Os Leões de Tsavo - Antes de mais nada, preciso te passar uma informação importantíssima.
Pra isso, tive que consultar o brilhante tratado Alimentação dos Animais
Selvagens em Tempos de Crise.
No capítulo sobre os carnívoros está escrito “O leão (Panthera leo)
alimenta-se preferencialmente de zebras, gnus e antílopes, mas quando a fome
aperta, o que vier ele traça”. Após adquirir esse valioso conhecimento, vamos à
História.
Em 1895, os ingleses decidiram construir uma ferrovia na África pra
ligar o Quênia à Uganda. Alguns diziam que ela iria do nada pra lugar nenhum.
Mas a ideia era transportar as mercadorias agrícolas roubo, retiradas do
interior do continente africano para a costa.
E também levar os produtos britânicos pra um novo mercado consumidor. O
Império sendo Império.
Só que quando chegaram no trecho do rio Tsavo, era necessário construir
uma ponte. Isso foi em 1898. O coronel John Henry Patterson era o supervisor da
obra. E, logo no início, já aconteceu uma coisa sinistra.
Dois operários, que haviam se embrenhado na mata pra realizar uma
tarefa, desapareceram. Quando o coronel soube do sumiço, achou que os
boias-frias indianos (a maioria dos trabalhadores eram da Índia, outra colônia
britânica) tinham se perdido ou fugido. Ele não acreditou nos boatos.
Mas outros caras continuaram desaparecendo, o que forçou o militar a
investigar mais a fundo o caso. Nem precisou ir muito longe. A uns 800 metros
do acampamento descobriu corpos humanos mutilados. E havia rastros de leão. Um
não. Dois!
Patterson ordenou que fossem construídas cercas ao redor do acampamento
e que tochas fossem acesas toda noite. Não deu certo. Um homem que foi buscar
água no rio não voltou pra contar a estória. Depois dessa, se estou lá, ia
morrer de sede.
O auge do terror foi quando uma das feras rastejou por debaixo da cerca
e entrou na tenda que servia de ambulatório. Um operário foi morto. Vários,
feridos.
E um deles foi arrastado pra fora do acampamento pelo monstro. Quem
ouviu a vítima gritando por socorro deve ter sonhado com a cena um bom tempo.
Deus me livre e guarde!
Foi feito de tudo pra tentar conter os ataques: cercas reforçadas,
armadilhas espalhadas, torres construídas – onde atiradores ficariam de guarda
madrugada adentro. Adiantou? Não.
Com sua reputação e vida em jogo, o coronel decidiu que era hora de a
caça virar caçador. Reuniu um grupo e partiu à procura dos animais. Mas eles
pareciam ter uma esperteza sobrenatural e escapavam de todas as emboscadas. De
quebra, faziam uma boquinha de vez em quando.
Estórias de assombração começaram a pipocar, aqui e ali, de que esses
leões tinham parte com o tinhoso, que eram espíritos vingativos, e por aí vai.
Em nove meses a dupla felina assassinou 140 pessoas! E nem era só pra
comer: “apenas” 35 viraram almoço. O moral da rapaziada despencou. Muitos foram
embora.
Cadê o sindicato pra paralisar essa obra por falta de segurança?! No
início de dezembro, os sobreviventes, traumatizados, entraram em greve.
Demorou.
Curiosidade: os dois leões não tinham juba. Uai! Então eram leoas? Não.
A macheza deles foi comprovada visualmente através de outro ornamento físico,
se é que você me entende.
Mas por que mudaram o cardápio e começaram a comer gente? A teoria mais
aceita é que as suas presas prediletas foram mortas devido a peste bovina. Aí,
quando viram aqueles macacos lerdos, desengonçados e fáceis de capturar, não
deu outra.
Em 09 de dezembro, o tal do Patterson construiu uma plataforma camuflada
com folhas e, finalmente, conseguiu meter um balaço mortal num dos devoradores
de homens.
Vinte dias depois, foi a vez do outro. Ouvi dizer que o milico estava
cantarolando aquela música do Caetano “Gosto muito de você leãozinho”, quando o
bichão curioso se aproximou e tomou um tiro na fuça. Não botei muita fé nessa
versão, mas que ele morreu, morreu. Game over. (Autor: Ronaldo Capra)
0 Comentários:
Postar um comentário