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segunda-feira, novembro 24, 2025

Cidade de Herculano, Itália - Destruída pelo Vesúvio


 

Herculano: A Cidade Silenciosa que o Vesúvio Preservou

Herculano era uma antiga cidade romana localizada onde hoje se encontra a moderna Ercolano, na Campânia, Itália. Assim como sua vizinha Pompeia, foi tragicamente soterrada pela erupção catastrófica do Monte Vesúvio no ano de 79 d.C. Contudo, o destino de Herculano seguiu um curso distinto e, em alguns aspectos, ainda mais surpreendente.

Embora fosse menor que Pompeia - com uma população estimada entre 4 e 5 mil habitantes - Herculano era consideravelmente mais rica. Tornara-se um refúgio costeiro para membros da elite romana, que ali desfrutavam de casas luxuosas, mosaicos refinados, jardins privados e uma vista privilegiada do mar. A abundância de revestimentos em mármore colorido e a arquitetura elaborada refletem esse ambiente de prestígio e opulência.

A Preservação Inesperada

Ao contrário de Pompeia, que foi coberta por uma chuva contínua de cinzas e pedra-pomes, Herculano foi engolida principalmente por ondas piroclásticas: massas ardentes de gases tóxicos, cinzas microscópicas e detritos ultra quentes que desceram dos flancos do monte a velocidades superiores a 150 km/h.

Esse tipo de soterramento teve uma consequência singular: a carbonização e preservação de materiais orgânicos, algo extremamente raro na arqueologia romana. Telhados, portas, camas, prateleiras, alimentos, tecidos e até papiros foram carbonizados instantaneamente, impedindo sua decomposição.

Entre esses tesouros se destaca a famosa Vila dos Papiros, onde centenas de rolos filosóficos - provavelmente pertencentes à biblioteca de Lúcio Calpúrnio Pisão, sogro de Júlio César - sobreviveram até os dias de hoje.

Uma Redescoberta por Acaso

A história tradicional afirma que Herculano foi redescoberta em 1709, quando a escavação de um poço atingiu parte do antigo teatro romano. No entanto, evidências indicam que estruturas antigas já haviam sido encontradas antes desse episódio, durante obras locais de terraplanagem.

Os primeiros anos após a descoberta foram marcados por uma espécie de "corrida ao tesouro". Túnel após túnel era escavado de forma clandestina, com o objetivo de retirar obras de arte, esculturas e objetos preciosos. Muitos desses itens foram parar em coleções particulares europeias, o que se tornou um desafio para historiadores e arqueólogos posteriores.

Somente em 1738 iniciaram-se escavações oficiais, patrocinadas pela corte Bourbon de Nápoles. Desde então, o sítio passou por diferentes fases de exploração. Hoje, grande parte dos recursos é destinada à preservação das áreas já descobertas, uma vez que apenas parte da antiga cidade foi escavada - e o restante permanece protegido sob camadas de material vulcânico.

A Erupção: A Tragédia que Paralisou o Tempo

Graças às cartas de Plínio, o Jovem, dirigidas ao historiador Tácito, e às evidências arqueológicas, podemos reconstruir o desenrolar dos acontecimentos com grande precisão.

Primeiro dia – início da tarde

Por volta das 13h, o Vesúvio expeliu uma colossal coluna de material vulcânico que atingiu entre 27 e 33 km de altura. Plínio comparou a forma dessa coluna a um pinheiro-manso, com um tronco vertical e uma copa larga no topo - a primeira descrição registrada do fenômeno que hoje chamamos de erupção pliniana.

Os ventos sopravam para sudeste, o que fez com que Pompeia recebesse o impacto inicial. Em poucas horas, a cidade vizinha estava coberta por cinzas e pedra-pomes, levando casas ao colapso.

Já Herculano, situada a oeste do vulcão, foi pouco afetada nesse momento. Apenas uma fina camada de cinzas caiu sobre suas ruas. Mesmo assim, o estranho escurecimento do céu e a chuva de cinzas foram suficientes para que a maioria da população fugisse ou buscasse abrigo.

Segundo dia - madrugada mortal

Por volta da 1h da manhã, a enorme coluna eruptiva entrou em colapso. A primeira onda piroclástica desceu pelos flancos do Vesúvio a cerca de 160 km/h, alcançando Herculano em poucos instantes.

O calor atingiu níveis extremos - mais de 250 ºC - suficiente para provocar morte instantânea. Estudos modernos mostraram que as vítimas não morreram por asfixia, como se acreditava anteriormente, mas sim por exposição súbita a temperaturas letais. Em muitos casos, o calor foi tão intenso que vaporizou tecidos moles em segundos.

Uma sequência de seis fluxos piroclásticos posteriores enterrou a cidade sob cerca de 20 metros de material vulcânico, preservando de modo extraordinário edifícios, móveis, esculturas e até pessoas em suas últimas posturas.

Entre os achados mais impressionantes estão os esqueletos de aproximadamente 300 pessoas encontrados nas chamadas “casas de barco”, próximo à antiga praia. Eram, ao que tudo indica, moradores que aguardavam evacuação marítima que nunca chegou.

A Questão da Data da Erupção

Durante séculos, acreditou-se que o desastre ocorreu em 24 de agosto de 79 d.C., baseado em manuscritos medievais das cartas de Plínio. Porém, evidências arqueológicas vêm apontando para uma data em outubro, possivelmente 17 de outubro: as vítimas vestiam roupas de frio, incompatíveis com agosto; frutas e legumes encontrados eram típicos do outono italiano; ânforas de vinho estavam lacradas - algo que ocorria no fim da colheita, em outubro; moedas achadas com uma vítima traziam títulos imperiais atualizados apenas após setembro. Esses detalhes têm levado muitos estudiosos a revisarem a cronologia tradicional.


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