Sofrer,
como Bert Hellinger frequentemente apontava, pode parecer mais fácil do que
encontrar soluções, porque o sofrimento muitas vezes nos mantém presos a um
papel passivo, quase confortável em sua familiaridade.
É um
estado que não exige de nós uma resposta ativa - podemos nos entregar a ele,
nos identificar com ele, e até justificá-lo como parte de nossa história ou
destino.
Nas
reflexões de Hellinger, esse apego ao sofrimento frequentemente está enraizado
em dinâmicas sistêmicas, como lealdades inconscientes a traumas familiares ou
padrões herdados que carregamos sem questionar.
A
diferença fundamental em relação à solução, segundo ele, reside na ação: toda
solução demanda um movimento deliberado, uma ruptura com essas amarras
invisíveis que nos conectam ao passado.
Para
Hellinger, encontrar uma solução não é apenas uma questão de resolver um
problema prático, mas de restaurar um equilíbrio maior, seja no âmbito pessoal
ou familiar.
Em suas
Constelações Familiares, ele mostrava como o sofrimento muitas vezes surge de
um desajuste no sistema - alguém que, inconscientemente, assume a dor de outro,
ou que rejeita um destino que precisa ser reconhecido.
A
solução, nesse contexto, exige mais do que esforço: ela pede uma mudança de
perspectiva, um olhar maduro que aceita a realidade como ela é, sem romantismos
ou ilusões.
É aqui
que entra a ideia da 'despedida da inocência infantil', um conceito central em
sua filosofia. Essa inocência, para Hellinger, não é apenas a ingenuidade da
infância, mas uma postura de dependência ou vitimização que nos impede de tomar
as rédeas da própria vida.
Abandoná-la
significa reconhecer que não somos apenas produtos do nosso sistema familiar,
mas também agentes capazes de o transformar. Além disso, Hellinger enfatizava
que a ação rumo à solução não é impulsiva ou egoísta - ela deve estar alinhada
com o que ele chamava de 'ordens do amor', os princípios que regem os sistemas
familiares, como a inclusão de todos os membros e o respeito pela hierarquia
natural.
Quando
agimos a partir desse lugar de consciência, o sofrimento perde seu poder de nos
definir, e o que emerge é uma sensação de reconciliação e leveza.
Assim,
a solução, em sua visão, não é apenas um fim para a dor, mas um caminho de
crescimento espiritual e emocional, onde o indivíduo se coloca em harmonia com
algo maior.
Como
ele sugeria, a verdadeira libertação não está em evitar o sofrimento, mas em
atravessá-lo com coragem, deixando para trás as ilusões infantis e abraçando a
responsabilidade de viver plenamente.
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