A Falácia do Livre Arbítrio - Os crentes pressupõem que
Deus criou um universo perfeito e que nós, suas criaturas, também fomos criados
perfeitos, mas que, usando de nosso livre arbítrio, e sabendo das
consequências, decidimos pecar.
Como castigo, Deus nos expulsou do Paraíso. Entretanto,
em seu infinito amor, enviou-nos, seu próprio filho para ser sacrificado por
nós e expiar nosso pecado, salvando-nos da morte.
Estas ideias apresentam uma série de
falhas, que os crentes se obstinam em ignorar, sempre repetindo que Deus é
perfeito e o erro foi nosso.
1. Adão e Eva não cometeram um pecado que
justificasse tamanha punição. Se, como diz a Bíblia, eram como crianças que não
conheciam o bem e o mal, também não tinham a consciência de que estavam fazendo
algo tão errado.
Insistem os crentes em que Deus os avisou
claramente. Sim, mas criaturas sem maldade como eles não tinham como perceber
que estavam sendo enganadas pela serpente, já que a malícia e a mentira eram
conceitos que eles não compreendiam.
Quando muito, ao ouvi-la, concluiriam que não
tinham entendido direito as palavras de Deus. E a verdade é que foi Deus, e não
a serpente, que mentiu sobre os frutos da árvore do Bem e do Mal.
Podemos perfeitamente considerar que Deus preparou
uma armadilha para Adão e Eva. Um pai amoroso faria de tudo para proteger seus
filhos e jamais criaria perigos propositalmente. Ainda mais um pai onisciente,
que já sabia qual seria o resultado.
2. Ainda que aceitemos que Adão e Eva
mereceram o castigo, este deveria atingir apenas a eles, não a seus descendentes,
que deveriam ter continuado no Paraíso. Os filhos não devem pagar pelos pecados
dos pais.
3. Se Deus é onisciente, ele sabia de tudo o
que aconteceria no universo que ele ainda iria criar.
Ele tinha a opção de criar infinitos universos
diferentes, cada um com infinitas opções de acontecimentos diferentes, mas
escolheu criar este, deste jeito, com estas pessoas vivendo estas vidas.
Ao se decidir por esta opção, selou nosso destino.
Todas as "nossas" decisões já foram tomadas por ele.
Não temos como ser
diferentes, ou estaríamos surpreendendo Deus, o que é impossível.
Não temos como fazer diferente do que Deus já sabe
que vamos fazer.
Onisciência e livre arbítrio são incompatíveis. A
onisciência cristaliza o futuro.
4. Deus não perguntou se queríamos nascer. O
livre arbítrio, ainda que existisse, já estaria limitado pelas condições em que
nascemos: um corpo limitado em sua capacidade e duração; uma mente e uma
percepção das coisas limitadas; um local de nascimento, cultura,
características físicas e uma família que não escolhemos; uma educação e as
circunstâncias de nossa infância, que definem aquilo que somos como adultos
arbitrários.
Quando nos damos conta das coisas, já estamos numa
arena, obrigados a participar de um jogo no qual não pedimos para entrar, do
qual não podemos sair, com regras impostas, e que pode resultar num castigo
eterno se falharmos.
5. Deus só nos deu 2 opções: obedecer às suas
regras arbitrárias ou sofrer eternamente. Não são regras "naturais",
como dizem os crentes. Não são "provas do amor de Deus". São
imposições. Não somos obrigados a amar a Deus ou gostar das opções.
Não somos nós que escolhemos "de livre e
espontânea vontade", renunciar ao "amor" de Deus e ir para o
inferno.
Deveríamos ter o direito de escolher nossas próprias
opções, diferentes das duas que Deus nos impõe, sem sermos castigados,
inclusive a de nem nascer.
Aí sim, poderíamos falar de livre arbítrio.
6. Se Deus nos criou
perfeitos, então não poderíamos ter pecado, com ou sem livre arbítrio, ou não
seríamos perfeitos. Seres perfeitos não decidem se tornar imperfeitos. Se Deus
decidiu nos criar imperfeitos, por alguma razão, então não podemos ser
condenados por falhas que não escolhemos ter.
Um ente perfeito só deveria criar a perfeição, mas:
"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a
paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas" (Isaías
45:7).
"Não é da boca do Altíssimo que saem os males
e a felicidade?" (Lam. 3:38).
"Dei-lhes então estatutos que não eram bons e
normas pelas quais não alcançariam a vida. Contaminei-os com as suas
oferendas... a fim de confundi-los" (Ezeq. 20:25-26)
Fernando Silva