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terça-feira, agosto 12, 2025

O Putsch da Cervejaria – Tentativa de Golpe de Adolf Hitler em 1923

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O Putsch da Cervejaria - A Tentativa de Golpe de Adolf Hitler em 1923

O Putsch da Cervejaria, também conhecido como Putsch de Munique, foi uma tentativa frustrada de golpe de Estado liderada por Adolf Hitler e pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) contra o governo da Baviera, em 8 e 9 de novembro de 1923.

Este evento marcou um momento crucial na ascensão de Hitler, apesar de seu fracasso imediato, pois proporcionou ao futuro ditador uma plataforma para consolidar sua imagem pública e refinar sua estratégia política.

Contexto Histórico

A Alemanha do início da década de 1920 vivia um período de instabilidade política, econômica e social após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

O Tratado de Versalhes (1919) impôs duras reparações ao país, alimentando ressentimentos nacionalistas. A hiperinflação devastava a economia, enquanto movimentos extremistas de esquerda e direita disputavam o poder em meio a greves, revoltas e crises governamentais.

A Baviera, uma região com forte tradição autonomista, era particularmente instável, governada por uma coalizão conservadora sob a liderança de fato de Gustav von Kahr, comissário estadual, que mantinha uma relação ambígua com grupos nacionalistas radicais, incluindo os nazistas.

Inspirado pela Marcha sobre Roma de Benito Mussolini em 1922, que levou os fascistas ao poder na Itália, Hitler viu na Baviera uma oportunidade para iniciar uma "revolução nacional".

Seu plano era tomar o controle de Munique, capital da Baviera, e de lá marchar para Berlim, desafiando o governo central da República de Weimar.

O Golpe

Na noite de 8 de novembro de 1923, Hitler, acompanhado por membros da SA (Sturmabteilung, a milícia paramilitar nazista), invadiu a cervejaria Bürgerbräukeller, em Munique, onde Gustav von Kahr discursava para cerca de 3.000 pessoas.

Hitler subiu em uma mesa, disparou um tiro no teto para chamar a atenção e declarou que a "revolução nacional" havia começado. Ele anunciou a formação de um novo governo com Erich Ludendorff, um general da Primeira Guerra Mundial e figura respeitada entre os nacionalistas, como líder simbólico.

Hitler, Ludendorff e seus seguidores contavam com o apoio inicial de Kahr, do chefe de polícia Hans von Seisser e do comandante da Reichswehr (exército bávaro) Otto von Lossow. Esses líderes, embora simpáticos à ideias nacionalistas, hesitavam em apoiar abertamente um golpe contra o governo central.

Após negociações tensas na cervejaria, Hitler acreditava ter garantido a lealdade deles, mas Ludendorff, confiando em sua palavra, permitiu que Kahr, Seisser e Lossow fossem libertados.

Essa decisão seria fatal: uma vez livres, os três líderes denunciaram o golpe e mobilizaram as forças estatais para esmagá-lo. Na manhã de 9 de novembro, Hitler e cerca de 2.000 seguidores, incluindo figuras como Rudolf Hess, Hermann Göring e Ernst Röhm, marcharam em direção ao centro de Munique, rumo ao Ministério da Guerra Bávaro.

A marcha, que pretendia ser o início da "Marcha sobre Berlim", foi interceptada por forças policiais na Odeonsplatz. Um confronto violento resultou na morte de 16 nazistas e 4 policiais. Ludendorff foi ferido, mas continuou marchando até ser preso.

Hitler, que sofreu uma luxação no ombro durante a confusão, fugiu do local e se escondeu na casa de Ernst Hanfstaengl, um apoiador do partido. Lá, ele considerou o suicídio antes de ser capturado pelas autoridades dois dias depois, em 11 de novembro.

Consequências e Julgamento

Hitler foi acusado de alta traição e enfrentou julgamento em abril de 1924. O processo, realizado em Munique, tornou-se uma plataforma inesperada para sua propaganda.

Os juízes, simpáticos às ideias nacionalistas, permitiram que Hitler discursasse livremente, transformando o tribunal em um palco para suas ideias. Seus discursos inflamados, que atacavam a República de Weimar e exaltavam o nacionalismo, conquistaram a atenção da imprensa e de setores da sociedade alemã.

Ele afirmou, por exemplo, que "a história me absolverá", projetando-se como mártir de uma causa maior. Condenado a cinco anos de prisão, Hitler foi enviado à fortaleza de Landsberg, onde cumpriu apenas nove meses, beneficiado por um regime leniente.

Durante seu encarceramento, ele recebeu tratamento privilegiado, incluindo visitas frequentes e correspondências de apoiadores, o que reforçou sua percepção de popularidade. Foi nesse período que escreveu Mein Kampf ("Minha Luta"), um manifesto que combinava sua autobiografia, ideologia antissemita, anticomunista e expansionista, além de sua visão para o futuro da Alemanha. O livro, inicialmente recebido com pouco entusiasmo, tornou-se um pilar da propaganda nazista anos depois.

Impacto a Longo Prazo

O fracasso do Putsch da Cervejaria ensinou a Hitler lições cruciais. Ele abandonou a ideia de tomar o poder pela força e decidiu buscar a ascensão por meios legais, manipulando o sistema democrático da República de Weimar.

Como ele próprio afirmou, a democracia deveria ser "destruída por suas próprias forças". Essa estratégia culminaria em sua nomeação como chanceler em 30 de janeiro de 1933, menos de uma década depois, em um contexto de crise econômica agravada pela Grande Depressão e de crescente polarização política entre nazistas e comunistas.

A propaganda nazista transformou os 16 mortos do Putsch em mártires, celebrados como heróis do movimento. A data de 9 de novembro tornou-se um marco no calendário nazista, com cerimônias anuais após a ascensão de Hitler ao poder.

A cervejaria Bürgerbräukeller permaneceu um símbolo do movimento, usada em eventos do partido até sua destruição durante a Segunda Guerra Mundial.

Detalhes Adicionais

Apoio e Traição: A relação de Hitler com Kahr, Seisser e Lossow reflete as tensões entre nacionalistas radicais e conservadores tradicionais na Baviera. Enquanto Hitler buscava uma revolução total, seus aliados hesitavam, temendo as consequências de um confronto direto com o governo central.

Papel de Ludendorff: A presença de Ludendorff conferiu legitimidade ao golpe, mas sua decisão de libertar Kahr e os outros líderes revelou uma ingenuidade política que contrastava com a astúcia de Hitler.

Propaganda Nazista: Após o golpe, os nazistas transformaram a derrota em uma narrativa de heroísmo e sacrifício, explorando a morte dos 16 membros para galvanizar apoio ao partido.

Conexão com a Crise Econômica: A hiperinflação de 1923, que devastou a classe média alemã, criou um terreno fértil para o discurso de Hitler, que prometia restaurar a "grandeza" da Alemanha.

Conclusão

O Putsch da Cervejaria foi um fracasso militar e político, mas um sucesso propagandístico. Ele revelou a ambição de Hitler, sua habilidade em transformar derrotas em vitórias simbólicas e sua capacidade de aprender com os erros.

O evento consolidou o NSDAP como uma força política emergente e preparou o terreno para a ascensão de Hitler ao poder em 1933, em um contexto de crise que ele soube explorar magistralmente.

O Putsch permanece um marco histórico, ilustrando como momentos de instabilidade podem ser usados por líderes carismáticos para alcançar objetivos de longo prazo.

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