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quarta-feira, janeiro 03, 2024

A Ark de Bucara


 Flanco sul da muralha da Ark

A Ark de Bucara é uma cidadela cuja origem remonta pelo menos século VII d.C. em Bucara, no Uzbequistão. É a edificação mais antiga da cidade, tão antiga como a própria cidadela.

Além de ser uma fortaleza militar, é também uma pequena cidade palaciana que ao longo da história foi a sede de várias cortes reais que existiram em Bucara e na região em volta.

Foi usada como fortaleza até ser tomada pelos soviéticos em 1920 e atualmente é uma atração turística onde há vários museus que mostram a sua história, da cidade e da região.

A cidadela encontra-se no interior do centro histórico de Bucara, o qual é rodeado por uma muralha de adobe com várias fortificações. Atualmente ocupa a parte norte da cidade antiga, mas originalmente foi uma fortaleza construída fora do shahristan (centro da cidade) original.

Devido a ter sido usada continuamente ao longo de pelo menos doze séculos, nela podem-se observar alguns aspetos da evolução da arquitetura militar da Ásia Central desde os primeiros tempos da era islâmica, no século VIII, até ao final do Império Russo.

História

Não se sabe ao certo quando foi construída a primeira fortaleza ou cidadela antecessora da que existe atualmente. Parece certo que foi na Antiguidade e segundo algumas fontes haverá vestígios arqueológicos da existência duma cidadela no local da atual no século IV a.C. 

A colina com cerca de 20 metros de altura onde se encontra é artificial e foi formada pelas sucessivas reconstruções ao longo dos séculos. Segundo alguns autores, a menção histórica mais antiga, de fontes locais, fala numa fortaleza construída no século VII d.C. pelo Bukhar Khudat (rei) Bidun, que se desmoronou pouco depois e foi reconstruída, seguindo os conselhos de adivinhos, para imitar a forma da "constelação do Grande Urso". 

Desde esse tempo que a cidade tem a si associadas histórias lendárias. Segundo Maomé ibne Jafar Narshakhi, o historiador de Bucara da primeira metade do século X, a Ark teria sido construída pelo príncipe lendário persa Seoses (Siyâvash), que segundo a lenda está sepultado onde antigamente existia a Porta Kalon, junto à Mesquita Juma (ou Kalyan ou Kalon). 

A cidade começou a tomar a forma atual no século XVI, durante o período xaibânisa, e praticamente todos os edifícios atualmente existentes são dos séculos XVIII a XX. 



Entrada principal (porta ocidental) da Ark

Foi no século XVI que a cidade deixou de ser apenas uma fortaleza e residência real para passar a alojar a generalidade dos edifícios governamentais, onde chegaram a residir mais de 3 000 pessoas e se situava, além do palácio real, com salas do trono, de audiências e de recepção.

O harém, aposentos residenciais e habitações dos escravos, residências de funcionários, casa da moeda, tesouro e outras instalações governamentais, masmorras e uma mesquita. 

Em setembro de 1920, quando o Exército Vermelho soviético tomou Bucara e extinguiu definitivamente o Emirado de Bucara, cerca de 80% da Ark foi destruída, devido a um grande fogo, que segundo alguns foi posto pelos soviéticos, segundo outros, por ordem do emir Maomé Alim Cã quando fugiu.

O fogo destruiu a totalidade das construções em madeira. Desde então pouco mudou. A maior parte da cidade é, desde 1920, um espaço praticamente vazio, com ruínas que aguardam ser escavadas.

Os esforços de preservação concentraram-se nas áreas mais visíveis ou públicas, nunca tendo havido uma estratégia de conservação abrangente. As fundações de barro da cidade apresentam sinais de erosão nos lados norte e ocidental, onde as muralhas se têm vindo a desmoronar.

Descrição

É rodeada por uma muralha de adobe com ameias, inclinadas para o interior. Cinco baluartes circulares e salientes dão uma proteção adicional. No interior, a rua principal, orientada na direção Leste-Oeste, constitui o eixo da cidade, que liga a Bab as-Sahl (Porta Ocidental) à Bab al Djum (Porta Oriental), também chamada Darvaza Guriyan ou Porta do Vendedor de Feno.

