Ninguém poderia sobreviver à
compreensão instantânea da dor universal, pois cada coração só foi moldado para
uma certa quantidade de sofrimentos.
Existem como que limites
materiais para nossa resistência; entretanto, a expansão de cada desgosto os
alcança e, às vezes, os ultrapassa: é frequentemente a origem de nossa ruína.
Daí deriva a impressão de que
cada dor, cada desgosto, são infinitos. Eles o são, na verdade, mas somente
para nós, para os limites de nosso coração; e mesmo que este tivesse as
dimensões do vasto espaço, nossos males seriam ainda mais vastos, pois toda dor
substitui o mundo e de cada desgosto faz outro universo.
A razão esforça-se inutilmente
para mostrar-nos as proporções infinitesimais de nossos acidentes; fracassa
ante nossa tendência para a proliferação cosmogônica.
Daí decorre que a verdadeira
loucura nunca é devida aos acasos ou aos desastres do cérebro, mas à concepção
falsa do espaço que o coração se forjado.
Emil Mihai Cioran
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