O Demônio da Política: Orgulho, Corrupção e o Esquecimento do Bem Comum.
"O
demônio sempre se infiltra entre os políticos. Então, eles começam a brigar
entre si. O poder se transforma em uma questão de orgulho. Não tem mais nada a
ver com vivermos juntos e acabarmos com a guerra."
- Bob Marley
A
citação de Bob Marley reflete uma crítica atemporal à política, que, em vez de
unir as pessoas em prol do bem comum, frequentemente se torna palco de disputas
egocêntricas e corrupção.
O
poder, que deveria ser um instrumento para promover a harmonia e a justiça,
muitas vezes é pervertido pelo orgulho, pela ganância e pela perda de valores
éticos.
Essa
visão ressoa em muitos contextos históricos e contemporâneos, especialmente no
Brasil, onde escândalos de corrupção e a desconexão entre políticos e o povo
reforçam a desconfiança generalizada.
O Que Define um Político?
Um
político, ou estadista, é aquele que se dedica à gestão da "coisa
pública", conforme descrito por Sócrates. Para Platão, o político está
vinculado a uma ideologia ou filosofia de conduta, que orienta suas ações.
Formalmente,
é alguém que influencia a governança de uma sociedade, seja ocupando cargos no
executivo, legislativo ou aspirando a essas posições por meio de eleições ou
indicações.
Os
políticos, portanto, têm o poder de moldar a opinião pública e tomar decisões
que impactam a vida coletiva. Eles podem pertencer a partidos políticos, que
representam diferentes visões de mundo, ou atuar de forma independente,
manipulando e influenciando grupos em favor de uma ideia ou interesse.
Contudo,
a definição de político nem sempre carrega uma conotação positiva,
especialmente quando associada àqueles que utilizam o poder para benefício
próprio.
Quem Não É Considerado Político?
Nem
todos os envolvidos na administração pública são políticos. Por exemplo:
Funcionários
públicos concursados, como servidores do executivo, legislativo, judiciário ou
militares, desempenham funções técnicas ou burocráticas e, em geral, não são
considerados políticos, embora participem dos processos governamentais.
Assessores
e consultores técnicos têm papéis administrativos, mas não detêm poder
decisório direto.
Cidadãos
comuns, mesmo com influência na opinião pública, não são políticos, embora
possam exercer pressão por mudanças sociais.
Críticas à Classe Política
Historicamente,
a política foi vista como uma profissão nobre, voltada para o serviço público.
No entanto, nos dias atuais, a percepção popular em muitos países, incluindo o
Brasil, é marcada por desconfiança e desilusão.
Os
políticos frequentemente são retratados como inescrupulosos, cujas promessas de
campanha raramente se concretizam. Acusações de corrupção, desvio de verbas
públicas, nepotismo, superfaturamento de obras e licitações fraudulentas são
comuns e alimentam a imagem de uma classe política distante dos interesses do
povo.
No
Brasil, escândalos como o Mensalão (2005), a Operação Lava Jato (iniciada em
2014) e outros casos de corrupção envolvendo figuras de alto escalão reforçam
essa visão.
Por
exemplo, a Lava Jato revelou esquemas bilionários de propinas envolvendo
políticos, empreiteiras e estatais, como a Petrobras, expondo como o poder
político pode ser usado para enriquecimento ilícito.
Esses
acontecimentos abalaram a confiança nas instituições e fortaleceram a percepção
de que muitos políticos priorizam interesses pessoais ou de grupos econômicos
em vez do bem-estar coletivo.
Além
disso, a crítica aos chamados "políticos profissionais" é recorrente.
Esses indivíduos constroem carreiras políticas de longo prazo, muitas vezes
ocupando múltiplos mandatos consecutivos.
Em vez
de focarem no bem público, alguns tomam decisões visando apenas a reeleição ou
a manutenção de privilégios, como altos salários, verbas de gabinete e
imunidades parlamentares.
No
Brasil, a reeleição ilimitada para cargos legislativos amplifica esse problema,
permitindo que políticos se perpetuem no poder. Outra crítica frequente é a
falta de preparo técnico de muitos políticos. Embora cargos eletivos não exijam
formação educacional específica, a gestão pública demanda conhecimentos em
áreas como economia, administração e políticas públicas.
A
ausência desses conhecimentos pode levar a decisões ineficientes ou populistas,
que comprometem o desenvolvimento do país. No Brasil, casos de políticos com
baixa escolaridade ou envolvimento em escândalos éticos, como o uso de verbas
públicas para fins pessoais, intensificam as críticas.
A Política e a Injustiça
Um dos
aspectos mais graves da política corrompida é a criação e aplicação de leis.
Quando as leis são elaboradas por indivíduos envolvidos em práticas antiéticas
ou criminosas, a própria justiça se torna comprometida.
No
Brasil, por exemplo, decisões legislativas frequentemente beneficiam interesses
privados, como grandes corporações ou grupos políticos, em detrimento da
população.
A
aprovação de leis que dificultam a punição de crimes de colarinho branco, como
a flexibilização de penas para corrupção, é um reflexo desse problema. Como diz
o ditado popular: "Quando as leis são feitas por bandidos, a justiça faz
as injustiças."
O Impacto Global da Corrupção Política
A
corrupção não é exclusividade do Brasil. Em escala global, casos como o Panama
Papers (2016) e os escândalos envolvendo líderes em países como Venezuela,
Rússia e até democracias consolidadas, como os Estados Unidos, mostram que a
política frequentemente é contaminada por interesses escusos.
Em
muitos países, a classe política depende do financiamento de elites econômicas,
o que cria uma relação de dependência que compromete a independência das
decisões políticas.
Essa dinâmica
reforça a crítica de Bob Marley: o poder, em vez de ser um meio para promover a
paz e a convivência, torna-se uma questão de orgulho e ganância.
O Caminho para a Mudança
Para
combater os problemas apontados, é necessário fortalecer a transparência, a responsabilidade
(prestação de contas) e a participação popular na política. Algumas medidas
possíveis incluem:
Reforma
política: Limitar a reeleição, reduzir privilégios parlamentares e aumentar a
fiscalização sobre o financiamento de campanhas.
Educação
política: Incentivar a formação de cidadãos conscientes, capazes de exigir
responsabilidade de seus representantes.
Fortalecimento
das instituições: Garantir a independência do judiciário e de órgãos de
controle, como o Ministério Público e a Polícia Federal, para combater a
corrupção.
Participação
cidadã: Ampliar mecanismos de democracia direta, como plebiscitos e consultas
populares, para que o povo tenha maior influência nas decisões.
Conclusão
A
política, em sua essência, deveria ser a arte de governar para o bem comum,
promovendo a justiça, a igualdade e a paz. No entanto, como alertou Bob Marley,
o "demônio" do orgulho e da ganância muitas vezes se infiltra,
transformando o poder em um fim em si mesmo.
No
Brasil e no mundo, os desafios da corrupção, da falta de preparo e da
desconexão entre políticos e cidadãos exigem uma reflexão profunda. A mudança
começa com a conscientização do povo e a exigência de uma política mais ética e
comprometida com o bem-estar coletivo.
Somente
assim será possível resgatar a nobreza da "coisa pública" e construir
um futuro onde a guerra, seja ela social, econômica ou política, seja superada
pela convivência harmoniosa.
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