 Esta última porta, atualmente fechada, dava acesso à Mesquita Juma, situada fora da cidade. As restantes construções históricas estão agrupadas no bairro noroeste da cidade, perto do portal ocidental principal.

A Porta Ocidental atual foi construída em 1742 pelo xá persa afexárida Nader Xá. É flanqueada por duas torres-baluarte ligadas por uma varanda com janelas com pórticos por cima do portal. Por cima do portal está aquilo que até ao final do século XIX foi o único relógio mecânico do mundo com números em árabe. 



Sala do trono

O relógio foi construído em 1851 por Giovanni Orlandi um relojoeiro italiano cativo que para salvar a sua vida construiu o relógio e um telescópio para o emir Nasrulá Cã, que adorava gadgets. Até 1920, ao lado de relógio estavam expostos um enorme chicote khamcha de seis cordas, símbolo do poder punitivo do emir, e uma cimitarra valiosa. 

A porta é acessível por uma rampa íngreme, que no passado serviu como naqqar khana (coreto) e como varanda cerimonial sobre a Praça Registan. Após a rampa há um dalon (corredor) coberto e estreito que sobre até ao terreiro principal da cidade.

O corredor tem piso em pedra e é flanqueado por doze ob khanas (nichos de celas de prisão). O complexo superior inclui a mesquita da corte, instalações administrativas, armazéns, tanques de água, casa do tesouro, chancelaria do emir, salão de recepções cerimoniais e aposentos privados.

Os diversos edifícios estão organizados hierarquicamente em redor de pátios com arcadas. O status social do visitante e a proximidade com o emir determinavam as rotas de circulação e os níveis de acesso individuais.

No interior dos edifícios que sobreviveram ainda se podem observar fragmentos de decoração, especificamente madeiras pintadas, molduras de estuque e bases de mármore esculpidas de forma elaborada.

Em alguns dos edifícios melhor preservados, como a mesquita da corte, ainda há vestígios de gesso pintado e de papel machê dourado. A mesquita foi construída no século XVII por Subhan Quli Khan (r. 1680–1702) e consiste numa sala de orações rodeada por uma colunata em três lados. 

Ao lado da mesquita ficam os antigos aposentos do kushbegi (primeiro-ministro do emir), onde os embaixadores estrangeiros eram recebidos. Atualmente estão ali expostas peças dos sítios arqueológicos de Paikend, Varakhsha e Romitan, em tempos entrepostos importantes da Rota da Seda.

Outro dos edifícios sobreviventes que se destaca é o antigo palácio real (dos emires de Bucara). Este tem um amplo salão de recepções, o kurnish khana, onde também eram realizadas as cerimónias de coroação dos emires; a última coroação, de Alim Cã, teve ali lugar em 1910. 

O salão foi construído em 1605-1606 e tem colunas de madeira primorosamente esculpidas que encimam um trono de mármore e um dossel. Ao lado de uma das paredes do salão há uma câmara subterrânea onde estava o tesouro e a casa da moeda.

Junto ao salão situavam-se também as cavalariças reais, o harém e o noghorahona, uma sala para tambores e outros instrumentos musicais usados nos espetáculos públicos realizados na praça que se encontra abaixo. 

O harém, cujas paredes foram decoradas com molduras douradas e pequenos motivos florais policromados, foi severamente danificado durante os combates entre as tropas bolcheviques e do emirado em 1920.

Em volta do Salamhona (salão de protocolo) encontram-se o que resta dos apartamentos reais. Aparentemente, estes ficaram de tal forma arruinados que os últimos emires preferiram habitar permanentemente o palácio de verão.

As peças museológicas em exposição ilustram a história desde os xaibânidas até aos czares russos. A coleção de peças inclui um grande chicote que supostamente pertenceu ao herói lendário persa Rustã, o cadeado que era usado nos portões da Ark, uma caixa usada para fazer petições ao emir, o trono do emir e os retratos dos oficiais britânicos Charles Stoddart e Arthur Conolly, executados em 1842 na Praça Registan, em frente à fortaleza, acusados de espionagem.

 


Mesquita da corte

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