Solidão da Minha Janela
Na
janela do meu quarto, os olhos fixos na vastidão do horizonte, contemplo a
natureza e seus fenômenos, tentando decifrar seus mistérios. Há algo de
hipnótico na maneira como o mundo se revela diante de mim, como se cada movimento
do céu ou sussurro do vento carregasse segredos que nunca compreenderei por
completo.
O sol
desce lentamente, preguiçoso, como se relutasse em abandonar o dia. Suas luzes
douradas dançam sobre as águas do mar, tingindo-as com um rubor que aos poucos
se transforma em vermelho púrpura, profundo e quase sobrenatural.
Então,
como se exaurido, o crepúsculo cede lugar a tons acinzentados, prenunciando as
sombras da noite que se aproximam. Observo tudo com um olhar pesado, carregado
de uma melancolia que não explica sua origem, mas que se instala em mim como um
velho conhecido.
As
folhas das árvores, lá fora, tremem agitadas por um vento furioso que parece
carregar lamentos. O som que produzem é como um coro distante, um murmúrio que
ecoa a tristeza que habita meu peito.
Há algo
de desolador na paisagem que se desenha diante de mim, como se a própria
natureza compartilhasse do meu desânimo. Meu rosto, refletido vagamente no
vidro da janela, carrega as marcas dessa nostalgia que me consome.
Talvez
não seja prudente gastar as horas assim, perdido em pensamentos que só
aprofundam minha solidão. Mas uma tarde melancólica como esta tem o poder de me
arrastar para dentro de mim mesmo.
O
cenário, com sua beleza trágica, parece conspirar para que eu me entregue a
essa introspecção. A tristeza, minha eterna companheira, não me abandona. Nos
momentos de calmaria, quando o mundo silencia, as lembranças do passado emergem
como ondas, puxando-me para um tempo que não volta mais.
Houve
um momento em que a vida parecia cheia de promessas. Sonhei alto, imaginei
futuros grandiosos, acreditei que o mundo poderia ser moldado pelas minhas
mãos. Mas os anos se acumularam, pesados, como folhas secas caindo sobre um
outono sem fim.
Nada do
que almejei se concretizou. Cada sonho não realizado é uma pedra a mais no
fardo que carrego. Sinto o peso da decepção, a amargura do fracasso, a
impotência diante de um destino que não escolhi.
Agora,
a noite já se instalou, densa e silenciosa. Permaneço na janela, os olhos fixos
no céu negro, salpicado de estrelas que brilham com uma frieza indiferente.
Estou exausto da luta. A vida, com suas promessas quebradas, não foi gentil
comigo.
Amei
alguém, um amor tão profundo que parecia eterno. Mas a morte, cruel e
inevitável, roubou-a de mim. Fecho os olhos e vejo as estrelas, não mais no
céu, mas piscando sobre a sepultura onde ela repousa.
Imagino
a relva macia que cobre seu túmulo, adornada por flores brancas e vermelhas, de
todas as cores, como se a própria terra quisesse homenageá-la.
Em minha
mente, deito-me ao lado dela, na mesma urna fria, livre enfim dos cuidados que
me atormentam. Lá, não há mais dor, apenas o silêncio de um descanso eterno.
Meus
olhos se enchem de lágrimas, os lábios tremem, e um soluço, vindo do fundo da
alma, escapa como um grito abafado. Por um instante, sinto-a tão próxima, como
se pudesse tocar sua mão, ouvir sua voz outra vez. Mas é apenas uma ilusão, um
truque cruel da memória.
Volto à
realidade, arrastado pela frieza do presente. Deixo a janela e sigo para minha
cama, onde me espera minha única companhia verdadeira: a solidão.
Ela me
abraça como uma amante fiel, sussurrando que o amanhã não será diferente. E, no
entanto, há algo de estranho conforto nesse vazio. Talvez porque, na ausência
de tudo, eu ainda tenha minhas lembranças - mesmo que elas sejam feitas de dor.
Francisco Silva Sousa - Foto: Pixabay
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