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segunda-feira, dezembro 16, 2024

Como perdoar?




Não sei se deve perdoar sempre. Como perdoar o torturador? Como perdoar o adulto que espanca uma criança? 

Como perdoar a inquisição, os campos de concentração, a bomba atômica, os homens públicos que se enriquecem às custas do dinheiro do povo que sofre e morre? Quem perdoa tudo é porque não se importa com nada. (Rubem Alves)

O texto de Rubem Alves reflete uma reflexão profunda sobre os limites do perdão e a complexidade moral que envolve situações extremas de violência, injustiça e desumanidade. Ele nos confronta com questões éticas solicitadas: é possível - ou até mesmo ocasional - perdoar tudo?

O perdão é frequentemente celebrado como uma virtude elevada, um ato de nobreza que liberta a pessoa que perdoa as amarras do rancor. No entanto, quando confrontado com atrocidades como tortura, violência contra inocentes, genocídios ou corrupção devastadora, o perdão pode parecer não apenas difícil, mas até inconcebível.

Rubem Alves aponta para a ideia de que perdoar, nesses casos, pode ser interpretada como uma forma de indiferença, um sinal de que não se dá a devida importância aos crimes cruéis cometidos por seres desumanos.

Essa perspectiva nos leva a refletir sobre a natureza do perdão. Ele deve ser incondicional? Ou existem limites para o que pode ser perdoado? Em muitas tradições filosóficas e religiosas, o perdão é uma prática profundamente espiritual, destinada a curar quem perdoa, independentemente da denúncia do ofensor.

Contudo, o perdão também pode ser visto como uma escolha moral e política, uma forma de afirmar a dignidade humana diante do sofrimento e da dor.

Rubem Alves questiona não apenas o ato de perdoar, mas também as implicações éticas desse perdão. Ele sugere que, ao perdoarmos tudo, podemos estar negando a gravidade do mal, ignorando as feridas abertas e perpetuando ciclos de violência e impunidade.

Perdoar o torturador sem exigir reclamação ou responsabilização pode ser visto como um insulto às vítimas. Aceitar os atos de um adulto que espanca uma criança sem que haja transformação do agressor pode ser interpretado como conivência. O mesmo vale para grandes crimes contra a humanidade ou abusos de poder.

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