Jones começou o Templo do Povo na década de 1950. Ele
mudou a sua seita para a California em meados dos anos 1960 e ganhou
notoriedade com o movimento da sede da igreja em São Francisco, no início de
1970.
Infância e
Formação
Jim Jones
nasceu em Creta, uma pequena cidade do Condado de Randolph, no interior do
estado de Indiana, Estados Unidos. Filho de James Thurman Jones
(1887–1951), um veterano da Primeira Guerra Mundial, e Lynetta Putnam
(1902–1977), que acreditava que tinha dado à luz um messias. Ele era
descendente de irlandeses e de galeses.
A alegação de Jones de que
teria ascendência indígena cherokee, por parte da mãe, nunca foi comprovada.
A infância de Jim se passou no período da Grande
Depressão causada pela crise econômica de 1929, o que obrigou os Jones a
se estabelecerem perto de Lynn, em 1934.
Após a separação dos pais, a mãe
de Jim mudou-se com os filhos para Richmond, também em Indiana, onde ele
concluiu seus estudos em 1948.
No ano seguinte, Jim casou-se com Marceline
Baldwin, uma enfermeira, e em 1951 finalmente mudou-se para Indianápolis,
onde viveu uma década.
Desde a infância, Jim Jones mostrou inclinações
místicas e na juventude foi um leitor dedicado de obras políticas e sociais.
Também demonstrou simpatia pelo marxismo e pelas reivindicações dos
afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial, sintetizadas
então na militância do ator Paul Robeson, e na candidatura progressista de
Henry A. Wallace à presidência dos estados Unidos, em 1948.
Nessa época, Jones desenvolveu suas ideias sobre a
ação política e também começou a buscar uma expressão destas dentro da
religião.
Em 1952, tornou-se estudante em um seminário metodista, do qual foi
expulso por defender a integração racial, e trabalhou algum tempo junto aos
batistas do Sétimo Dia.
Criação do
Templo dos Povos
Em 1954, Jones
criou a sua própria igreja em uma área da cidade racialmente integrada. A seita
recebeu vários nomes até adquirir a denominação definitiva de Peoples
Temple Christian Church Full Gospel (Templo dos Povos: Igreja Cristã
do Evangelho Pleno), em 1959.
Através do Templo, Jim Jones adquiriu notoriedade e
apoio político e da mídia em Indianápolis, contribuindo para pôr fim à
segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais.
Em 1960,
o prefeito democrata Charles Boswell o nomeou como diretor local da
comissão de direitos humanos. No entanto, Boswell e Jones acabaram entrando em
atrito quando o líder do Templo foi agredido em uma reunião do NAACP.
Família Arco-íris
Jim e
Marceline incentivaram a adoção de crianças de raças diferentes pelos membros
de sua igreja. Em 1954, começaram eles próprios a sua Rainbow Family (família
“arco-íris”) ao adotar Agnes, uma nativa americana de 11 anos.
Nos anos
seguintes, os Jones adotaram três órfãos de guerra coreanos, um afro-americano
(o primeiro a ser adotado por um casal branco no estado de Indiana, em 1961) e
um branco. O casal teve apenas um filho biológico, chamado Stephen Gandhi
Jones.
Jim Jones também foi atacado por racismo brancos,
que fizeram sucessivas ameaças à sua vida e aos integrantes do Templo, embora
seja possível que o próprio Jones tenha manipulado algumas dessas reações em
favor de sua pregação político-religiosa.
No Brasil
Depois de um
discurso em 1961 sobre o apocalipse nuclear e depois de listar Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em um artigo de janeiro de 1962 na revista Esquire,
como um lugar seguro em uma guerra nuclear, Jones viajou com a sua família para
a cidade com a ideia da criação de um novo local para o Templo.
Em seu
caminho ao Brasil, Jones fez sua primeira viagem para a Guiana, então ainda uma
colônia britânica.
Após chegar em Belo Horizonte, Jones alugou uma
modesta casa de três quartos. Ele estudou a economia local e a
receptividade das minorias raciais com a sua mensagem, embora o idioma tenha
permanecido como uma barreira.
Jones tomou cuidado para não retratar a si
mesmo como um comunista em território estrangeiro e falava de um estilo de
vida comunitário apostólico e não de Castro ou Marx.
