Grover Sanders Krantz: O Antropólogo que abraçou o Bigfoot
Grover
Sanders Krantz (1931-2002) foi um antropólogo, primatologista e criptozoólogo
americano, conhecido por sua carreira acadêmica em evolução humana e por sua
controversa dedicação ao estudo do Bigfoot, uma figura lendária que ele
acreditava ser uma criatura real.
Como um
dos poucos cientistas a considerar seriamente a existência do Bigfoot, Krantz
enfrentou críticas severas de seus pares, mas sua tenacidade e paixão por temas
não convencionais marcaram sua trajetória como um acadêmico singular.
Início de Vida e Formação Acadêmica
Nascido
em 5 de novembro de 1931, em Salt Lake City, Utah, Grover era filho de Carl
Victor Emmanuel Krantz e Esther Maria Sanders Krantz, ambos mórmons devotos.
Apesar de criado em um ambiente religioso, Krantz adotou apenas os princípios
éticos gerais do cristianismo, sem se envolver ativamente na religião.
Sua
infância foi dividida entre Rockford, Illinois, onde viveu até os 10 anos, e
Utah, para onde sua família retornou. Em 1949, ingressou na Universidade de
Utah, mas interrompeu os estudos para servir na Guarda Nacional Aérea, onde
atuou como instrutor de sobrevivência no deserto em Clovis, Novo México, entre
1951 e 1952.
Krantz
retomou sua formação acadêmica na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde
obteve um Bacharelado em Ciências em 1955 e um Mestrado em 1958.
Em
1971, concluiu seu doutorado em antropologia pela Universidade de Minnesota,
com a dissertação intitulada The Origins of Man, que explorava questões
fundamentais sobre a evolução humana.
Durante
os anos 1960, trabalhou como técnico no Phoebe A. Hearst Museum of
Anthropology, em Berkeley, antes de se tornar professor titular na Washington
State University, onde lecionou de 1968 até sua aposentadoria em 1998.
Como
docente, Krantz era admirado por seus alunos, apesar de seus exames
desafiadores. Ele frequentemente almoçava com estudantes, discutindo temas que
variavam de antropologia a física, história militar e eventos atuais.
Sua
abordagem interdisciplinar e acessível o tornou uma figura carismática no
campus. Após sua morte, a Washington State University criou uma bolsa em seu
nome para promover estudos em antropologia física, arqueologia linguística e
demografia humana.
Contribuições à Antropologia
Krantz
publicou mais de 60 artigos acadêmicos e 10 livros ao longo de sua carreira,
abordando temas como evolução humana, primatologia e paleoantropologia. Suas
pesquisas de campo, realizadas na Europa, China e Java, contribuíram para o
entendimento de aspectos cruciais da evolução.
Na
década de 1970, ele estudou os fósseis de Ramapithecus, então considerado por
muitos como um ancestral humano. Krantz foi um dos primeiros a demonstrar que
essa suposição era incorreta, ajudando a refinar a compreensão da linhagem
humana.
Seus
estudos sobre o Homo erectus foram igualmente impactantes. Ele explorou padrões
teóricos de caça e fala fonêmica, argumentando que essas características
explicavam diferenças anatômicas entre o Homo erectus e humanos modernos.
Krantz
também foi pioneiro ao explicar a função do processo mastóide, uma estrutura
óssea atrás da orelha, e publicou um artigo influente sobre o surgimento de
humanos na Europa pré-histórica, incluindo o desenvolvimento das línguas indo-europeias.
Suas
pesquisas abrangiam ainda o desenvolvimento de ferramentas paleolíticas,
taxonomia e cultura neandertal, o evento de extinção do Quaternário, mudanças
no nível do mar e evidências de dimorfismo sexual no registro fóssil.
Em
1996, Krantz envolveu-se na controvérsia do Kennewick Man, um esqueleto de
9.000 anos descoberto em Washington. Ele defendeu, tanto na academia quanto em
tribunais, que os restos não podiam ser diretamente associados a nenhuma
população nativa americana contemporânea, desafiando a aplicação do Native
American Graves Protection and Repatriation Act (NAGPRA).
Em uma
entrevista à The New Yorker, Krantz afirmou: “Esse esqueleto não pode ser
racial ou culturalmente associado a nenhum grupo indígena americano existente.
O NAGPRA não tem mais aplicabilidade a ele do que teria se uma expedição
chinesa tivesse deixado um de seus membros lá.”
Sua
posição gerou debates éticos e científicos, mas reflete sua tendência a abordar
questões polêmicas com rigor.
A Pesquisa Criptozoológica: O Fascínio pelo Bigfoot
Embora
respeitado por suas contribuições à antropologia, Krantz ganhou notoriedade por
sua pesquisa sobre o Bigfoot, ou Sasquatch (termo derivado da palavra
Halkomelem sásq’ets, que significa “homem selvagem”).
Ele
começou a estudar o tema em 1963, sendo um dos primeiros cientistas a tratar o
Bigfoot como objeto de investigação séria. Krantz teorizou que os avistamentos
poderiam ser explicados por populações remanescentes de Gigantopithecus, um
primata extinto que viveu no leste da Ásia até cerca de 100.000 anos atrás.
