E por
falar em perdas e ganhos, alguém já parou para notar como, aos poucos, perdemos
nossa capacidade de nos emocionar? Não é só uma impressão: estamos tão imersos
em notificações, telas e urgências que o simples ato de sentir - de verdade -
virou algo quase obsoleto.
Quando
foi a última vez que você se permitiu gostar de alguém sem calcular os riscos,
sem transformar o sentimento em um post ou em uma equação de likes?
Gostar,
no sentido puro, caiu em desuso, como se fosse uma fraqueza, um deslize
emocional em um mundo que valoriza mais a performance do que a essência.
E o que
dizer de contemplar a lua cheia? Virou coisa de poeta ultrapassado, de quem não
tem algo "melhor" para fazer. A lua, que já inspirou noites de
introspecção, músicas e promessas sussurradas, agora compete com o brilho frio
das telas.
Amar,
então, nem se fala. É quase caretice, algo que exige tempo, vulnerabilidade e
paciência - moedas raras em um mundo que celebra a instantaneidade.
Amar é
arriscar parecer brega, é enfrentar o silêncio incômodo de não ter respostas
prontas. E quem, hoje, está disposto a isso? Ficar em casa num sábado à noite,
por escolha, virou sinônimo de fracasso social.
É como
se houvesse um passaporte invisível para a irrelevância, carimbado toda vez que
optamos por um momento de quietude. O que poderia ser paz, confundimos com
tédio.
E, no
fundo, o que nos assusta é a possibilidade de enfrentar nossa própria
companhia. Alguém aí já se perguntou: e se a internet cair? E se, por algumas
horas, o mundo parar de girar?
Será
que suportamos o vazio de não ter um stories para postar, uma notícia para
comentar, uma distração para consumir? Vivemos uma era em que a conexão
constante nos desconectou de nós mesmos.
Em
2025, com a tecnologia avançando a passos largos - inteligência artificial
moldando nossas interações, redes sociais ditando tendências em tempo real -,
parece que o humano, o visceral, está sendo deixado para trás.
Posts
recentes nas redes sociais mostram pessoas lamentando a superficialidade das
relações, a pressão por estar sempre "on", mas também revelam um
paradoxo: continuamos alimentando o ciclo.
Corremos
atrás de validação virtual enquanto esquecemos de validar o que sentimos de
fato. Estudos apontam que a solidão nunca foi tão epidêmica, mesmo com bilhões
de conexões online.
A
Organização Mundial da Saúde já alertou para o impacto da desconexão emocional
na saúde mental, mas seguimos acelerando, como se parar fosse sinônimo de
fracasso.
E os
acontecimentos ao nosso redor? Guerras, crises climáticas, polarizações
políticas - tudo isso nos atinge como um ruído de fundo, algo que comentamos
rapidamente antes de passar para o próximo vídeo no feed.
A
empatia, que já foi nossa bússola, agora é seletiva, ativada apenas quando
convém. Enquanto isso, pequenos gestos - como ouvir alguém sem interromper, ou
simplesmente sentar em silêncio para sentir o peso do dia - tornam-se atos
revolucionários.
Talvez
o maior desafio de hoje não seja apenas reconectar com os outros, mas
reconectar com o que nos faz humanos: a capacidade de sentir, de contemplar, de
existir sem precisar provar nada.
Então,
que tal tentar? Desligar o celular por uma hora, olhar para a lua, ouvir o
silêncio. Quem sabe, no meio desse caos, a gente redescubra que estar vivo é
mais do que estar online.
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