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quinta-feira, junho 19, 2025

Hans Frank - O Açougueiro da Polônia


Hans Frank: O Açougueiro da Polônia

Hans Michael Frank, nascido em 23 de maio de 1900 em Karlsruhe, Alemanha, foi um advogado que ascendeu ao poder como um dos mais cruéis administradores do regime nazista.

Conhecido como "o Açougueiro da Polônia", Frank desempenhou um papel central no reinado de terror imposto à Polônia ocupada durante a Segunda Guerra Mundial, sendo responsável pela morte e sofrimento de milhões de pessoas, especialmente judeus, em um dos capítulos mais sombrios do Holocausto.

Origens e Ascensão no Partido Nazista

Filho de uma família de classe média, Hans Frank formou-se em Direito e começou sua carreira como advogado, mas sua trajetória mudou drasticamente ao se filiar ao Partido Alemão dos Trabalhadores, precursor do Partido Nazista (NSDAP), em 1923.

Sua lealdade ao movimento nazista foi consolidada durante o fracassado Putsch de Munique, em 1923, um golpe mal-sucedido liderado por Adolf Hitler para tomar o poder na Baviera.

Após o fiasco, Frank tornou-se o conselheiro jurídico pessoal de Hitler e advogado do NSDAP, utilizando seu conhecimento jurídico para defender membros do partido em tribunais e justificar suas ações violentas.

Em 1930, Frank foi eleito deputado pelo NSDAP, consolidando sua posição no partido. Em 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, ele foi nomeado Ministro sem Pasta do Reich, um cargo que, embora sem uma função específica, reforçava sua proximidade com o Führer.

Em 1934, Frank desempenhou um papel crucial ao fornecer suporte jurídico para os assassinatos da "Noite das Facas Longas", um expurgo político em que os nazistas eliminaram opositores internos, como membros da SA (Sturmabteilung), e outros rivais.

Ele também esteve envolvido na legalização das atrocidades cometidas no campo de concentração de Dachau, onde milhares foram torturados e mortos.

Governador-Geral da Polônia: Um Reinado de Terror

Com a invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939, Hans Frank foi nomeado Governador-Geral do Governo-Geral, a administração nazista que controlava partes do território polonês não anexadas diretamente ao Reich.

Sob seu comando, de 1939 a 1945, a Polônia tornou-se um epicentro de brutalidade nazista. Frank arquitetou um sistema de opressão que incluía deportações em massa, trabalhos forçados, reclusão em guetos e extermínio sistemático, especialmente de judeus, mas também de poloneses e outras minorias.

Como Governador-Geral, Frank supervisionou a criação de guetos, como o de Varsóvia, onde centenas de milhares de judeus foram confinados em condições desumanas, enfrentando fome, doenças e violência.

Ele também implementou políticas de trabalho escravo, explorando a população polonesa em fábricas e campos de trabalho para sustentar a máquina de guerra nazista.

Sob sua administração, campos de extermínio como Treblinka, Sobibor, Belzec e Auschwitz-Birkenau operaram na Polônia ocupada, resultando no assassinato de milhões de pessoas no contexto do Holocausto.

Frank demonstrou uma obediência cega às ordens de Hitler, mas também exibiu uma ambição pessoal que o levou a competir por poder dentro da hierarquia nazista.

Em 1942, seus discursos públicos, que defendiam uma administração mais "eficiente" do Governo-Geral, desagradaram a Hitler, e ele perdeu influência na disputa pela Secretaria de Segurança, que foi entregue a Wilhelm Koppe, sob a liderança de Friedrich Wilhelm Krüger. Apesar disso, Frank continuou a exercer seu poder com crueldade implacável.

Prisão, Julgamento e Execução

Com a derrota iminente da Alemanha em 1945, Hans Frank fugiu do Governo-Geral pouco antes da chegada do Exército Vermelho. Ele foi capturado pelos norte-americanos em 4 de maio de 1945, em Berchtesgaden, na Baviera.

