"Jean-Jacques
Rousseau, em Do Contrato Social (1762), afirmou: 'O primeiro homem que, tendo
cercado um pedaço de terra, proclamou, “isto é, meu" e encontrou pessoas
ingênuas o suficiente para acreditar nele, esse homem foi o verdadeiro fundador
da sociedade civil.'"
Rousseau,
em Do Contrato Social, explora as bases da organização social e política,
questionando as desigualdades que surgem com a propriedade privada.
A
citação reflete sua crítica à ideia de posse como fundamento da sociedade
civil, sugerindo que a aceitação coletiva dessa reivindicação arbitrária marca
o início de um sistema estruturado, mas também de desigualdades.
No
contexto da obra, Rousseau argumenta que a propriedade privada, ao ser
institucionalizada, rompe com o estado de natureza, onde os recursos eram
comuns, e estabelece relações de poder e dependência.
Para
enriquecer a análise, é importante situar a citação no cenário intelectual do
Iluminismo. Em 1762, quando Do Contrato Social foi publicado, a Europa passava
por intensos debates sobre liberdade, igualdade e os fundamentos do poder
político.
Rousseau,
ao contrário de pensadores como John Locke, que via a propriedade como um
direito natural, via nela o germe das desigualdades sociais.
Ele
sugere que a aceitação passiva da propriedade privada por parte da sociedade
foi um momento fundamental, que transformou relações naturais em convenções
sociais baseadas na posse e no poder.
Acontecimentos
históricos relacionados: Na época de Rousseau, a Europa vivia transformações
significativas. A Revolução Agrícola, com os cercamentos na Inglaterra,
exemplifica o processo descrito por ele.
Terras
comunais foram privatizadas, concentrando riqueza e poder nas mãos de poucos,
enquanto camponeses eram desalojados, forçados a trabalhar como assalariados.
Esse
fenômeno, que se intensificou no século XVIII, ilustra a crítica de Rousseau: a
propriedade privada, longe de ser um direito inato, foi muitas vezes
estabelecida pela força e aceita por convenção social, gerando desigualdades
estruturais.
Além
disso, o pensamento de Rousseau influenciou eventos posteriores, como a
Revolução Francesa (1789-1799). Suas ideias sobre igualdade e soberania popular
inspiraram revolucionários a questionar as estruturas feudais, que
privilegiavam a nobreza e o clero, donos de vastas propriedades.
A
crítica à propriedade como base da sociedade civil ecoou nos debates sobre
redistribuição de terras e direitos coletivos.
Reflexão:
Rousseau não condena a propriedade em si, mas a forma como ela foi instituída e
aceita sem questionamento. Ele propõe, em Do Contrato Social, um pacto social
que equilibre liberdade e igualdade, onde a propriedade seja regulada para o
bem comum.
Essa
ideia ressoa em debates contemporâneos sobre desigualdade econômica,
concentração de terras e acesso a recursos naturais, mostrando a atualidade de
seu pensamento.
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