A Tragédia de Nazino foi a deportação em massa de 6 000 pessoas em 1933 para a ilha de Nazino na União Soviética, das quais mais de 4 000 morreram.
A pequena e isolada ilha da Sibéria ocidental está
localizada a cerca de 800 km ao norte de Tomsk, no distrito de
Alexandrovsky, no Oblast de Tomsk, perto da confluência dos rios Ob e
Nazina.
Conhecida como "Ilha da Morte" ou "Ilha dos
Canibais", entre 4 000 e 6 000 "colonos especiais" soviéticos
morreram ali em menos de quatro semanas no final da primavera de 1933, depois
de terem sido abandonados sem-abrigo, tendo apenas farinha para alimento,
poucas ferramentas e roupas. Muitos recorreram ao canibalismo para
sobreviver.
Um relatório sobre os fatos foi enviado para Joseph Stalin por Vassilii Arsenievich Velichko. O relatório foi distribuído pela Lazar Kaganovich aos membros do Politburo, e foi preservado em um arquivo em Novosibirsk.
Ele afirma que 6 114 "elementos supérfluos" (também
conhecido como "déclassé", elementos socialmente perigosos ou pessoas
sem classes) chegaram na ilha no final de maio de 1933.
Eles tinham sido transportados de Moscou e Leningrado, inicialmente por trem para Tomsk, em seguida, por barcaça para Nazino, durante o transporte fluvial pelo menos 27 pessoas morreram.
Não havia abrigo na ilha,
nevou na primeira noite, e nenhum alimento foi distribuído por quatro dias. No
primeiro dia, 295 pessoas foram enterradas.
Uma comissão especial foi então criada em setembro de 1933 pelo
Comitê Regional do Partido Comunista da Sibéria Ocidental, sendo os relatórios
publicados em 2002 pelo grupo Memorial.
O Plano
Em fevereiro 1933 Genrikh Yagoda, chefe da OGPU (polícia
secreta), e Matvei Berman, chefe dos GULAG propuseram um "plano
grandioso" a Stalin, para reassentar até dois milhões de pessoas na
Sibéria e Cazaquistão em "áreas especiais ".
Os deportados ou colonos seriam usados para transformar mais de um milhão de hectares de terra virgem em área produtiva, tornando a URSS autossuficiente em dois anos.
Este plano foi baseado na experiência de deportar dois milhões de
kulaks e outros trabalhadores agrícolas para as mesmas áreas, nos três
anos anteriores.
Os recursos disponíveis para apoiar o plano eram severamente limitados pela fome causada pela introdução de fazendas coletivas e da “Deskulakização” impostas pelas autoridades soviéticas.
O plano original direcionava-se aos vários tipos de kulaks, camponeses, "elementos urbanos", pessoas que viviam nas fronteiras ocidentais da URSS, e pequenos criminosos.
No início da
Primavera de 1933, o número havia sido reduzido para um milhão de deportados.
Stalin rejeitou o plano de maio 1933, época em que os deportados chegaram na
ilha.
Muitos dos deportados eram pessoas de Moscou e Leningrado, que haviam sido incapazes de obter um passaporte interno.
A obtenção obrigatória do
passaporte tinha começado em 27 de dezembro de 1932, por decisão do Politburo
de emitir este tipo de documento para todos os moradores de grandes cidades.
Um de seus objetivos era "limpar Moscou, Leningrado e os
outros grandes centros urbanos da URSS de elementos supérfluos não relacionados
com a produção ou trabalho administrativo, bem como kulaks, criminosos e outros
elementos antissociais e socialmente perigosos".
Estes elementos supérfluos ou socialmente perigosos,
eram: ex-mercadores, comerciantes, camponeses que fugiram da fome no campo,
criminosos, ou qualquer pessoa que não se encaixava na estrutura idealizada de
classe comunista, a eles não foram emitidos passaportes e assim poderiam ser
presos e deportados das cidades após um processo administrativo sumário, onde
normalmente não estavam presentes.
A maioria dos detidos eram deportados dentro de dois dias. Entre março e julho de 1933, 85 937 pessoas que viviam em Moscou foram presas e deportadas por não possuírem passaportes; em Leningrado foram deportadas no mesmo período 4 776 pessoas.
Os detidos em conexão com a limpeza de Moscou antes do primeiro
de maio de 1933, Dia do Trabalhador, foram deportados para o campo de trânsito
Tomsk, com muitos sendo posteriormente enviado para a Ilha de Nazino.
