Meus bens materiais são
poucos e deixo tudo para você.
Uma coleira mastigada em
uma extremidade, uma cama de cachorro bagunçada e uma tigela de água com a
borda quebrada.
Deixo-vos metade de uma
bola de borracha, uma boneca partida que encontrareis debaixo da cadeira, uma
pilha de ossos enterrados no chão da minha casinha.
Deixo-vos os meus pelinhos
espalhados pela casa. Além disso deixo-vos as minhas memórias que são muitas.
Deixo-vos a memória de dois
enormes e amorosos olhinhos castanhos, um focinho molhado, um rabo inquieto.
Deixei uma mancha no tapete
da sala, ao lado da janela, quando nas tardes de inverno me apropriei daquele
lugar.
Deixei sua cadeira favorita
destruída, eu a mastigava quando era filhote, você se lembra?
Deixo só para você, o
barulho que fiz ao correr nas folhas de outono, quando compartilhávamos os
passeios.
Deixo-te como herança a
minha devoção, a minha simpatia, o meu apoio quando as coisas não estavam bem,
os meus latidos quando te levantaste com a voz zangada e a minha frustração
porque tinhas zangado comigo.
E sem ter falado uma
palavra em toda a minha vida, deixo-vos o meu exemplo de amor, paciência e
compreensão.
Sua vida tem sido mais
feliz porque eu estava ao seu lado. (Texto de Antônio Marques)
0 Comentários:
Postar um comentário