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quarta-feira, setembro 18, 2024

Embriaga-te



O texto abaixo é uma tradução do poema em prosa "Enivrez-vous" ("Embriagai-vos"), de Charles Baudelaire, extraído de Le Spleen de Paris (Pequenos Poemas em Prosa).

É um texto carregado de intensidade lírica e filosófica, no qual Baudelaire reflete sobre a necessidade de escapar do peso opressivo do tempo e da monotonia da existência por meio de uma embriaguez constante, seja ela física (vinho), espiritual (poesia) ou moral (virtude).

Embriagai-vos

É preciso estar sempre embriagado. Tudo se resume nisso: é a única questão. Para não sentir o fardo esmagador do Tempo, que te curva os ombros e te arrasta ao chão, é preciso que te embriagues sem trégua.

Mas com o quê? Com vinho, com poesia, com virtude, conforme teu desejo. Mas embriaga-te!

E se, porventura, nos degraus de um palácio reluzente, nas ervas úmidas de uma vala, ou na solidão melancólica do teu quarto, despertares com a embriaguez esvaída ou enfraquecida, pergunta ao vento que passa, à onda que se quebra, à estrela que brilha, à ave que voa, ao relógio que marca o tempo, a tudo o que murmura, a tudo o que geme, a tudo o que rola ou canta, a tudo o que fala - pergunta-lhes que horas são.

E o vento, a onda, a estrela, a ave, o relógio, todos te responderão: "É hora de te embriagares! Para não seres um escravo torturado do Tempo, embriaga-te!

Embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu bel-prazer." E assim, nessa busca incessante pela embriaguez, encontrarás refúgio contra a tirania do relógio, contra a monotonia dos dias que se arrastam.

Pois o Tempo, esse algoz invisível, não poupa ninguém: ele corrói os sonhos, apaga os ardores da juventude e sussurra a finitude em cada instante. Mas na embriaguez - seja ela o êxtase de um gole, o delírio de um verso ou a elevação de um ato nobre - há uma fuga, uma rebelião. Escolhe teu veneno, mas não te rendas ao vazio.

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