Transporte
Um trem com os deportados deixou Moscou no dia 30 de
abril, e um comboio semelhante deixou Leningrado no dia anterior, com
ambos chegando ao destino em 10 de maio. A ração diária, durante a viagem,
era de 300 gramas de pão por pessoa.
Grupos de criminosos roubavam a comida e as roupas de
outros deportados. Como as autoridades de Tomsk não estavam familiarizadas com
deportados urbanos, para evitar dificuldades decidiram enviá-los imediatamente
para os locais de trabalho mais isolados.
Em 14 de maio, quatro barcaças fluvial, inicialmente projetadas para transportar madeira, foram preenchidas com cerca de 5 000 deportados.
Cerca de um terço dos deportados eram criminosos que foram enviados a fim
de "descongestionar as prisões" e metade eram de "elementos
supérfluos" de Moscou e Leningrado.
As autoridades da Alexandro-Vakhovskaya, que eram para estar no comando dos campos de trabalho na ilha, foram informados de que eles seriam enviados ao local em 5 de maio.
Estas nunca tinha trabalhado com deportados
urbanos e não tinham comida, ferramentas e suprimentos para apoiá-los.
Os deportados foram mantidos abaixo do convés principal nas barcaças e, aparentemente, alimentados com uma ração diária de somente 200 gramas de pão por pessoa.
Vinte toneladas de farinha de trigo - cerca de quatro quilos por pessoa - também foram transportados, mas as barcaças não continham outros alimentos, utensílios de cozinha, ou ferramentas.
Todo o pessoal de supervisão, dois comandantes e cinquenta
guardas, tinham sido recentemente recrutados, sendo que os guardas não possuíam
sapatos ou uniformes.
Vida e morte na Ilha de Nazino
As barcaças chegaram na ilha de Nazino durante a tarde de 18 de maio, uma ilha pantanosa com cerca de 3 km de comprimento e 600 metros de largura.
Não havia lista dos deportados que desembarcam, mas à chegada foram contados 322 mulheres e 4 556 homens, além de 27 corpos de pessoas que morreram durante a viagem de Tomsk até a ilha.
Mais de um terço dos deportados eram
fracos demais para ficar em fila na chegada. Cerca de 1 200 deportados
adicionais chegaram em 27 de maio.
Assim que as vinte toneladas de farinha foram depositadas na ilha e a distribuição começou, iniciaram diversos conflitos e os guardas atiraram contra os deportados, sendo a farinha transferida para a margem oposta à ilha.
A distribuição na ilha foi iniciada novamente na manhã seguinte, com
mais brigas e mais disparos.
Depois disso, toda a farinha foi distribuída via "brigadeiros" que coletaram farinha para sua brigada com cerca de 150 pessoas. Os brigadeiros eram muitas vezes criminosos que abusaram de suas posições.
Não havia fornos para assar pão, de modo que os deportados comiam a
farinha misturada com água do rio, o que levou a disenteria.
Alguns deportados fizeram jangadas primitivas para tentar escapar, mas a maioria destas afundou provocando diversas mortes. Os guardas caçavam e matavam outros fugitivos, como se estivessem caçando animais por esporte.
Por causa da falta de transporte para o resto do país, exceto a
montante do rio, em Tomsk, e a dureza da vida na Taiga, a totalidade dos outros
fugitivos foi presumida como mortos.
Em 21 de maio os três oficiais da saúde contaram 70 novas mortes por efeitos de canibalismo observados em cinco casos. Durante o mês seguinte cerca de 50 pessoas foram presas por canibalismo.
No início de junho, 2 856
deportados foram transferidos para assentamentos menores a montante do rio
Nazina deixando apenas 157 deportados na ilha, que não puderam ser transferidos
por razões de saúde.
Várias centenas dos deportados morreram durante a transferência, outros 1 500 a 2 000 deportados morreram na ilha e centenas de fugitivos haviam desaparecido.
Os que sobreviveram encontraram-se com poucas ferramentas e
alimentos em seus novos assentamentos.
No início de julho novos assentamentos foram construídos pelas autoridades que utilizaram trabalho não deportado, mas apenas 250 colonos foram transferidos para lá, devido ao fato que 4.200 novos deportados tinham chegado a Tomsk e foram alojados nestes assentamentos.
De acordo com a carta enviada por Velichko a Stalin em 20 de agosto, apenas 2 200 pessoas sobreviveram dos cerca 6 700 deportados que ele calculou tinham chegado de Tomsk. A carta de Velichko resultou em uma comissão para estudar o caso.
Em outubro, a Comissão estimou que dos 2 000
sobreviventes, metade estava doente e acamada e que apenas cerca de 200 a 300
eram capazes de trabalhar.
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