Ele
sugeriu que esses animais poderiam ter migrado pela ponte terrestre de Bering,
a mesma usada pelos primeiros humanos para povoar as Américas.
Sua
pesquisa sobre o Bigfoot enfrentou resistência significativa. Colegas acadêmicos
classificaram seu trabalho como “ciência marginal”, o que resultou na perda de
subsídios, promoções e atrasos em seu mandato na universidade.
Artigos
sobre o tema foram sistematicamente rejeitados por revistas acadêmicas
revisadas por pares. Apesar disso, Krantz permaneceu firme, publicando livros
de divulgação, como Big Footprints: A Scientific Inquiry into the Reality of
Sasquatch (1992), e aparecendo em documentários como The Mysterious World of
Arthur C. Clarke e Sasquatch: Legend Meets Science.
Ele
também tentou nomear formalmente o Bigfoot como Gigantopithecus blacki em 1985,
durante uma conferência da Sociedade Internacional de Criptozoologia, mas a
proposta foi rejeitada pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica,
que exigia um holótipo (espécime físico) para validação.
Um
momento crucial em sua mudança de perspectiva ocorreu com a análise do filme de
Patterson-Gimlin (1967), que mostra uma suposta criatura em Bluff Creek,
Califórnia. Inicialmente cético, Krantz considerava o filme uma possível farsa,
mas mudou de ideia após estudar moldes de pegadas, especialmente as de
Cripplefoot, coletadas em Bossburg, Washington, em 1969.
Essas
pegadas, que exibiam sulcos dérmicos e sinais de uma deformidade (pé torto),
foram examinadas por especialistas, incluindo o primatologista John Napier e o
professor A. G. de Wilde, da Universidade de Groningen, que concluíram que as
impressões pareciam vir de um ser vivo.
Krantz
também consultou peritos em impressões digitais, como John Berry, da Fingerprint
Whorld, que sugeriu que os padrões dérmicos eram “provavelmente reais”.
Krantz
construiu modelos biomecânicos das pegadas de Cripplefoot, calculando que a
criatura teria cerca de 2,44 metros de altura e pesaria aproximadamente 363 kg.
Ele
destacou detalhes anatômicos, como a ausência da eminência tenar (músculo do
polegar), que sugeria um polegar não opositor, algo improvável em uma farsa sem
conhecimento avançado de anatomia.
Seu
primeiro artigo sobre o tema, “Sasquatch Handprints”, foi publicado em 1971 na
revista North American Research Notes. Mais tarde, ele examinou o molde de
Skookum (2000), uma impressão corporal supostamente deixada por um Bigfoot.
Embora
intrigado, Krantz permaneceu cauteloso, declarando à revista Outside: “Não sei
o que é. Estou perplexo. Alce ou Sasquatch. Essa é a escolha.”
Vida Pessoal e Legado
Krantz
foi casado quatro vezes: com Patricia Howland (1953), Joan Brandson (1959),
Evelyn Einstein (1964) e Diane Horton (1982), com quem permaneceu até sua
morte.
Ele
tinha um enteado, Dural Horton, e um irmão, Victor Krantz, fotógrafo da
Smithsonian Institution. Apaixonado por viagens, Krantz visitou todos os 48
estados continentais dos EUA. Em 1984, sua pontuação no Miller Analogies Test o
qualificou para ingressar na Intertel, uma sociedade de alto QI.
Em
1987, ele participou de um debate de três horas contra o criacionista Duane
Gish, na Washington State University, atraindo mais de 1.000 espectadores.
Diagnosticado
com câncer de pâncreas em 2001, Krantz faleceu em 14 de fevereiro de 2002, em
sua casa em Port Angeles, Washington. Seguindo seu desejo, não houve funeral.
Seu
corpo foi doado à Body Farm da Universidade de Tennessee para estudos forenses.
Em 2003, seus ossos foram transferidos para o Museu Nacional de História
Natural da Smithsonian Institution, onde foram articulados em 2009 e exibidos
na exposição Written in Bone: Forensic Files of the 17th Century Chesapeake, ao
lado do esqueleto de um de seus cães, Clyde, um de seus três lobos irlandeses
favoritos. Seus ossos também são usados para ensinar ciência forense e
osteologia na Universidade George Washington.
Impacto e Controvérsias
Grover
Krantz foi uma figura única, navegando entre a ciência convencional e a
criptozoologia. Sua disposição para explorar temas marginais, como o Bigfoot e
o Kennewick Man, o tornou alvo de críticas, mas também um defensor da liberdade
acadêmica e da curiosidade científica.
Embora
suas ideias sobre o Bigfoot nunca tenham sido aceitas pela comunidade
científica, sua abordagem rigorosa inspirou amadores e pesquisadores a manterem
viva a discussão sobre criaturas lendárias.
Na
antropologia, suas contribuições à compreensão da evolução humana permanecem
respeitadas, e sua coragem em enfrentar tabus científicos continua a inspirar
debates sobre os limites do conhecimento.








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