A Verdadeira Tragédia: Não Viver o Agora
A vida
é uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis. Um jovem adoece no calor do
verão, um idoso é atingido por um táxi em uma esquina qualquer, uma biópsia
revela um tumor maligno. Essas coisas acontecem todos os dias.
E,
ainda assim, saímos de casa com a certeza ingênua de que somos imunes ao caos,
de que a dor e a perda são realidades distantes, reservadas para outros.
Mas a
verdade é que a vida não faz distinção: um diagnóstico inesperado rouba um pai,
uma moto cruza um sinal vermelho, um exame médico traz notícias que abalam o
chão sob nossos pés.
Todos
os dias, o imprevisível acontece, e, todos os dias, seguimos com nossos planos
rotineiros - trabalho, almoço, trabalho, jantar - como se o amanhã fosse
garantido.
Quando
essas coisas nos atingem, é comum exclamarmos: “Que tragédia! A vida acabou tão
cedo!”. Mas será que é mesmo uma tragédia? A vida, na sua essência, é um
mosaico de caos, coincidências e momentos fugazes.
Hoje
estamos aqui, amanhã podemos não estar. A verdadeira tragédia não é a morte ou
o sofrimento inevitável que nos acomete. A verdadeira tragédia é passar por
essa existência sem agradecer pelo tempo que temos, sem valorizar os instantes
que realmente importam.
É
deixar que o celular roube o sorriso de um filho, que as preocupações do
trabalho apaguem a alegria de um passeio em família, que o medo ou a
procrastinação adiem os abraços que poderíamos dar hoje.
A
tragédia está em viver de aparências, em buscar a felicidade em coisas
materiais - um carro novo, uma casa maior, um armário cheio - enquanto o
coração permanece vazio.
É
trabalhar dia após dia em algo que nos consome, que nos distancia de quem
somos. É adiar os sonhos para um “um dia” que nunca chega: “Um dia eu mudo de
emprego”, “Um dia eu digo que a amo”, “Um dia eu faço aquela viagem”, “Um dia
eu me dedico àquele projeto voluntário”.
A vida
vai ficando para depois, como se o tempo fosse um recurso infinito. A tragédia
é aprender a valorizar o que temos apenas quando o perdemos - um ente querido,
uma oportunidade, um momento que não volta.
Marcos
Piangers, nos convida a refletir sobre o que realmente importa. Em um mundo
acelerado, onde as redes sociais glorificam a perfeição e o consumo, é fácil
cair na armadilha de viver para o futuro ou para as aparências.
Mas a
vida é agora. É o café da manhã compartilhado com a família, a conversa
despretensiosa com um amigo, o tempo que dedicamos a ouvir quem amamos.
A
tragédia não é o fim da vida, mas a ausência de vida enquanto estamos aqui. É
passar os dias em branco, sem cor, sem propósito, sem conexão. Para além da
mensagem de Piangers, podemos olhar para exemplos concretos que ilustram essa
reflexão.
Em
2020, a pandemia de COVID-19 escancarou a fragilidade da existência, forçando
milhões de pessoas a repensarem suas prioridades. Muitos perceberam, tarde
demais, que o tempo com a família, os momentos de afeto e as pequenas alegrias
do cotidiano eram mais valiosos do que a correria por conquistas materiais.
Histórias
de pessoas que, diante da perda, redescobriram o valor de um abraço ou de uma
ligação para um parente distante reforçam a mensagem: o que nos define não é o
que acumulamos, mas o que vivemos.
A
filosofia de Piangers ecoa também em movimentos contemporâneos, como o
minimalismo e a busca por uma vida mais intencional. Pessoas ao redor do mundo
têm trocado carreiras estressantes por trabalhos que as realizem, priorizado
experiências em vez de bens e buscado conexões humanas mais profundas. Esse
despertar coletivo é um lembrete de que a vida é curta e imprevisível, e que
cabe a nós preenchê-la com significado.
Portanto,
a verdadeira tragédia não é o inevitável - a doença, o acidente, a morte. A
tragédia é não ter vivido plenamente enquanto tínhamos a chance. É deixar que o
medo, a rotina ou as distrações nos afastem do que realmente importa.
Que
possamos, então, viver o hoje com gratidão, com coragem e com amor, porque o
amanhã é apenas uma possibilidade, mas o agora é a única certeza.
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