Durante sua prisão, tentou se suicidar duas vezes, mas sem sucesso. Em um esforço para minimizar sua culpa, Frank apresentou ao Tribunal de Nuremberg 14 petições de demissão que alegava ter enviado a Hitler - todas rejeitadas - e entregou 40 volumes de seus diários pessoais, nos quais detalhava suas atividades como Governador-Geral.

Esses documentos, no entanto, apenas reforçaram as evidências de seus crimes. No julgamento de Nuremberg, Frank foi acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Durante o processo, ele se converteu ao catolicismo romano, expressando remorso público por seus atos, embora muitos historiadores questionem a sinceridade de sua contrição, considerando-a uma tentativa de suavizar sua imagem.

Em 16 de outubro de 1946, ele foi condenado à morte e enforcado. O jornalista da CBS Howard K. Smith, que testemunhou a execução, descreveu seus últimos momentos:

"Hans Frank entrou na câmara de execução com um sorriso nervoso. Apesar de visivelmente tenso, engolindo em seco repetidamente, ele parecia aliviado com a ideia de expiar seus crimes.

Após responder calmamente à chamada de seu nome, disse em um sussurro: “Agradeço pelo tratamento recebido durante meu cativeiro e peço a Deus que me receba em sua piedade.”

O Legado Familiar e a Rejeição de Niklas Frank

Hans Frank teve cinco filhos, mas foi Niklas Frank, o caçula, quem mais se destacou ao confrontar o legado sombrio de seu pai. Escritor e jornalista, Niklas publicou o livro "Der Vater: Eine Abrechnung" ("O Pai: Um Acerto de Contas"), no qual condena veementemente as ações de Hans Frank.

Em entrevistas e documentários, Niklas expressou desprezo pela tentativa de seu pai de se redimir com gestos religiosos ou cartas sentimentais. Antes de sua execução, Frank deixou um bilhete para cada um de seus filhos, datado de 18 de setembro de 1946, dentro de um livreto de orações. O bilhete dizia:

"Com todo amor no coração, lhe dou esse livreto de orações e lhe desejo uma vida ótima sob a proteção de Deus."

Niklas, ao comentar o bilhete em um documentário, rejeitou-o com indignação, afirmando:

"É tudo mentira! Eu preferia que ele tivesse escrito: 'Meu querido e amado Niklas, eu fui um criminoso, tenho certeza que terei a pena de morte, e eu mereço. Por favor, tenha um pouco mais de civilidade que eu nunca tive. Por favor, viva de forma diferente do seu pai!'"

Em um gesto simbólico de repúdio, Niklas transformou um luxuoso casaco de seu pai - um dos pertences favoritos de Hans Frank - em um espantalho, colocado em um pomar nos fundos de sua casa, ao lado de um pequeno lago. Ele declarou:

"Todo dia, eu digo ao meu pai: 'Isso é tudo que você merecia, ser um espantalho aqui no meu lar!”

Impacto Histórico e Reflexão

Hans Frank não foi apenas um executor das ordens de Hitler, mas um arquiteto ativo do genocídio e da opressão na Polônia ocupada. Sua administração no Governo-Geral foi marcada por uma eficiência cruel, que transformou a Polônia em um dos palcos mais trágicos do Holocausto.

A história de Frank é um lembrete sombrio de como indivíduos aparentemente comuns podem se transformar em agentes de atrocidades quando seduzidos pelo poder e pela ideologia.

O repúdio de Niklas Frank ao legado de seu pai também reflete a luta de uma geração para lidar com a culpa herdada e a responsabilidade de confrontar o passado.

Enquanto Hans Frank buscava redenção em seus últimos dias, o testemunho de Niklas e a memória das vítimas de suas ações garantem que sua verdadeira face - a do "Açougueiro da Polônia" - nunca seja esquecida.

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