Após
muitos anos, o menino - agora um homem envelhecido, com rugas profundas
marcando o rosto e os cabelos brancos dançando ao vento - retornou ao lugar
onde outrora brincara.
A
árvore, que já fora majestosa, com sua copa frondosa e galhos fortes, agora era
apenas um toco, desgastado pelo tempo e pelas intempéries. Suas raízes, ainda
firmes na terra, pareciam carregar as memórias de uma vida inteira de entrega.
- Sinto
muito, meu querido menino - disse a árvore, com a voz suave, mas carregada de
melancolia. - Não tenho mais nada para lhe oferecer. Minhas maçãs, tão doces e
vermelhas, se foram há muito tempo.
- Meus dentes
estão fracos demais para morder maçãs - respondeu o homem, com um leve sorriso,
os olhos cansados refletindo o peso dos anos.
- Meus
galhos, que você tanto amava balançar, também se foram - continuou a árvore,
tentando erguer-se um pouco, como se quisesse abraçá-lo. - Não há mais onde
você possa se pendurar e rir como fazia.
- Estou
velho demais para balançar em galhos - disse o homem, com um suspiro,
apoiando-se em uma bengala rústica. - Aqueles dias de aventura ficaram para
trás.
- Meu
tronco, tão forte e alto, também não existe mais - lamentou a árvore. - Você
não pode escalá-lo para ver o mundo do alto, como fazia quando era pequeno.
- Estou
exausto demais para escalar qualquer coisa - respondeu o homem, com a voz
baixa, quase um sussurro. - A vida me pesou, árvore.
A
árvore, agora apenas um toco humilde, sentiu um aperto em seu coração de
madeira.
- Sinto
muito, meu menino - disse ela, a voz tremendo de emoção. - Eu daria qualquer
coisa para te fazer feliz novamente, mas não me resta nada. Sou apenas um toco
velho, inútil. Sinto muito.
O homem
olhou para a árvore, e seus olhos, embora cansados, brilhavam com uma ternura
antiga. Ele se aproximou lentamente, como se reconhecesse nela não apenas a
companheira de sua infância, mas também um reflexo de sua própria jornada.
- Não
preciso de muito agora, minha velha amiga - disse ele, com uma calma que só os
anos podem ensinar. - Tudo o que quero é um lugar tranquilo para sentar e
descansar. Estou muito, muito cansado.
A
árvore, apesar de sua simplicidade, pareceu crescer em espírito. Endireitou-se
o quanto pôde, como se quisesse oferecer ao homem o melhor de si, mesmo sendo
tão pouco.
- Bem -
disse ela, com uma nova força na voz -, um toco velho como eu ainda serve para
algo. É perfeito para sentar e descansar. Venha, menino, venha. Sente-se aqui e
descanse.
O
homem, com um sorriso sereno, aceitou o convite. Sentou-se cuidadosamente no
toco, sentindo a textura áspera da madeira sob suas mãos. Ali, naquele momento,
o tempo pareceu parar.
O vento
soprou suavemente, carregando o aroma da terra e as lembranças de dias mais
simples. Ele fechou os olhos, e pela primeira vez em muito tempo, sentiu paz.
E a
árvore estava feliz. Feliz por ainda poder ser útil, mesmo em sua forma mais
humilde. Feliz por ter o menino - agora um homem - ao seu lado novamente.
Feliz
por compartilhar com ele aquele instante de quietude, onde nada mais importava
além do laço que os unia.
Contexto
e Reflexão
Em A
Árvore Generosa, Shel Silverstein (1964) constrói uma metáfora poderosa sobre
amor incondicional, sacrifício e o ciclo da vida.
A
história acompanha a relação entre um menino e uma árvore que, ao longo dos
anos, dá tudo de si para atender às necessidades dele - desde suas maçãs para
comer, seus galhos para brincar, até seu tronco para construir uma casa e um
barco.
No trecho
apresentado, vemos o desfecho dessa jornada, onde tanto o menino quanto a
árvore estão no ocaso de suas existências. O menino, agora um homem idoso,
retorna à árvore, que, reduzida a um toco, acredita não ter mais nada a
oferecer.
No
entanto, a simplicidade do pedido do homem - um lugar para descansar - revela
que o verdadeiro valor da relação não está no que se dá materialmente, mas na
presença e no apoio mútuo.
Para
enriquecer o contexto, podemos imaginar os acontecimentos que levaram o homem a
retornar. Talvez ele tenha vivido uma vida cheia de aventuras, mas também de
perdas e desilusões.
Talvez
o peso das escolhas feitas - muitas delas baseadas no que a árvore lhe
proporcionou - o tenha trazido de volta ao único lugar onde se sentia
verdadeiramente acolhido.
A
árvore, por sua vez, representa não apenas a natureza, mas também figuras de
amor altruísta, como pais, amigos ou até mesmo a própria terra, que continuam a
nos sustentar mesmo quando parecem exauridas.
A
mensagem de Silverstein ressoa profundamente: o amor verdadeiro não exige
grandiosidade, mas sim a disposição de estar presente, mesmo nas formas mais
simples.
A felicidade da árvore ao final, mesmo sendo apenas um toco, reflete a essência de dar sem esperar nada em troca, encontrando alegria na própria entrega.
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