A Ark de Bucara
é uma cidadela cuja origem remonta pelo menos século VII d.C. em
Bucara, no Uzbequistão. É a edificação mais antiga da cidade, tão antiga como a
própria cidadela.
Além de ser uma fortaleza militar,
é também uma pequena cidade palaciana que ao longo da história foi a sede de
várias cortes reais que existiram em Bucara e na região em volta.
Foi usada como fortaleza
até ser tomada pelos soviéticos em 1920 e atualmente é uma atração
turística onde há vários museus que mostram a sua história, da cidade e da
região.
A cidadela encontra-se no
interior do centro histórico de Bucara, o qual é rodeado por uma muralha de
adobe com várias fortificações. Atualmente ocupa a parte norte da cidade
antiga, mas originalmente foi uma fortaleza construída fora
do shahristan (centro da cidade) original.
Devido a ter sido usada
continuamente ao longo de pelo menos doze séculos, nela podem-se observar
alguns aspetos da evolução da arquitetura militar da Ásia Central desde os
primeiros tempos da era islâmica, no século VIII, até ao final do Império
Russo.
História
Não se sabe ao certo
quando foi construída a primeira fortaleza ou cidadela antecessora da que
existe atualmente. Parece certo que foi na Antiguidade e segundo algumas
fontes haverá vestígios arqueológicos da existência duma cidadela no local da
atual no século IV a.C.
A colina com cerca de 20
metros de altura onde se encontra é artificial e foi formada pelas sucessivas
reconstruções ao longo dos séculos. Segundo alguns autores, a menção
histórica mais antiga, de fontes locais, fala numa fortaleza construída
no século VII d.C. pelo Bukhar Khudat (rei) Bidun, que se
desmoronou pouco depois e foi reconstruída, seguindo os conselhos de adivinhos,
para imitar a forma da "constelação do Grande Urso".
Desde esse tempo que a
cidade tem a si associadas histórias lendárias. Segundo Maomé ibne Jafar
Narshakhi, o historiador de Bucara da primeira metade do século X,
a Ark teria sido construída pelo príncipe lendário persa Seoses (Siyâvash), que
segundo a lenda está sepultado onde antigamente existia a Porta Kalon, junto à
Mesquita Juma (ou Kalyan ou Kalon).
A cidade começou a tomar
a forma atual no século XVI, durante o período xaibânisa, e praticamente
todos os edifícios atualmente existentes são dos séculos XVIII a XX.
Foi no século
XVI que a cidade deixou de ser apenas uma fortaleza e residência real para
passar a alojar a generalidade dos edifícios governamentais, onde chegaram a
residir mais de 3 000 pessoas e se situava, além do palácio real, com
salas do trono, de audiências e de recepção.
O harém, aposentos
residenciais e habitações dos escravos, residências de funcionários, casa da
moeda, tesouro e outras instalações governamentais, masmorras e uma
mesquita.
Em setembro de 1920,
quando o Exército Vermelho soviético tomou Bucara e extinguiu
definitivamente o Emirado de Bucara, cerca de 80% da Ark foi
destruída, devido a um grande fogo, que segundo alguns foi posto pelos
soviéticos, segundo outros, por ordem do emir Maomé Alim Cã quando fugiu.
O fogo destruiu a
totalidade das construções em madeira. Desde então pouco mudou. A maior
parte da cidade é, desde 1920, um espaço praticamente vazio, com ruínas que
aguardam ser escavadas.
Os esforços de
preservação concentraram-se nas áreas mais visíveis ou públicas, nunca tendo
havido uma estratégia de conservação abrangente. As fundações de barro da
cidade apresentam sinais de erosão nos lados norte e ocidental, onde as
muralhas se têm vindo a desmoronar.
Descrição
É rodeada por uma muralha
de adobe com ameias, inclinadas para o interior. Cinco baluartes
circulares e salientes dão uma proteção adicional. No interior, a rua
principal, orientada na direção Leste-Oeste, constitui o eixo da cidade, que
liga a Bab as-Sahl (Porta Ocidental) à Bab al Djum (Porta Oriental), também
chamada Darvaza Guriyan ou Porta do Vendedor de Feno.
