Não sei se deve perdoar sempre. Como perdoar o torturador? Como perdoar o adulto que espanca uma criança?
Como perdoar a inquisição,
os campos de concentração, a bomba atômica, os homens públicos que se
enriquecem às custas do dinheiro do povo que sofre e morre? Quem perdoa
tudo é porque não se importa com nada. (Rubem Alves)
O texto de Rubem Alves reflete uma reflexão profunda
sobre os limites do perdão e a complexidade moral que envolve situações
extremas de violência, injustiça e desumanidade. Ele nos confronta com questões
éticas solicitadas: é possível - ou
até mesmo ocasional - perdoar tudo?
O perdão é frequentemente celebrado como uma virtude
elevada, um ato de nobreza que liberta a pessoa que perdoa as amarras do
rancor. No entanto, quando confrontado com atrocidades como tortura, violência
contra inocentes, genocídios ou corrupção devastadora, o perdão pode parecer
não apenas difícil, mas até inconcebível.
Rubem Alves aponta para a ideia de que perdoar, nesses
casos, pode ser interpretada como uma forma de indiferença, um sinal de que não
se dá a devida importância aos crimes cruéis cometidos por seres desumanos.
Essa perspectiva nos leva a refletir sobre a natureza
do perdão. Ele deve ser incondicional? Ou existem limites para o que pode ser
perdoado? Em muitas tradições filosóficas e religiosas, o perdão é uma prática
profundamente espiritual, destinada a curar quem perdoa, independentemente da
denúncia do ofensor.
Contudo, o perdão também pode ser visto como uma
escolha moral e política, uma forma de afirmar a dignidade humana diante do
sofrimento e da dor.
Rubem Alves questiona não apenas o ato de perdoar, mas
também as implicações éticas desse perdão. Ele sugere que, ao perdoarmos tudo,
podemos estar negando a gravidade do mal, ignorando as feridas abertas e
perpetuando ciclos de violência e impunidade.
Perdoar o torturador sem exigir reclamação ou
responsabilização pode ser visto como um insulto às vítimas. Aceitar os atos de
um adulto que espanca uma criança sem que haja transformação do agressor pode
ser interpretado como conivência. O mesmo vale para grandes crimes contra a
humanidade ou abusos de poder.
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