Seu
nome completo é Gibran Khalil Gibran. Assim assinava em árabe. Em inglês,
preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada de Khalil Gibran. É mais
comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.
1883
Nasceu
em 6 de dezembro, de pais pobres, em Bicharre, na montanha do Líbano, a uma
pequena distância dos Cedros milenares. Tinha oito anos quando, um dia, um
vendaval passa por sua cidade. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria
e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos.
Quando a
mãe, apavorada, o alcança e repreende, ele lhe responde com todo ardor de suas
paixões nascentes: “Mas, mamãe, eu gosto das tempestades. Gosto delas.
Gosto!” (Seu melhor livro em árabe será intitulado
Temporais).
1884
Emigra
para os Estados Unidos, com a mãe, o irmão Pedro e as duas irmãs, Mariana e
Sultane. O pai permanece em Bicharre.
1898
– 1902
Volta
ao Líbano para completar seus estudos árabes. Matricula-se no Colégio da
Sabedoria, em Beirute. Ao diretor, que procurava acalmar sua ambição
impaciente, dizendo-lhe que uma escada deve ser galgada degrau por degrau,
Gibran retruca: “Mas as águias não usam escadas!”
1902
– 1908
De
novo em Boston. Sua mãe e seu irmão morrem em 1903. Gibran escreve
poemas e meditações para Al-Muhajere (O Emigrante), jornal
árabe publicado em Boston. Seu estilo novo, feito de música, imagens
e símbolos, atrai-lhe a atenção do Mundo árabe.
Desenha e pinta numa arte
mística abstrata, que lhe é própria. Uma exposição de seus primeiros quadros
desperta o interesse de uma diretora de escola americana, Mary Haskel, que lhe
oferece custear seus estudos artísticos em Paris.
1908
– 1910
Em
Paris. Estuda na Académie Julien. Trabalha freneticamente. Freqüenta
museus, exposições, bibliotecas. Conhece Auguste Rodin, que lhe prediz um
grande futuro. Uma de suas telas é escolhida para a Exposição das Belas-Artes
de 1910. Neste ínterim, morrem seu pai e sua irmã Sultane.
1910
Volta
a Boston e, no mesmo ano, muda-se para Nova Iorque, onde permanecerá até o fim
da vida. Mora só, num apartamento modesto ao qual ele e seus amigos
chamam As-Saumaa (O Eremitério). Mariana, sua irmã,
continua em Boston. Em Nova Iorque, Gibran reúne em volta de si
uma plêiade de escritores libaneses e sírios que, embora estabelecidos nos
Estados Unidos, escrevem em árabe com idênticos anseios de renovação.
O grupo
forma uma academia literária que se intitula Ar-Rabita Al-Kalamia (A
Liga Literária), e que muito contribuiu para o renascimento das letras árabes.
Seus porta-vozes foram, sucessivamente, duas revistas árabes editadas em
Nova Iorque: Al-Funun (As Artes) e As-Seieh (O
Errante).
1905
– 1920
Gibran
escreve quase que exclusivamente em árabe e publica sete livros nessa
língua: 1905, A Musica; 1906, As Ninfas do Vale;
1908, As Almas Rebeldes; 1912, As Asas Partidas; 1914
Uma Lágrima e um Sorriso; 1919, As Procissões; 1920, Temporais.
(Após sua morte, será publicado um oitavo livro, sob o titulo de Curiosidades
e Belezas, composto de artigos e histórias já aparecidos em outros livros e
de algumas páginas inéditas).
1918
– 1931
Gibran
deixa, pouco a pouco, de escrever em árabe e se dedica ao inglês, no qual
produz também oito livros: 1918, O Demente; 1920, O
Precursor; 1923. O Profeta; 1927 Areia e Espuma;
1928, Jesus, o Filho do Homem; 1931, Os Deuses da
Terra. (Após sua morte foram publicados mais dois: 1932, O Errante;
1933, O Jardim do Profeta). Todos os livros ingleses de Gibran
foram lançados por Alfred A. Knopf, dinâmico editor americano com inclinação
para descobrir e lançar novos talentos.
Ao mesmo tempo que escreve, Gibran se
dedica a desenhar e pintar. Sua arte, inspirada pelo mesmo idealismo que lhe
inspirou os livros, distingue-se pela beleza e a pureza das formas. Todos os
seus livros ingleses foram por ele ilustrados com desenhos evocativos e
místicos, de interpretação às vezes difícil, mas profunda e comovedora
inspiração. Seus quadros foram expostos várias vezes com êxito em Boston e Nova
Iorque. Seus desenhos de personalidades históricas são também célebres.
1931
Gibran
morre em 10 de abril, no hospital São Vicente, em Nova Iorque. Ele,
que escrevera tantas páginas profundas sobre a vida e a morte, agoniza entre
gemidos confusos, no decorrer de uma crise pulmonar que o deixara inconsciente.
O adeus que lhe proporcionaram os Estados Unidos foi grandioso e comovente, e
em 21 de agosto de 1931, os restos mortais do maior e mais célebre escritor e
pintor do Mundo Árabe contemporâneo, chegaram a Beirute, e foram recebidos e
acompanhados até Bicharre com manifestações oficiais e populares de proporções
inusitadas.
Foi
enterrado na vertente de uma colina de silêncio e de beleza, num velho convento
cavado na rocha, onde Gibran sonhava ir viver como anacoreta seus últimos anos.
Seu túmulo transformou-se num lugar de peregrinação.
Ao lado, o Comitê Nacional
de Gibran edificou um museu onde são expostos algumas das suas belas telas e os
seus livros em todas as línguas. Em cima do túmulo, esta simples inscrição:
“Aqui,
entre nós, dorme Gibran.”
Mas lá, na verdade, dorme
somente seu corpo. Sua alma, difundida nos seus livros, serve de guia a milhões
de leitores na mais fascinante de todas as viagens: a que leva o homem das
trevas do egoísmo e da cegueira ao esplendor do dom de si e da compreensão.
Mansour
Challita (Do Livro Asas Partidas) Khalil Gibran