Anna Elisabeth
"Anneliese" Michel nasceu em Leiblfing – Alemanha no dia 21 de
setembro de 1952. Foi uma estudante alemã submetida a diversos rituais de
exorcismo pela Igreja Católica por ter sido alegadamente possuída por
uma legião de demônios.
As sessões de exorcismo
foram executadas pelos padres Ernest Alt e Arnold Renz em 1975 e 1976. O Caso
Klingenberg, como passou a ser conhecido pelo grande público, deu origem a
vários estudos e pesquisas, tanto de natureza teológica quanto cientifica,
e serviu como inspiração para os filmes O Exorcismo de Emily Rose (2005)
e Requiem (2006).
Anneliese experimentou graves
distúrbios psiquiátricos a partir dos 16 anos de idade até sua morte, aos 23
anos, sendo seu quadro clínico composto desde desnutrição secundária à
doença mental. Depois de vários anos de tratamento psiquiátrico ineficaz, ela
se recusou ao tratamento médico e solicitou um exorcismo.
As graves consequências
atribuídas ao ritual de exorcismo sobre a jovem motivaram a abertura de um
processo criminal pelos promotores de justiça locais contra os pais de
Anneliese e os padres exorcistas, causando uma grande polêmica em toda a Europa
e dividindo a opinião pública mundial.
Tanto os padres que
realizaram o exorcismo quanto os pais de Michel foram condenados por
homicídio negligente porque renunciaram ao tratamento médico quando do
início do tratamento por meio do exorcismo. A mãe de Michel alegou: "Deus
nos disse para exorcizar os demônios de minha filha. Eu não me arrependo de sua
morte".
Infância
Anneliese
Michel foi criada com as suas três irmãs no pequeno município de Klingenberg am
Main. Seus pais, Anna e Josef Michel, muito religiosos, lhe deram uma
educação profundamente católica. O pai de Anneliese mantinha a família
trabalhando em uma serraria.
Quando
tinha dezesseis anos, Anneliese sofreu uma grave convulsão e foi diagnosticada
com epilepsia. Logo, ela também começou a ter alucinações enquanto rezava. Em
1973, ela sofria de depressão, com tendencias de suicídio e começou a
ouvir vozes que diziam que ela estava "condenada” e que iria
"apodrecer no inferno".
O seu
comportamento tornou-se cada vez mais bizarro. Ela andava nua pela casa, fazia
suas necessidades em qualquer lugar, rasgava suas roupas, comia carvão e
insetos como moscas e aranhas e chegou a beber sua própria urina.
Tratamento Psiquiátrico
Depois de ser internada em
um hospital psiquiátrico a saúde de Anneliese não melhorou. Além disso,
sua depressão começou a se aprofundar. Ela começou a ficar cada vez mais
frustrada com a intervenção médica, que não melhorava a sua condição. Em longo
termo, o tratamento médico não foi bem sucedido, seu estado, incluindo a sua
depressão, agravaram-se com o tempo.
Tendo centrado toda a sua
vida em torno da fé católica, Anneliese começou a atribuir sua condição
psiquiátrica à possessão demoníaca. Anneliese tornou-se intolerante à lugares e
objetos sagrados, como crucifixos, que contribuiu aos que achavam ser possessão
demoníaca. Ao longo do curso dos ritos religiosos Anneliese sofreu muito. Foram
prescritos a ela medicamentos antipsicóticos, que ela pode ou não ter parado de
tomar.
Em junho de 1970, Anneliese
sofreu uma terceira convulsão no hospital psiquiátrico, neste momento foi
prescrito pela primeira vez anticonvulsivantes. O nome desta droga não é
conhecido e não trouxe alívio imediato aos sintomas de Anneliese. Ela continuou
falando sobre o que ela chamou de "faces do diabo", vistas por ela durante
vários momentos do dia.
Anneliese ficou convencida
de que a medicina convencional era de nenhuma ajuda. Acreditando cada vez mais
que sua doença era um tipo de distúrbio espiritual, recorreu então, à
Igreja para que a exorcismassem. Naquele mesmo mês, lhe foi prescrita uma
outra droga, Aolept (pericyazine), que é uma fenotiazina com propriedades
gerais semelhantes às da clorpromazina: pericyazine é usado no tratamento de
psicoses diversas, incluindo esquizofrenia e distúrbios de comportamento.
Em novembro de 1973,
Anneliese iniciou o tratamento com Tegretol (carbamazepina), que é uma droga
antiepiléptica. Anneliese tomou o medicamento com frequência, até pouco antes
de sua morte.
Exorcismo e Morte
Anneliese fez uma
peregrinação a San Damiano com um bom amigo da família, Thea Hein,
que regularmente organizava peregrinações para "lugares santos" não
reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica. Como Anneliese era incapaz
de passar por um crucifixo e se recusava beber a água de uma nascente sagrada,
seu acompanhante concluiu que ela estava sofrendo de possessão demoníaca.
Tanto Anneliese quanto sua
família se convenceram de que ela estava realmente possuída e consultaram
vários sacerdotes, pedindo um exorcismo. Os sacerdotes se recusaram,
recomendaram a continuação do tratamento médico e informaram à família que para
a realização de exorcismo era necessária a permissão de um bispo.