Esta última porta, atualmente fechada, dava
acesso à Mesquita Juma, situada fora da cidade. As restantes construções
históricas estão agrupadas no bairro noroeste da cidade, perto do portal
ocidental principal.
A Porta Ocidental atual
foi construída em 1742 pelo xá persa afexárida Nader Xá. É flanqueada por duas
torres-baluarte ligadas por uma varanda com janelas com pórticos por cima do
portal. Por cima do portal está aquilo que até ao final do século
XIX foi o único relógio mecânico do mundo com números em árabe.
O relógio foi construído
em 1851 por Giovanni Orlandi um relojoeiro italiano cativo que para salvar
a sua vida construiu o relógio e um telescópio para o emir Nasrulá Cã, que
adorava gadgets. Até 1920, ao lado de relógio estavam expostos um enorme
chicote khamcha de seis cordas, símbolo do poder punitivo do emir, e
uma cimitarra valiosa.
A porta é acessível por
uma rampa íngreme, que no passado serviu como naqqar khana (coreto) e
como varanda cerimonial sobre a Praça Registan. Após a rampa há
um dalon (corredor) coberto e estreito que sobre até ao terreiro
principal da cidade.
O corredor tem piso em
pedra e é flanqueado por doze ob khanas (nichos de celas de prisão).
O complexo superior inclui a mesquita da corte, instalações administrativas,
armazéns, tanques de água, casa do tesouro, chancelaria do emir, salão de recepções
cerimoniais e aposentos privados.
Os diversos edifícios
estão organizados hierarquicamente em redor de pátios com arcadas. O status
social do visitante e a proximidade com o emir determinavam as rotas de
circulação e os níveis de acesso individuais.
No interior dos edifícios
que sobreviveram ainda se podem observar fragmentos de decoração, especificamente
madeiras pintadas, molduras de estuque e bases de mármore esculpidas de forma
elaborada.
Em alguns dos edifícios
melhor preservados, como a mesquita da corte, ainda há vestígios de gesso pintado
e de papel machê dourado. A mesquita foi construída no século
XVII por Subhan Quli Khan (r. 1680–1702) e consiste numa
sala de orações rodeada por uma colunata em três lados.
Ao lado da mesquita ficam
os antigos aposentos do kushbegi (primeiro-ministro do emir), onde os
embaixadores estrangeiros eram recebidos. Atualmente estão ali expostas peças
dos sítios arqueológicos de Paikend, Varakhsha e Romitan, em tempos
entrepostos importantes da Rota da Seda.
Outro dos edifícios
sobreviventes que se destaca é o antigo palácio real (dos emires de Bucara).
Este tem um amplo salão de recepções, o kurnish khana, onde também eram
realizadas as cerimónias de coroação dos emires; a última coroação, de Alim Cã,
teve ali lugar em 1910.
O salão foi construído em
1605-1606 e tem colunas de madeira primorosamente esculpidas que encimam um
trono de mármore e um dossel. Ao lado de uma das paredes do salão há uma
câmara subterrânea onde estava o tesouro e a casa da moeda.
Junto ao salão
situavam-se também as cavalariças reais, o harém e o noghorahona,
uma sala para tambores e outros instrumentos musicais usados nos espetáculos
públicos realizados na praça que se encontra abaixo.
O harém, cujas paredes
foram decoradas com molduras douradas e pequenos motivos florais policromados,
foi severamente danificado durante os combates entre as tropas bolcheviques e
do emirado em 1920.
Em volta
do Salamhona (salão de protocolo) encontram-se o que resta dos
apartamentos reais. Aparentemente, estes ficaram de tal forma arruinados que os
últimos emires preferiram habitar permanentemente o palácio de verão.
As peças museológicas em
exposição ilustram a história desde os xaibânidas até aos czares russos. A
coleção de peças inclui um grande chicote que supostamente pertenceu ao
herói lendário persa Rustã, o cadeado que era usado nos portões da Ark,
uma caixa usada para fazer petições ao emir, o trono do emir e os retratos dos
oficiais britânicos Charles Stoddart e Arthur Conolly, executados em 1842
na Praça Registan, em frente à fortaleza, acusados de espionagem.
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