Quando não posso contemplar teu
rosto, contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado, teus
pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam e que teu
doce peso sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios, a duplicada
púrpura dos teus mamilos, a caixa dos teus olhos que há pouco levantara voo, a
larga boca de fruta, tua rubra cabeleira, pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés é só porque
andaram sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até me encontrarem.
(Pablo Neruda)
Num contexto coloquial, contemplação significa "admirar e pensar sobre alguma
coisa". Num contexto místico-religioso, significa alcançar Deus através
da vivência pessoal e não meramente através de um processo discursivo.
A palavra em si deriva do termo
latino "contemplatio" e sua raiz é a mesma do termo "templum", um pedaço de terra destinado aos auspícios ou
um edifício de adoração. Esta raiz, por sua vez, deriva ou da base
proto-indo-europeia *tem- ("cortar") - um lugar "recortado
para" - ou da base *temp- ("estender"), uma referência ao espaço
livre à frente do altar. "Contemplatio".
No cristianismo
ortodoxo, contemplação (theoria) significa, literalmente, ver Deus ou
ter uma visão de Deus. A ação de fitar Deus - de se unir com Ele - é
chamada de theoria. O processo de theosis, que leva à theoria,
é praticado na tradição asceta do hesicasmo, que significa reconciliar o
coração e a mente numa única coisa (nous). João Clímaco, em sua "Escada
da Divina Ascensão”, tratou da theosis como o processo de
mudança do velho homem pecaminoso para o recém-nascido em Deus.
O significado disto tudo é que, uma vez que alguém
esteja na presença de Deus e seja deificado por ele, então pode começar a
compreender adequadamente ("contemplar") Deus. Esta forma de
contemplação significa "ter" e "experimentar" algo ao invés
de compreender uma teoria através da razão ou do raciocínio (veja gnosis).
Se através do raciocínio se usa a lógica para compreender, com Deus se faz o
inverso (veja teologia apofática)
No cristianismo ocidental, a
contemplação se relaciona geralmente com o misticismo de teólogos como
Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, além de Margery Kempe, Augustine
Baker e Thomas Merton. Dom Cuthbert
Butler lembra que "contemplação" era um termo utilizado na
Igreja Latina para fazer referência ao misticismo, e misticismo é uma
palavra bastante moderna.
No cristianismo, a contemplação se
refere a um pensamento limpo direcionado à realização da presença de Deus como
algo real. A meditação, por outro lado, foi, por muitos séculos, especialmente
no ocidente, referida como exercícios ativos, como visualizações de cenas
bíblicas ou a lectio divina - a prática de ler a Bíblia
vagarosamente, pensadamente, "degustando" cada versículo.
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