O Vaticano: o menor e um dos mais singulares países do mundo
O Estado
da Cidade do Vaticano (em italiano: Stato della Città del Vaticano) é,
simultaneamente, um país independente, o menor do planeta em área (44 hectares,
ou 0,44 km²) e em população (cerca de 800 habitantes permanentes em 2025), e a
sede mundial da Igreja Católica Romana.
Apesar
do tamanho minúsculo, possui todos os atributos de um Estado soberano:
bandeira, hino, moeda (euro, com cunhagem própria), correios, rádio, jornal
oficial, força de segurança (Guarda Suíça), diplomacia própria e até um pequeno
exército cerimonial.
Embora
seja frequentemente chamado de “o país mais rico do mundo per capita”, essa
afirmação é relativa: o Vaticano não divulga todas as suas finanças, mas
administra um patrimônio histórico-artístico incalculável (Museus Vaticanos,
Basílica de São Pedro, Biblioteca Apostólica, etc.) e possui investimentos
globais através do IOR (Instituto para as Obras da Religião, o chamado “Banco
do Vaticano”).
Não é,
porém, o Estado mais rico do planeta nem em termos absolutos nem per capita
(países como Luxemburgo, Qatar, Singapura e Noruega superam-no largamente em
PIB per capita).
A ideia
de que o Vaticano “põe e destrona reis e presidentes” ou “financia guerras”
pertence mais à literatura conspiratória do que à história documentada
contemporânea.
Durante
a Idade Média e Renascimento, a Santa Sé realmente exerceu enorme influência
política (ex.: coroação de imperadores, Cruzadas, excomunhões que derrubavam
monarcas), mas desde o século XIX essa influência é sobretudo moral, cultural e
diplomática.
Qual é a verdadeira origem do nome “Vaticano”?
O nome
“Vaticano” não vem do latim cristão nem da Bíblia. Sua origem é bem mais antiga
e remonta à época pré-romana. A colina onde hoje está o Vaticano chamava-se, em
latim, Mons Vaticanus (“Colina Vaticana”).
Antes da
ascensão de Roma, a região era habitada pelos etruscos, um povo que dominou o
centro da Itália entre os séculos IX e III a.C. (não “há 3000 anos”, pois isso
seria cerca de 1000 a.C.; os etruscos florescem a partir de ≈800 a.C.). Existem
três explicações etimológicas principais para o nome, todas pré-cristãs:
A mais
aceita academicamente: vem do etrusco “Vatica” ou “Vatika”, nome de uma antiga
divindade feminina menor do submundo e das necrópoles. Os etruscos tinham
horror a enterrar mortos dentro das cidades e construíam enormes cemitérios
fora das muralhas.
A colina
Vaticana era precisamente uma dessas grandes necrópoles etruscas. A deusa
Vatika era a guardiã dos mortos e do local. Uma segunda teoria, defendida por
linguistas clássicos (Plínio, o Velho e Varrão), liga o nome à palavra latina
vaticinĭum ou vates (“profeta”, “adivinho”).
Na
colina cresciam espontaneamente certas plantas e uvas silvestres de sabor muito
amargo que, segundo a tradição popular romana, provocavam visões ou estados
alterados de consciência. Por isso o lugar era associado a oráculos e profecias
(daí “vaticinar” = profetizar em português). Essa explicação é a que deu origem
ao verbo “vaticinar”.
Uma
terceira hipótese, menos aceita, sugere que havia uma antiga cidade ou povoado
etrusco chamado Vaticum, hoje desaparecido, cujo nome teria sido transferido
para a colina.
O local onde Pedro foi martirizado
No tempo
do imperador Nero (64 d.C.), após o grande incêndio de Roma, o Circo de Nero (uma
enorme arena de corridas de cavalos) ocupava exatamente a área onde hoje está a
Basílica de São Pedro.
Segundo
a tradição cristã antiga (atestada desde o século II), o apóstolo Pedro foi
crucificado de cabeça para baixo nesse circo, a pedido próprio, por não se
julgar digno de morrer como Jesus. Seu túmulo teria ficado ali mesmo, na
encosta da colina Vaticana.
Escavações
arqueológicas realizadas sob a basílica entre 1939 e 1949 (por ordem de Pio
XII) encontraram de fato uma necrópole romana do século I–IV e, abaixo do
altar-mor, um pequeno monumento do século II que a tradição Constantina
identificava como túmulo de Pedro.
Ossos de
um homem robusto de 60-70 anos foram encontrados em 1968 próximos desse local,
e exames de carbono-14 e análise antropológica são compatíveis com o século I,
embora a Igreja nunca tenha declarado oficialmente “estes são os ossos de São
Pedro”.
Resumo
atualizado e preciso Portanto, o Vaticano está literalmente construído sobre: Uma
antiga necrópole etrusca e romana; O local tradicional do martírio de São
Pedro; Uma colina cujo nome já era “Vaticano” séculos antes de Cristo existir,
com raízes pagãs ligadas a profecias ou a uma deusa do mundo dos mortos.
Esse
contraste entre raízes pagãs profundas e a centralidade do cristianismo mundial
é uma das ironias mais fascinantes da história de Roma.









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