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domingo, setembro 15, 2024

Cosmo Duff Gordon



Sir Cosmo Duff Gordon: A Vida, o Titanic e a Polêmica

Sir Cosmo Edmund Duff Gordon, 5º Baronete de Halkin (22 de julho de 1862 - 20 de abril de 1931), foi uma figura proeminente da aristocracia britânica, conhecido não apenas por sua herança como proprietário de terras, mas também por sua carreira como esgrimista olímpico e por sua controversa participação na tragédia do RMS Titanic em 1912.

Ao lado de sua esposa, a renomada estilista Lucy Christiana Duff Gordon, conhecida profissionalmente como "Lucile", ele viveu uma vida marcada por privilégios, conquistas e um escândalo que manchou sua reputação para sempre.

Juventude e Carreira

Nascido em Londres, Cosmo era filho do honorável Cosmo Lewis Duff Gordon e Anna Maria Antrobus. Educado no prestigiado Eton College, destacou-se desde jovem no esporte, particularmente na esgrima, uma paixão que o levaria a conquistas notáveis.

Em 1896, herdou o título de 5º Baronete de Halkin, uma honraria concedida a seu tio-avô em 1813, em reconhecimento por sua bravura durante a Guerra Peninsular. Esse título trouxe consigo vastas propriedades e responsabilidades, consolidando sua posição na elite britânica.

Em 1900, Cosmo casou-se com Lucy Christiana Wallace, filha de Douglas Sutherland. Lucy, sob o pseudônimo "Lucile", era uma estilista de alta-costura de renome internacional, fundadora de uma maison que revolucionou a moda com designs inovadores e elegantes.

Cosmo, além de apoiar os empreendimentos de sua esposa, também se envolveu nos negócios da empresa, demonstrando um interesse ativo no mundo da moda.

Como esgrimista, Cosmo alcançou o auge de sua carreira esportiva nos Jogos Olímpicos Intercalados de 1906, em Atenas, onde integrou a equipe britânica que conquistou a medalha de prata.

Dois anos depois, em 1908, participou do comitê de esgrima dos Jogos Olímpicos de Verão, realizados em Londres, reforçando sua reputação como um atleta respeitado.

A Viagem no Titanic

Em abril de 1912, Sir Cosmo e Lady Duff Gordon embarcaram na viagem inaugural do RMS Titanic, o maior e mais luxuoso transatlântico da época, em Cherburgo, França. Acompanhados pela secretária de Lucy, Laura Mabel Francatelli, ocuparam camarotes de primeira classe (A-16 para Cosmo e A-20 para Lucy), com passagens que custaram £39 12s - equivalente a cerca de £3.668 ou €4.450 em valores atuais.

A viagem prometia ser um marco de opulência e modernidade, mas terminaria em uma das maiores tragédias marítimas da história. Na noite de 14 de abril de 1912, o Titanic colidiu com um iceberg no Atlântico Norte.

Cosmo, que dormia em seu camarote, foi acordado por Lucy, que sentiu o impacto da colisão. Seguindo as ordens do capitão Edward J. Smith, o casal e a secretária dirigiram-se ao convés, onde o caos começava a se instalar.

Sob a supervisão do Primeiro Oficial William McMaster Murdoch, o bote salva-vidas número 1 foi preparado para lançamento. Cosmo perguntou a Murdoch se ele, sua esposa e a secretária poderiam embarcar, ao que o oficial consentiu.

Às 1h10, o bote foi baixado ao mar com apenas 12 ocupantes - sete tripulantes e cinco passageiros, incluindo os Duff Gordons -, apesar de sua capacidade para 40 pessoas.

A Polêmica do Bote Salva-Vidas

O que aconteceu a bordo do bote número 1 tornou-se o epicentro de uma controvérsia que perseguiu Cosmo pelo resto da vida. Após o Titanic afundar, deixando milhares de pessoas nas águas geladas do Atlântico, o fogueiro Charles Hendrickson sugeriu retornar ao local do naufrágio para resgatar sobreviventes.

Lady Duff Gordon, temendo que o bote pudesse ser inundado por náufragos desesperados, opôs-se à ideia, e Cosmo apoiou sua decisão. Os outros ocupantes, incluindo os tripulantes, concordaram que voltar seria arriscado.

