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quinta-feira, setembro 19, 2024

John Wilkes Booth



 

John Wilkes Booth foi um ator e simpatizante confederado, mais conhecido por assassinar o presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, em 14 de abril de 1865, no Teatro Ford, em Washington, D.C.

Nascido em 10 de maio de 1838, em uma proeminente família de atores teatrais em Harford County, Maryland, Booth cresceu em um ambiente marcado por tensões políticas intensas nos Estados Unidos, especialmente em torno da escravidão e da iminente Guerra Civil Americana (1861-1865).

Filho do renomado ator britânico Junius Brutus Booth e irmão do também famoso Edwin Booth, John Wilkes seguiu a carreira familiar, tornando-se um ator carismático e atlético, celebrado por sua beleza e habilidade no palco.

No entanto, sua vida foi profundamente influenciada pelo conflito seccional: Booth era um defensor ferrenho dos estados escravistas do Sul e opunha-se veementemente à abolição da escravidão.

Ele via Abraham Lincoln como um tirano responsável pela divisão do país e pela derrota iminente da Confederação. Durante a Guerra Civil, Booth manifestou publicamente suas opiniões pró-Sul, interrompendo discursos abolicionistas e até mesmo ameaçando o presidente em eventos públicos.

Em 1864, ele chegou a planejar o sequestro de Lincoln para trocar por prisioneiros confederados e forçar negociações de paz, recrutando um grupo de conspiradores que incluía Samuel Arnold, George Atzerodt, David Herold, Michael O'Laughlen, Lewis Powell (também conhecido como Lewis Paine) e John Surratt.

Com a rendição do general confederado Robert E. Lee em 9 de abril de 1865, marcando o fim efetivo da Guerra Civil, Booth abandonou o plano de sequestro e optou por uma ação mais radical: assassinar Lincoln e outros líderes da União para decapitar o governo federal e, assim, reviver o espírito confederado, possivelmente incitando uma revolta no Norte.

O plano ampliado visava eliminar não apenas o presidente, mas também o vice-presidente Andrew Johnson e o secretário de Estado William H. Seward, em uma tentativa de paralisar a administração.

Na noite de 14 de abril - uma Sexta-Feira Santa -, Booth soube que Lincoln assistiria à comédia "Our American Cousin" no Teatro Ford, um local que ele conhecia bem, tendo atuado ali anteriormente.

Acompanhado de sua noiva, Mary Todd Lincoln, o presidente ocupava um camarote presidencial com o major Henry Rathbone e sua noiva, Clara Harris. Booth, aproveitando sua familiaridade com o teatro, acessou o camarote pela porta dos fundos. Por volta das 22h15, durante uma cena cômica que distraía a plateia, ele se aproximou por trás de Lincoln e disparou um único tiro na nuca do presidente com um revólver Derringer de calibre .44.

Enquanto o público entrava em pânico, Booth largou a arma, brandiu uma faca e atacou Rathbone, que tentou detê-lo, ferindo-o no braço. Gritando "Sic semper tyrannis!" ("Assim sempre aos tiranos!", lema da Virgínia inspirado no assassinato de Júlio César), Booth pulou do camarote para o palco - uma queda de cerca de 3 metros -, mas sua espora enroscou em uma bandeira, causando uma fratura na perna esquerda.

Apesar da lesão, ele escapou pelo palco, passando pela atriz que interpretava e desaparecendo pela saída dos fundos, montado em um cavalo à espera. Enquanto isso, os outros conspiradores executavam suas tarefas: Lewis Powell atacou Seward em sua residência, esfaqueando-o gravemente na cama (Seward sobreviveu graças a um colar ortopédico de metal que desviou alguns golpes), mas George Atzerodt perdeu a coragem e não atentou contra Johnson.

Lincoln, levado para uma casa do outro lado da rua, agonizou por nove horas e faleceu às 7h22 da manhã seguinte, em 15 de abril, tornando-se o primeiro presidente americano assassinado no cargo.

Após o crime, Booth fugiu de Washington com a ajuda de David Herold, cruzando o rio Potomac para a Virgínia confederada, onde se escondeu em pântanos e fazendas simpáticas.

Durante os 12 dias de caçada, ele deixou um diário revelador, expressando arrependimento misturado a justificativas ideológicas: "Nosso país lhe devia tanto a ele quanto a mim o mais alto lugar na história".

Cercado por tropas federais em 26 de abril de 1865, em uma fazenda de tabaco chamada Garrett, perto de Port Royal, Virgínia, Booth recusou-se a se render.

O celeiro onde se abrigava foi incendiado, e ele foi baleado por um soldado da União, morrendo horas depois aos 26 anos. Seu corpo foi levado de volta a Washington para identificação e enterro secreto.

O assassinato teve repercussões imensas e imediatas. Booth, que sonhava ser visto como um herói confederado, foi universalmente condenado como traidor e assassino. A nação mergulhou em luto profundo: mais de 100 mil pessoas compareceram ao funeral de Lincoln em Washington, e seu corpo viajou de trem por 1.654 milhas em uma procissão fúnebre que passou por 180 cidades, simbolizando a unidade nacional ferida.

A morte do presidente, que defendia uma Reconstrução misericordiosa para os estados sulistas, pavimentou o caminho para Andrew Johnson, cujo governo mais leniente com ex-confederados gerou conflitos com o Congresso, prolongando a era da Reconstrução (1865-1877) em um período de turbulência, violência racial e disputas políticas.

Os conspiradores sobreviventes foram julgados em um tribunal militar: Mary Surratt (mãe de John Surratt), Lewis Powell, David Herold e George Atzerodt foram enforcados em 7 de julho de 1865 - a primeira mulher executada pelo governo federal -, enquanto outros receberam penas de prisão. John Surratt fugiu para o exterior e só foi capturado anos depois.

Em última análise, o ato de Booth não revigorou a Confederação, mas acelerou a consolidação da União, ao mesmo tempo em que expôs as profundas divisões raciais e seccionais que persistiriam na história americana. Seu legado permanece como um lembrete sombrio do fanatismo ideológico em tempos de crise.

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