No entanto, a falta de recursos na região fez com que
Jones e seus seguidores se mudassem para o Rio de Janeiro em meados de
1963, onde eles trabalharam com os pobres em favelas cariocas. Jones
também explorou o sincretismo das religiões brasileiras.
Jones foi atormentado pela culpa de deixar para trás
Indiana e a luta pelos direitos civis e, possivelmente, perder tudo o que ele
tinha tentado construir lá.
Quando os pregadores associados a Jones em Indiana
lhe disseram que o Templo estava prestes a entrar em colapso sem ele, Jones
voltou aos Estados Unidos.
Templo em São
Francisco
A perspectiva
de guerra nuclear – Jones faria uma nova previsão para 15 de julho de 1967 –
continuou alimentando os objetivos de expansão de sua seita.
Ainda em 1965,
Jones começou a transferir a comunidade do Templo dos Povos para Ukiah, na
região do vale das sequoias, no estado da Califórnia. Em 1970, já existiam
sucursais do Templo em San Francisco e Los Angeles.
O movimento se expandia no país através de caravanas,
distribuição de folhetos (especialmente entre viciados em drogas e sem-teto),
concentrações em grandes cidades (como Houston, Detroit e Cleveland) e reuniões
de testemunho.
No entanto, todas as reuniões eram sediadas em San Francisco,
que se tornou a sede da organização em 1972.
Em seu auge, em meados dos anos
70, o Templo dos Povos reuniu cerca de 3 mil membros, dos quais 70 a 80% eram
afro-americanos pobres. Estatísticas exageradas do próprio movimento
subiam seu número para 20 mil pessoas.
As finanças do movimento provinham de doações de seus
membros ou de pessoas influentes. Objetos pessoais de Jones e amuletos eram
também vendidos e o Templo chegou a ter estação de rádio e sua própria
gravadora de discos.
Jonestown
Após denúncias
motivadas pela deserção de oito jovens membros da igreja em 1973, o grupo
dirigente do Templo se fechou em torno de Jones e sua liderança pessoal. A
partir de então, relatos de ex-membros registram planos e simulações de
suicídio coletivo.
Em 1974, o Templo arrendou uma gleba de terra na
Guiana, junto à localidade de Port Kaituma, próximo à fronteira com a Venezuela.
Ali Jones, com sua família, pretendia erguer o “Projeto Agrícola” do Templo dos
Povos, formando a comunidade informalmente denominada de Jonestown.
Os
primeiros 50 residentes, transferidos da igreja em San Francisco, chegaram em
1977. No ano seguinte, já eram mais de 900 (dos quais 68% eram afro-americanos).
Tratava-se de uma tentativa de construir uma
comunidade rural autossustentável em um local com solo pobre e com pouca
água doce.
Além disso, a comunidade estava superpovoada quando se leva em conta
os recursos disponíveis nas proximidades. Essas circunstâncias que contribuíram
para a deterioração das condições de vida no local.
Ao mesmo tempo
em que o fisco público fechava o cerco contra a isenção de impostos usufruída
pelo Templo, Jones se referia de forma hostil ao governo dos Estados Unidos
como o Anticristo, em rápida marcha em direção ao fascismo, e ao capitalismo
como o regime econômico do Anticristo.
Além disso,
pesaram contra Jones acusações de sequestro de crianças de ex-integrantes que
tinham abandonado o Templo.
Outras denúncias incluíam: 1) ameaças físicas,
morais e mentais diretamente aos membros da seita, separados de qualquer
contato com suas famílias; 2) tortura psicológica, com privação de sono e
de alimentos; 3) exigência de entrega de propriedades e 25% da renda de cada
membro da seita; 4) interferências de Jones na escolha do casamento e na vida
sexual dos casais; 5) isolamento das crianças em relação aos seus pais; 6)
campanha constante junto à mídia para dar uma impressão favorável e boa a Jones
e ao Templo.
Após o assassinato do congressista Leo Ryan, os 909
habitantes de Jonestown, incluindo 304 crianças, morreram de envenenamento
por cianeto, principalmente em torno do pavilhão principal do assentamento.
Isto
resultou no maior número de civis estadunidenses mortos em um ato
deliberado até os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O FBI recuperou
mais tarde uma gravação de áudio de 45 minutos do suicídio em andamento.