Assim, o bote remou em direção a uma luz distante, que mais tarde se revelou ser o RMS Carpathia, o navio que resgatou os sobreviventes do Titanic. Enquanto remavam, o fogueiro Robert Pusey lamentou a perda de seus pertences e o fato de que a White Star Line, proprietária do Titanic, não pagaria seu salário após o naufrágio.

Em um gesto que seria amplamente mal interpretado, Cosmo prometeu a cada tripulante £5 (cerca de £460 ou €560 em valores atuais) assim que chegassem ao Carpathia.

Ele cumpriu a promessa, entregando o dinheiro aos homens, mas o ato foi visto pela imprensa e pela opinião pública como uma tentativa de suborno para garantir sua própria segurança ou para evitar que o bote retornasse ao local do naufrágio.

Repercussões e Inquérito

A história do bote número 1 rapidamente ganhou as manchetes. Jornais da época, especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, retrataram Cosmo como um aristocrata covarde que usou sua riqueza e influência para escapar do Titanic enquanto mulheres e crianças pereciam.

A imprensa sensacionalista sugeriu que ele havia subornado os tripulantes para garantir um lugar no bote e evitar resgates, uma acusação que alimentou a indignação pública.

Em resposta às acusações, Cosmo e Lucy foram chamados a testemunhar na Comissão Britânica de Inquérito sobre o Naufrágio do Titanic, presidida pelo Visconde Mersey. Durante o inquérito, Cosmo defendeu-se vigorosamente, afirmando que não havia dado ordens para que o bote não retornasse e que a oferta de £5 foi um gesto de compaixão pelos tripulantes que haviam perdido tudo.

A comissão concluiu que não havia evidências de suborno ou conduta criminosa, mas a absolvição legal não foi suficiente para restaurar a reputação dos Duff Gordons.

A sociedade da época, movida por valores de cavalheirismo e sacrifício, via com desconfiança o fato de um homem de sua posição ter sobrevivido em um bote com tanto espaço vazio.

Contexto Histórico e Social

A polêmica envolvendo Sir Cosmo reflete o contexto social da época. No início do século XX, a sociedade britânica valorizava ideais de honra e dever, especialmente entre a aristocracia.

O lema "mulheres e crianças primeiro", embora não fosse uma regra formal, era amplamente esperado, e homens que sobreviveram ao Titanic frequentemente enfrentaram escrutínio.

A imprensa, alimentada pelo frenesi público, amplificou histórias que reforçavam estereótipos de classe, retratando Cosmo como um símbolo de privilégio egoísta.

Além disso, a tragédia do Titanic expôs falhas sistêmicas na segurança marítima, como a insuficiência de botes salva-vidas e a falta de treinamento adequado para a tripulação.

O bote número 1, conhecido como o "bote dos milionários" devido aos seus poucos e abastados ocupantes, tornou-se um símbolo dessas desigualdades, intensificando as críticas aos Duff Gordons.

Vida Após o Titanic

Após o naufrágio, Cosmo e Lucy tentaram retomar suas vidas, mas o estigma da tragédia os perseguiu. Lucy continuou a liderar sua maison de moda, que permaneceu bem-sucedida, mas o casal enfrentou um declínio em sua posição social.

Cosmo, em particular, retirou-se gradualmente da vida pública, afetado pela controvérsia. Ele faleceu em 20 de abril de 1931, de causas naturais, em Londres, aos 68 anos.

Foi sepultado no Brookwood Cemetery, em Surrey, deixando um legado complexo, marcado por suas conquistas esportivas e empresariais, mas ofuscado pela tragédia do Titanic.

Legado

Sir Cosmo Duff Gordon permanece uma figura controversa. Para alguns, ele foi um homem injustamente vilipendiado, vítima de uma imprensa sensacionalista e de expectativas sociais rígidas.

Para outros, sua decisão de não retornar ao local do naufrágio e a oferta de dinheiro aos tripulantes simbolizam uma falha moral em um momento de crise.

A história do bote número 1 continua a ser debatida por historiadores e entusiastas do Titanic, servindo como um lembrete das complexidades humanas diante de uma tragédia sem precedentes.

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