Eventualmente, em uma
cidade próxima, se depararam com vigário Ernst Alt, que, depois de ver
Anneliese, declarou que ela não "parecia uma epiléptica" e que ele
não a via tendo convulsões. Ele acreditava que a menina estava sofrendo
uma possessão demoníaca.
Alt pediu ao bispo para
permitir um exorcismo. Em setembro de 1975, o bispo Josef Stangl concedeu uma
permissão ao Padre Renz para exorcizar Anneliese de acordo com o Rituale
Romanum de 1614, mas ordenou total sigilo sobre o caso. Renz
realizara a primeira sessão em 24 de setembro.
Uma vez convencidos de sua
possessão, Anneliese, seus pais e os exorcistas pararam de procurar tratamento
médico e colocaram seu destino nas mãos apenas dos ritos de exorcismo. Sessenta
e sete sessões de exorcismo, uma ou duas por semanas, com duração de até quatro
horas, foram realizadas durante cerca de 10 meses em 1975 e 1976.
Em algum momento, Michel
começou a falar cada vez mais sobre a morte para expiar a juventude rebelde do
dia e os padres apóstatas da igreja moderna e se recusou a comer. A pedido
da própria Anneliese, os médicos não estavam mais sendo consultados.
Em 1 de julho de 1976, Anneliese
morreu durante o sono. O relatório da autópsia indicou a causa da morte foi
desnutrição e desidratação de quase um ano de semi-inanição, enquanto
os rituais de exorcismo eram realizados.
Julgamento
Logo após o falecimento de
Anneliese, os padres Ernest Alt e Arnold Renz fizeram o comunicado do óbito às
autoridades locais que, imediatamente, abriram inquérito e procederam às
investigações preliminares.
Os promotores públicos
responsabilizaram os dois padres e os pais de Anneliese de homicídio causado
por negligência médica. O bispo Josef Stangl, embora tivesse dado a autorização
para o exorcismo, não foi indiciado pela promotoria em virtude de sua idade avançada
e seu estado de saúde debilitado, vindo a falecer em 1978. Josef Stangl foi
quem consagrou bispo o padre Joseph Ratzinger, que no futuro se tornaria o Papa
Bento XVI.
O julgamento do processo,
que passou a ser denominado como o Caso Klingenberg, iniciou-se em
30 de março de 1978 e despertou grande interesse da opinião pública alemã.
Perante o tribunal, os médicos afirmaram que a jovem não estava possuída, muito
embora o Dr. Richard Roth, ao qual foi solicitado auxílio médico pelo padre
Ernest Alt, teria feito a afirmação à época que não havia medicação eficaz
contra a ação de forças demoníacas.
Os médicos psiquiatras, que
prestaram depoimento, afirmaram que os padres tinham incorrido inadvertidamente
em "indução doutrinária" em razão dos ritos, o que havia reforçado o
estado psicótico da jovem, e que, se ela tivesse sido encaminhada ao hospital e
forçada a se alimentar, o seu falecimento não teria ocorrido.
A defesa judicial dos
padres foi feita por advogados contratados pela Igreja. A defesa dos pais de
Anneliese argumentou que o exorcismo tinha sido ato lícito e que a Constituição
Alemã protege os seus cidadãos no exercício irrestrito de suas crenças
religiosas.
A defesa também recorreu ao
conteúdo das fitas gravadas durante as sessões de exorcismo, que foram
apresentadas ao tribunal de justiça, onde, por diversas vezes, as vozes e os
diálogos - muitas vezes perturbadores - dos supostos demônios eram
perfeitamente audíveis.
Em uma das fitas é possível
discernir vozes masculinas de dois supostos demônios discutindo entre si qual
deles teria de deixar primeiro o corpo de Anneliese. Ambos os padres
demonstraram profunda convicção de que ela estava verdadeiramente possessa e
que teria sido finalmente libertada pelo exorcismo, um pouco antes da sua morte.
Ao fim do processo, os pais
de Anneliese e os dois padres foram considerados culpados de negligência médica
e foi determinada uma sentença de seis meses com liberdade condicional sob
fiança.
Exumação
Antes do início do
processo, os pais de Anneliese solicitaram às autoridades locais uma permissão
para exumar os restos mortais de sua filha. Eles fizeram esta solicitação em
virtude de terem recebido uma mensagem de uma freira carmelita do distrito
de Allgau, no sudoeste da Baviera.
A freira relatou aos pais
da jovem que teria tido uma visão na qual o corpo de Anneliese ainda estaria
intacto ou incorrupto e que esta seria a prova definitiva do caráter
sobrenatural dos fatos ocorridos. O motivo oficial que foi dado às autoridades
foi o de que Annieliese tinha sido sepultada às pressas em um sarcófago
precário.
Os relatórios oficiais,
entretanto, divulgaram a informação que o corpo já estava em avançado estado de
decomposição. As fotos que foram tiradas durante a exumação jamais foram divulgadas.
Várias pessoas chegaram a
especular que os exumadores moveram o corpo de Anneliese do antigo sarcófago
para o novo, feito de carvalho, segurando-o pelas mãos e pernas, o que seria um
indício de que o corpo não estaria na realidade muito decomposto.
Os pais e os padres
exorcistas foram desencorajados a ver os restos mortais de Anneliese. O padre
Arnold Renz mais tarde afirmou que teria sido inclusive advertido a não entrar
no mortuário.
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