Os
problemas linguísticos na Idade Média são complexos, colocando o historiador
diante de dificuldades metodológicas de primeira ordem se ele tenta aduzir
conclusões raciais e institucionais de provas obtidas através do estudo da
linguagem.
Na
Europa ocidental, o latim era a língua universal da Igreja e, de um modo
substancial, da administração permanente e do governo em suas instruções
escritas; ser letrado significava ser letrado em latim.
A
latinidade da Idade Média foi modificada e tornou-se mais flexível no decorrer
dos séculos, graças sobretudo aos gramáticos do período carolíngio, embora as
estruturas clássicas essenciais fossem preservadas.
A pena
dos melhores estilistas, como João de Salisbury no século XII, suporta
comparação com tudo o que tenha sido escrito pelos melhores prosadores do mundo
antigo.
O
grego, reconhecido desde o final do século VI como a língua oficial do Império,
desempenhou uma função semelhante em Bizâncio.
Os
vernáculos continuaram florescendo, sobretudo nos dinâmicos séculos XII e XIII,
quando trovadores, poetas, pregadores e professores se dedicaram cada vez mais
não só à composição, mas também ao registro escrito de suas obras.
“O que
é o francês, senão um latim mal falado?”, perguntou um escritor anglo-saxão no
começo do século XI; mas, por volta de 1200, a partir do tronco latino básico,
já estavam completas as formas padronizadas dos ancestrais das modernas línguas
românicas ou neolatinas.
O francês,
o provençal, o catalão, o galaico-português, o castelhano, os dialetos
hispânicos, os dialetos italianos, sobretudo o toscano, e uma série de outros. Desenvolvimentos
análogos ocorreram no mundo de fala germânica.
A
Inglaterra foi um caso único em seu elaborado uso do vernáculo escrito nos
últimos tempos anglo-saxônicos, mas, nas terras continentais, o pleno
florescimento da literatura deu-se na virada do século XIII, especialmente no
alto-alemão da Alemanha meridional.
A
Escandinávia conheceu seu momento de apogeu literário com as sagas islandesas
do século XIII. Elas teriam grande efeito na padronização dos vernáculos.
O mundo
de fala céltica passou por fenômenos semelhantes, e os poetas líricos galeses
produziram uma obra de prestígio europeu.
Entre
os povos de fala eslava, houve uma concentração maciça da liturgia eclesiástica
no eslavônio, mas as próprias línguas passaram por uma diferenciação profunda
que resultou na criação do russo moderno, tcheco, polonês e as línguas eslavas
meridionais.
O mapa linguístico
da Europa moderna adquiriu lentamente forma na segunda metade da Idade Média,
com algumas das fronteiras linguísticas mostrando ser de uma surpreendente
flexibilidade e mais ou menos permanentes depois do século XII.
O
tronco linguístico predominante era indo-europeu, mas houve algumas
sobrevivências de uma época muito remota, como no caso dos bascos e dos
albaneses, e algumas intrusões, como no grupo fino-úgrico que, de longínquas
origens asiáticas, veio a produzir com o tempo na Europa as línguas
distantemente aparentadas do finlandês e do húngaro.
Na
Romênia, a antiga província romana da Dácia, persistiu uma língua de base
latina, embora maciçamente transformada por uma mistura de elementos gregos,
eslavos e búlgaros.
Essa
multiplicidade de crescimento e experiência linguísticos faz com que o contínuo
vigor do latim e do grego seja ainda mais notável, embora analogias possam ser
rapidamente traçadas com o arábico no mundo muçulmano da Idade Média e, mais
adiante, com o inglês do século XX.
E. Auerbach, Literary Language and its Public in Late Latin Antiquity and in the Middle Ages (1965); J.M. Williams, Origins of the English Language (1975); Latin and the Vernacular Languages in Early Medieval Britain, org. por N. Brooks (1982); B. Mitchell, Old English Syntax (1985)(Presente de grego)
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