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terça-feira, outubro 08, 2024

Inocência Infantil



Sofrer, como Bert Hellinger frequentemente apontava, pode parecer mais fácil do que encontrar soluções, porque o sofrimento muitas vezes nos mantém presos a um papel passivo, quase confortável em sua familiaridade.

É um estado que não exige de nós uma resposta ativa - podemos nos entregar a ele, nos identificar com ele, e até justificá-lo como parte de nossa história ou destino.

Nas reflexões de Hellinger, esse apego ao sofrimento frequentemente está enraizado em dinâmicas sistêmicas, como lealdades inconscientes a traumas familiares ou padrões herdados que carregamos sem questionar.

A diferença fundamental em relação à solução, segundo ele, reside na ação: toda solução demanda um movimento deliberado, uma ruptura com essas amarras invisíveis que nos conectam ao passado.

Para Hellinger, encontrar uma solução não é apenas uma questão de resolver um problema prático, mas de restaurar um equilíbrio maior, seja no âmbito pessoal ou familiar.

Em suas Constelações Familiares, ele mostrava como o sofrimento muitas vezes surge de um desajuste no sistema - alguém que, inconscientemente, assume a dor de outro, ou que rejeita um destino que precisa ser reconhecido.

A solução, nesse contexto, exige mais do que esforço: ela pede uma mudança de perspectiva, um olhar maduro que aceita a realidade como ela é, sem romantismos ou ilusões.

É aqui que entra a ideia da 'despedida da inocência infantil', um conceito central em sua filosofia. Essa inocência, para Hellinger, não é apenas a ingenuidade da infância, mas uma postura de dependência ou vitimização que nos impede de tomar as rédeas da própria vida.

Abandoná-la significa reconhecer que não somos apenas produtos do nosso sistema familiar, mas também agentes capazes de o transformar. Além disso, Hellinger enfatizava que a ação rumo à solução não é impulsiva ou egoísta - ela deve estar alinhada com o que ele chamava de 'ordens do amor', os princípios que regem os sistemas familiares, como a inclusão de todos os membros e o respeito pela hierarquia natural.

Quando agimos a partir desse lugar de consciência, o sofrimento perde seu poder de nos definir, e o que emerge é uma sensação de reconciliação e leveza.

Assim, a solução, em sua visão, não é apenas um fim para a dor, mas um caminho de crescimento espiritual e emocional, onde o indivíduo se coloca em harmonia com algo maior.

Como ele sugeria, a verdadeira libertação não está em evitar o sofrimento, mas em atravessá-lo com coragem, deixando para trás as ilusões infantis e abraçando a responsabilidade de viver plenamente.

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