Não sei por que tanto mar em minha vida. Ele que fala sempre em despedida, que canta distância e solidão.
Por vezes
parece até que ele vaza, derruba minha porta, invade minha casa, ocupa minha
cama, lava meu chão.
Ele é que
faz do leva-e-traz de cada onda o mensageiro dos afetos separados e que
conserva segredos bem guardados lá no horizonte, onde a terra se arredonda.
São tantos
anos de tamanha intimidade, que carrego a forte sensação de que o mar me
alterou a identidade: metade água, metade coração.
Flora
Figueiredo
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