John
Wilkes Booth foi um ator e simpatizante confederado, mais conhecido por
assassinar o presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, em 14 de abril de
1865, no Teatro Ford, em Washington, D.C.
Nascido
em 10 de maio de 1838, em uma proeminente família de atores teatrais em Harford
County, Maryland, Booth cresceu em um ambiente marcado por tensões políticas
intensas nos Estados Unidos, especialmente em torno da escravidão e da iminente
Guerra Civil Americana (1861-1865).
Filho
do renomado ator britânico Junius Brutus Booth e irmão do também famoso Edwin
Booth, John Wilkes seguiu a carreira familiar, tornando-se um ator carismático
e atlético, celebrado por sua beleza e habilidade no palco.
No
entanto, sua vida foi profundamente influenciada pelo conflito seccional: Booth
era um defensor ferrenho dos estados escravistas do Sul e opunha-se
veementemente à abolição da escravidão.
Ele via
Abraham Lincoln como um tirano responsável pela divisão do país e pela derrota
iminente da Confederação. Durante a Guerra Civil, Booth manifestou publicamente
suas opiniões pró-Sul, interrompendo discursos abolicionistas e até mesmo
ameaçando o presidente em eventos públicos.
Em
1864, ele chegou a planejar o sequestro de Lincoln para trocar por prisioneiros
confederados e forçar negociações de paz, recrutando um grupo de conspiradores
que incluía Samuel Arnold, George Atzerodt, David Herold, Michael O'Laughlen,
Lewis Powell (também conhecido como Lewis Paine) e John Surratt.
Com a
rendição do general confederado Robert E. Lee em 9 de abril de 1865, marcando o
fim efetivo da Guerra Civil, Booth abandonou o plano de sequestro e optou por
uma ação mais radical: assassinar Lincoln e outros líderes da União para
decapitar o governo federal e, assim, reviver o espírito confederado,
possivelmente incitando uma revolta no Norte.
O plano
ampliado visava eliminar não apenas o presidente, mas também o vice-presidente
Andrew Johnson e o secretário de Estado William H. Seward, em uma tentativa de
paralisar a administração.
Na
noite de 14 de abril - uma Sexta-Feira Santa -, Booth soube que Lincoln
assistiria à comédia "Our American Cousin" no Teatro Ford, um local
que ele conhecia bem, tendo atuado ali anteriormente.
Acompanhado
de sua noiva, Mary Todd Lincoln, o presidente ocupava um camarote presidencial
com o major Henry Rathbone e sua noiva, Clara Harris. Booth, aproveitando sua
familiaridade com o teatro, acessou o camarote pela porta dos fundos. Por volta
das 22h15, durante uma cena cômica que distraía a plateia, ele se aproximou por
trás de Lincoln e disparou um único tiro na nuca do presidente com um revólver
Derringer de calibre .44.
Enquanto
o público entrava em pânico, Booth largou a arma, brandiu uma faca e atacou
Rathbone, que tentou detê-lo, ferindo-o no braço. Gritando "Sic semper
tyrannis!" ("Assim sempre aos tiranos!", lema da Virgínia
inspirado no assassinato de Júlio César), Booth pulou do camarote para o palco -
uma queda de cerca de 3 metros -, mas sua espora enroscou em uma bandeira,
causando uma fratura na perna esquerda.
Apesar
da lesão, ele escapou pelo palco, passando pela atriz que interpretava e
desaparecendo pela saída dos fundos, montado em um cavalo à espera. Enquanto
isso, os outros conspiradores executavam suas tarefas: Lewis Powell atacou
Seward em sua residência, esfaqueando-o gravemente na cama (Seward sobreviveu
graças a um colar ortopédico de metal que desviou alguns golpes), mas George
Atzerodt perdeu a coragem e não atentou contra Johnson.
Lincoln,
levado para uma casa do outro lado da rua, agonizou por nove horas e faleceu às
7h22 da manhã seguinte, em 15 de abril, tornando-se o primeiro presidente
americano assassinado no cargo.
Após o
crime, Booth fugiu de Washington com a ajuda de David Herold, cruzando o rio
Potomac para a Virgínia confederada, onde se escondeu em pântanos e fazendas
simpáticas.
Durante
os 12 dias de caçada, ele deixou um diário revelador, expressando
arrependimento misturado a justificativas ideológicas: "Nosso país lhe
devia tanto a ele quanto a mim o mais alto lugar na história".
Cercado
por tropas federais em 26 de abril de 1865, em uma fazenda de tabaco chamada
Garrett, perto de Port Royal, Virgínia, Booth recusou-se a se render.
O
celeiro onde se abrigava foi incendiado, e ele foi baleado por um soldado da
União, morrendo horas depois aos 26 anos. Seu corpo foi levado de volta a
Washington para identificação e enterro secreto.
O
assassinato teve repercussões imensas e imediatas. Booth, que sonhava ser visto
como um herói confederado, foi universalmente condenado como traidor e
assassino. A nação mergulhou em luto profundo: mais de 100 mil pessoas
compareceram ao funeral de Lincoln em Washington, e seu corpo viajou de trem
por 1.654 milhas em uma procissão fúnebre que passou por 180 cidades,
simbolizando a unidade nacional ferida.
A morte
do presidente, que defendia uma Reconstrução misericordiosa para os estados
sulistas, pavimentou o caminho para Andrew Johnson, cujo governo mais leniente
com ex-confederados gerou conflitos com o Congresso, prolongando a era da
Reconstrução (1865-1877) em um período de turbulência, violência racial e
disputas políticas.
Os
conspiradores sobreviventes foram julgados em um tribunal militar: Mary Surratt
(mãe de John Surratt), Lewis Powell, David Herold e George Atzerodt foram
enforcados em 7 de julho de 1865 - a primeira mulher executada pelo governo
federal -, enquanto outros receberam penas de prisão. John Surratt fugiu para o
exterior e só foi capturado anos depois.
Em
última análise, o ato de Booth não revigorou a Confederação, mas acelerou a
consolidação da União, ao mesmo tempo em que expôs as profundas divisões
raciais e seccionais que persistiriam na história americana. Seu legado
permanece como um lembrete sombrio do fanatismo ideológico em tempos de crise.
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