros, majoritariamente poloneses. A partir de 1941, prisioneiros de guerra soviéticos começaram a chegar, enfrentando condições ainda mais desumanas.

Dos primeiros 10 mil soldados soviéticos internados, apenas algumas centenas sobreviveram aos primeiros cinco meses, devido à fome, doenças e execuções sumárias.

Organização e Condições de Vida

Os prisioneiros eram divididos por categorias, identificadas por triângulos coloridos costurados em suas roupas: verde para criminosos comuns, vermelho para presos políticos, amarelo para judeus e preto para "associação" (como ciganos ou testemunhas de Jeová).

Judeus e prisioneiros soviéticos eram sistematicamente tratados com maior crueldade, enfrentando abusos constantes e taxas de mortalidade extremamente altas.

Todos os prisioneiros eram obrigados a realizar trabalhos forçados, principalmente em fábricas de armamentos associadas ao complexo, como a IG Farben.

As condições de trabalho eram exaustivas, com jornadas de 12 a 14 horas, alimentação escassa (geralmente sopa aguada e um pedaço de pão) e falta de higiene, o que resultava em doenças como tifo e disenteria.

Aos domingos, o trabalho era suspenso, mas os prisioneiros eram submetidos a longas sessões de limpeza e inspeção, frequentemente acompanhadas de violência.

Os kapos, muitas vezes criminosos alemães, desempenhavam um papel ambíguo. Embora alguns tenham cometido atrocidades, outros agiam sob coação, temendo perder seus privilégios ou serem mortos. No pós-guerra, apenas dois kapos de Auschwitz foram julgados por seus atos individuais, refletindo a complexidade de sua posição no sistema.

O Bloco 11: O Epicentro da Crueldade

O Bloco 11, conhecido como "a prisão dentro da prisão", era reservado para punições severas. Prisioneiros acusados de quebrar regras, tentar fugas ou sabotagem enfrentavam torturas brutais.

As "celas verticais", com apenas 1,5 m², confinavam quatro pessoas simultaneamente, forçando-as a permanecer em pé durante noites seguidas antes de retornar ao trabalho forçado.

No porão, as "celas da fome" condenavam os internos à morte por inanição, enquanto as "celas escuras", com ventilação mínima e portas sólidas, causavam sufocamento gradual. Guardas da SS frequentemente aceleravam o processo acendendo velas para consumir o oxigênio mais rapidamente.

Outra forma de tortura era a suspensão prolongada, com os prisioneiros pendurados pelas mãos amarradas às costas, o que frequentemente resultava em deslocamento das clavículas e danos permanentes.

Essas punições não tinham apenas o objetivo de disciplinar, mas também de desumanizar e aterrorizar a população do campo.

O Primeiro Uso do Zyklon-B

Em 3 de setembro de 1941, o subcomandante Karl Fritzsch conduziu um experimento macabro no Bloco 11: 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 150 poloneses foram trancados em um porão e gaseificados com Zyklon-B, um pesticida à base de cianeto.

O teste foi considerado "bem-sucedido" pela SS, marcando o início do uso sistemático do gás como método de extermínio em massa. Esse evento foi um precursor das câmaras de gás em Auschwitz-Birkenau, onde milhões seriam assassinados.

Experimentos Médicos e Outras Atrocidades

Além das execuções, Auschwitz I foi palco de experimentos médicos desumanos conduzidos por médicos da SS, como Josef Mengele (que operava principalmente em Birkenau, mas também influenciava Auschwitz I).

Prisioneiros, especialmente judeus e ciganos, eram submetidos a testes de esterilização, infecções deliberadas e cirurgias sem anestesia, sob o pretexto de "pesquisa científica". Esses experimentos causaram sofrimento indizível e altas taxas de mortalidade.

Resistência e Humanidade em Meio ao Horror

Apesar das condições desumanas, pequenos atos de resistência ocorriam. Prisioneiros poloneses, em particular, formaram redes clandestinas para contrabandear informações, alimentos e medicamentos.

Alguns, como Witold Pilecki, entraram voluntariamente em Auschwitz para documentar as atrocidades e organizar a resistência interna. Essas ações, embora arriscadas, demonstravam a resiliência humana em face do terror.

Legado de Auschwitz I

Auschwitz I foi o ponto de partida para o genocídio sistemático que se expandiu em Auschwitz-Birkenau e Monowitz. Estima-se que cerca de 70 mil pessoas, principalmente poloneses e prisioneiros soviéticos, morreram em Auschwitz I, embora o número total de vítimas do complexo (incluindo Birkenau) ultrapasse 1,1 milhão, a maioria judeus.

Após a libertação pelo Exército Vermelho em 27 de janeiro de 1945, Auschwitz tornou-se um símbolo universal do Holocausto e da capacidade humana para a crueldade. Hoje, o campo é um museu e memorial, preservando a memória das vítimas e servindo como alerta contra o ódio e a intolerância.

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