O vazio existencial - O vácuo existencial se manifesta principalmente num estado de tédio - O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no século
XXI. Isto é compreensível; pode ser atribuído a uma dupla perda sofrida pelo
ser humano desde que se tornou um ser verdadeiramente humano. No início da
história, o homem foi perdendo alguns dos instintos animais básicos que regulam
o comportamento do animal e asseguram sua existência.
Tal segurança, assim como o paraíso, está cerrada ao ser
humano para todo o sempre. Ele precisa fazer opções. Acresce-se ainda que o ser
humano sofreu mais outra perda em seu desenvolvimento mais recente. As
tradições, que serviam de apoio para seu comportamento, atualmente vêm
diminuindo com grande rapidez.
Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer e não há tradição
que lhe diga o que ele deveria fazer; às vezes ele não sabe sequer o que deseja
fazer. Em vez disso, ele deseja fazer o que os outros fazem (conformismo), ou
ele faz o que outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo).
O vácuo existencial se manifesta principalmente num estado
de tédio. Agora podemos entender por que Schopenhauer disse que, aparentemente,
a humanidade estava fadada a oscilar eternamente entre os dois extremos de
angústia e tédio.
É concreto que atualmente o tédio está causando e
certamente trazendo aos psiquiatras mais problemas de que o faz a angústia. E
estes problemas estão se tornando cada vez mais agudos, uma vez que o crescente
processo de automação provavelmente conduzirá a um aumento enorme nas horas de
lazer do trabalhador médio. Lastimável é que muitos deles não saberão o que fazer
com seu tempo livre.
Pensemos, por exemplo, na "neurose dominical",
aquela espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de
conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio
dentro delas se torna manifesto.
Não são poucos os casos de suicídio que podem ser
atribuídos a este vazio existencial.
Fenômenos tão difundidos como depressão, agressão e vício
não podem ser entendidos se não reconhecermos o vazio existencial subjacente a
eles. O mesmo é válido também para crises de aposentados e idosos.
Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob os quais
transparece o vazio existencial. Às vezes a vontade de sentido frustrada é
vicariamente compensada por uma vontade de poder, incluindo a sua mais
primitiva forma, que é a vontade de dinheiro.
Em outros casos, o lugar da vontade de sentido frustrada é
tomado pela vontade de prazer. É por isso que muitas vezes a frustração
existencial acaba em compensação sexual. Podemos observar nestes casos que a
libido sexual assume proporções descabidas no vácuo existencial.
Viktor Frankl
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