Maria Mandel - A besta de Auschwitz
A
visão estereotipada de que mulheres são naturalmente mais sentimentais e
compassivas em comparação aos homens foi brutalmente desmentida por figuras
como Maria Mandel, uma das mais cruéis e notórias guardas dos campos de
concentração nazistas.
Durante
o regime de Hitler, algumas mulheres que serviram na máquina de extermínio da
Alemanha nazista demonstraram uma crueldade tão extrema quanto, ou até
superior, à de seus colegas homens. Maria Mandel, conhecida como "A Besta
de Auschwitz", é um exemplo emblemático dessa desumanidade.
Nascida
em 10 de janeiro de 1912, na cidade de Münzkirchen, na Áustria, Maria Mandel
ingressou no sistema de campos de concentração nazistas com uma dedicação que a
levou a se destacar rapidamente entre seus superiores.
Sua
trajetória no nazismo começou em 1938, quando se juntou à SS (Schutzstaffel), a
organização paramilitar responsável por muitas das atrocidades do regime.
Mandel foi inicialmente enviada ao campo de concentração de Ravensbrück,
recém-construído nos arredores de Berlim, em 1939.
Esse
campo, projetado principalmente para prisioneiras mulheres, foi onde ela
começou a demonstrar sua eficiência e crueldade. Sua habilidade em impor
disciplina rígida e sua falta de empatia impressionaram os comandantes,
resultando em sua rápida promoção ao cargo de SS-Oberaufseherin (Supervisora
Sênior).
Nesse
papel, ela supervisionava as chamadas diárias de prisioneiras, coordenava o
trabalho dos guardas subordinados e determinava punições brutais, como
chicotadas, espancamentos e outras formas de violência física e psicológica.
Em
7 de outubro de 1942, Maria Mandel foi transferida para o campo de extermínio
de Auschwitz-Birkenau, na Polônia ocupada, onde sua crueldade alcançaria níveis
ainda mais extremos.
Promovida
a Líder de Campo Feminino (SS-Lagerführerin), ela se tornou a segunda em
comando, subordinada apenas ao comandante do campo, Rudolf Höss.
Nesse
cargo, Mandel exercia poder absoluto sobre todas as prisioneiras e guardas
mulheres nos campos e subcampos femininos do complexo de Auschwitz. Sua
autoridade era temida, e sua presença inspirava terror entre as vítimas.
Testemunhas
relatam que Mandel tinha um comportamento sádico e imprevisível. Um de seus
hábitos mais macabros era posicionar-se no portão de entrada de Birkenau,
observando as recém-chegadas.
Se
alguma prisioneira ousasse olhar em sua direção, era imediatamente marcada para
execução sumária. Esse prazer em exercer poder de vida e morte sobre suas
vítimas era uma característica que a destacava mesmo entre outros nazistas
cruéis.
Mandel
também formou uma aliança próxima com outra figura infame, Irma Grese,
conhecida como "A Hiena de Auschwitz". Mandel promoveu Grese a chefe
do campo de prisioneiras judias húngaras em Auschwitz-Birkenau, um dos setores
mais letais do complexo.
Juntas,
elas implementaram um regime de terror, selecionando pessoalmente prisioneiras
para as câmaras de gás e supervisionando torturas e execuções. Estima-se que
Maria Mandel tenha sido diretamente responsável pela morte de mais de 500 mil
mulheres e crianças, incluindo judias, ciganas e prisioneiras políticas,
enviadas para as câmaras de gás nos campos de Auschwitz I e II.
Entre
as atrocidades atribuídas a Mandel, destaca-se sua prática de escolher algumas
prisioneiras para servirem como "mascotes" ou "animais de
estimação".
Essas
mulheres eram temporariamente poupadas das câmaras de gás, mas apenas até que
Mandel se cansasse delas, momento em que eram enviadas para a morte sem
hesitação.
Sua
crueldade era particularmente notória com crianças, que ela selecionava com um
prazer sádico para execução. Além disso, Mandel foi a responsável pela criação
da Orquestra Feminina de Auschwitz, composta por prisioneiras talentosas que
eram forçadas a tocar música durante as chamadas diárias, seleções, execuções e
transportes.
A
orquestra, que incluía peças clássicas e marchas, servia como uma fachada
macabra para encobrir a brutalidade do campo, criando uma ilusão de ordem e
normalidade enquanto as atrocidades ocorriam.
Em
novembro de 1944, com o avanço das forças Aliadas, Mandel foi transferida para
o subcampo de Mühldorf, parte do complexo de Dachau, onde continuou suas
atividades até maio de 1945.
Com
a iminente derrota da Alemanha nazista, ela fugiu para as montanhas do sul da
Baviera, retornando à sua cidade natal, Münzkirchen, na Áustria, na tentativa
de escapar da justiça. No entanto, em 10 de agosto de 1945, foi capturada pelas
forças americanas.
Durante
os interrogatórios, os Aliados notaram sua inteligência e dedicação ao trabalho
nos campos, características que a tornaram uma figura tão eficiente e temida
dentro do sistema nazista.
Após
dois anos em custódia, Maria Mandel foi extraditada para a Polônia, onde
enfrentou julgamento em Cracóvia, em novembro de 1947. Acusada de crimes contra
a humanidade, ela foi considerada culpada por sua participação ativa no
genocídio e nas atrocidades cometidas em Auschwitz.
Sentenciada
à morte, Mandel foi enforcada em 24 de janeiro de 1948, aos 36 anos, na prisão
de Montelupich, em Cracóvia.
Contexto e Legado
A
trajetória de Maria Mandel reflete a complexidade do papel das mulheres no
regime nazista. Longe de serem apenas espectadoras ou coadjuvantes, algumas
mulheres, como Mandel, ocuparam posições de poder e desempenharam papéis
centrais na implementação do Holocausto.
Sua
crueldade e dedicação ao sistema de extermínio desafiam as noções tradicionais
de gênero e mostram como o fanatismo ideológico e a desumanização podem
corromper qualquer indivíduo, independentemente de sexo.
Além
disso, o caso de Mandel levanta questões sobre a psicologia dos perpetradores
do Holocausto. Sua capacidade de combinar eficiência administrativa com sadismo
sugere uma personalidade que encontrava prazer no controle absoluto e na
destruição de vidas.
A
Orquestra Feminina de Auschwitz, por exemplo, é um símbolo da contradição de
sua mente: ao mesmo tempo que promovia a cultura e a música, ela ordenava a
morte de milhares de pessoas.
O
julgamento de Maria Mandel, assim como o de outros criminosos nazistas, foi
parte dos esforços pós-guerra para trazer justiça às vítimas do Holocausto.
Embora sua execução tenha encerrado sua trajetória, o impacto de suas ações
permanece como um lembrete sombrio da capacidade humana para o mal.
Sua
história é um capítulo trágico, mas essencial, para entender a extensão das
atrocidades cometidas durante o regime nazista e a importância de manter viva a
memória das vítimas para que tais horrores nunca se repitam.
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