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segunda-feira, agosto 14, 2023

Os Leões de Tsavo


 

Os Leões de Tsavo - Antes de mais nada, preciso te passar uma informação importantíssima. Pra isso, tive que consultar o brilhante tratado Alimentação dos Animais Selvagens em Tempos de Crise.

No capítulo sobre os carnívoros está escrito “O leão (Panthera leo) alimenta-se preferencialmente de zebras, gnus e antílopes, mas quando a fome aperta, o que vier ele traça”. Após adquirir esse valioso conhecimento, vamos à História.

Em 1895, os ingleses decidiram construir uma ferrovia na África pra ligar o Quênia à Uganda. Alguns diziam que ela iria do nada pra lugar nenhum.

Mas a ideia era transportar as mercadorias agrícolas roubo, retiradas do interior do continente africano para a costa.

E também levar os produtos britânicos pra um novo mercado consumidor. O Império sendo Império.

Só que quando chegaram no trecho do rio Tsavo, era necessário construir uma ponte. Isso foi em 1898. O coronel John Henry Patterson era o supervisor da obra. E, logo no início, já aconteceu uma coisa sinistra.

Dois operários, que haviam se embrenhado na mata pra realizar uma tarefa, desapareceram. Quando o coronel soube do sumiço, achou que os boias-frias indianos (a maioria dos trabalhadores eram da Índia, outra colônia britânica) tinham se perdido ou fugido. Ele não acreditou nos boatos.

Mas outros caras continuaram desaparecendo, o que forçou o militar a investigar mais a fundo o caso. Nem precisou ir muito longe. A uns 800 metros do acampamento descobriu corpos humanos mutilados. E havia rastros de leão. Um não. Dois!

Patterson ordenou que fossem construídas cercas ao redor do acampamento e que tochas fossem acesas toda noite. Não deu certo. Um homem que foi buscar água no rio não voltou pra contar a estória. Depois dessa, se estou lá, ia morrer de sede.

O auge do terror foi quando uma das feras rastejou por debaixo da cerca e entrou na tenda que servia de ambulatório. Um operário foi morto. Vários, feridos.

E um deles foi arrastado pra fora do acampamento pelo monstro. Quem ouviu a vítima gritando por socorro deve ter sonhado com a cena um bom tempo. Deus me livre e guarde!

Foi feito de tudo pra tentar conter os ataques: cercas reforçadas, armadilhas espalhadas, torres construídas – onde atiradores ficariam de guarda madrugada adentro. Adiantou? Não.

Com sua reputação e vida em jogo, o coronel decidiu que era hora de a caça virar caçador. Reuniu um grupo e partiu à procura dos animais. Mas eles pareciam ter uma esperteza sobrenatural e escapavam de todas as emboscadas. De quebra, faziam uma boquinha de vez em quando.

Estórias de assombração começaram a pipocar, aqui e ali, de que esses leões tinham parte com o tinhoso, que eram espíritos vingativos, e por aí vai.

Em nove meses a dupla felina assassinou 140 pessoas! E nem era só pra comer: “apenas” 35 viraram almoço. O moral da rapaziada despencou. Muitos foram embora.

Cadê o sindicato pra paralisar essa obra por falta de segurança?! No início de dezembro, os sobreviventes, traumatizados, entraram em greve. Demorou.

Curiosidade: os dois leões não tinham juba. Uai! Então eram leoas? Não. A macheza deles foi comprovada visualmente através de outro ornamento físico, se é que você me entende.

Mas por que mudaram o cardápio e começaram a comer gente? A teoria mais aceita é que as suas presas prediletas foram mortas devido a peste bovina. Aí, quando viram aqueles macacos lerdos, desengonçados e fáceis de capturar, não deu outra.

Em 09 de dezembro, o tal do Patterson construiu uma plataforma camuflada com folhas e, finalmente, conseguiu meter um balaço mortal num dos devoradores de homens.

Vinte dias depois, foi a vez do outro. Ouvi dizer que o milico estava cantarolando aquela música do Caetano “Gosto muito de você leãozinho”, quando o bichão curioso se aproximou e tomou um tiro na fuça. Não botei muita fé nessa versão, mas que ele morreu, morreu. Game over. (Autor: Ronaldo Capra)

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