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domingo, março 09, 2025

A obsolescência do homem


 

Foi em 1956 que o filósofo judeu alemão Günther Anders escreveu está reflexão profética, publicada em sua obra A Obsolescência do Homem:

"Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não se deve agir de maneira violenta. Métodos arcaicos, como os de Adolf Hitler, estão claramente ultrapassados. Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta nem sequer ocorra aos homens.

O ideal seria moldar os indivíduos desde o nascimento, limitando suas capacidades biológicas inatas, restringindo o potencial de sua imaginação e autonomia.

Esse condicionamento prosseguiria, então, com a redução drástica do nível e da qualidade da educação, transformando-a em mera ferramenta de inserção profissional.

Um indivíduo sem cultura possui um horizonte de pensamento estreito, e quanto mais seu raciocínio se restringe a preocupações materiais e medíocres, menos ele é capaz de se rebelar. Deve-se garantir que o acesso ao conhecimento se torne cada vez mais difícil e elitista, aprofundando o abismo entre o povo e a ciência.

A informação destinada ao público geral precisa ser esvaziada de qualquer conteúdo subversivo ou provocador, anestesiada em sua essência. Acima de tudo, nada de filosofia.

Aqui, a persuasão deve substituir a violência direta: disseminar-se-á, em escala massiva, por meio da televisão e outros meios, um entretenimento imbecilizante, que exalte constantemente o emocional e o instintivo.

Ocuparemos as mentes com o que é fútil e lúdico. Com conversas vazias e música incessante, evitaremos que o espírito questione, pense ou reflita. A sexualidade será elevada ao topo das prioridades humanas – como anestésico social, não há nada mais eficaz.

De modo geral, baniremos a seriedade da existência, ridicularizaremos tudo o que possui valor elevado e sustentaremos uma apologia contínua à superficialidade.

Assim, a euforia da publicidade e do consumo se estabelecerá como o padrão de felicidade humana e o modelo de liberdade. Esse condicionamento gerará uma integração tão profunda que o único medo restante – um medo que será necessário cultivar – será o de ser excluído do sistema e, consequentemente, perder o acesso às condições materiais indispensáveis para essa 'felicidade'.

O homem-massa, assim fabricado, deve ser tratado como o que é: um produto, um bezerro em um rebanho, vigiado e controlado como tal. Tudo o que adormece sua lucidez e seu senso crítico é socialmente benéfico; tudo o que poderia despertá-los deve ser combatido, ridicularizado, sufocado.

Qualquer doutrina que questione o sistema será tachada de subversiva ou terrorista, e aqueles que a defendem serão tratados como tais." Assim está o Brasil.

Günther Anders, A Obsolescência do Homem, 1956.

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