A Papisa
Joana era, segundo uma lenda, uma mulher que teria reinado como papa,
e governado a Igreja católica por dois ou três anos, durante a Idade
Média. Embora a história pretensamente tenha se passado no século IX, só surgiu
nas crônicas do século XIII, e posteriormente se espalhou por toda a Europa.
Conquanto
em certos meios lograsse atenção, a lenda não encontra mais nenhum historiador
e estudioso moderno que lhe dê crédito. Antes, a reputam como fictícia,
possivelmente originada numa sátira antipapal. A lenda aparece pela
primeira vez em documentos do início do século XIII, situando os
acontecimentos em 1099.
Outro
cronista, também do século XIII, data o papado de Joana de até três
séculos e meio antes, depois da morte do papa Leão IV, coincidindo com uma
época de crise e confusão na diocese de Roma. Joana teria ocupado o cargo
durante dois ou três anos, entre o papa Leão IV e o papa Bento III (anos
de 850 e 858).
A história possui várias
versões. Segundo alguns relatos, Joana teria sido uma jovem oriental, nascida
com o possível nome de Giliberta, talvez de Constantinopla, que se fez passar
por homem para escapar à proibição de estudar imposta às mulheres.
Extremamente culta, possuía
formação em filosofia e teologia. Ao chegar a Roma, apresentou-se como monge e
surpreendeu os doutores da Igreja com sua sabedoria. Teria chegado ao
papado após a morte do papa Leão IV, com o nome de João VII. A mesma lenda
conta que Joana se tornou amante de um oficial da Guarda Suíça e ficou
grávida.
Outra versão - a de
Martinho de Opava - afirma que Joana teria nascido na cidade de Mogúncia,
na Alemanha, filha de um casal inglês aí residente à época. Na idade
adulta, conheceu um monge, por quem se apaixonou. Foram ambos para a Grécia,
onde passaram três anos, após o que se mudaram para Roma.
Para evitar o escândalo que
a relação poderia causar, Joana decidiu vestir roupas masculinas, passando
assim por monge, com o nome de Johannes Angelicus, e teria então ingressado no
mosteiro de São Martinho.
Conseguiu ser nomeada
cardeal, ficando conhecida como João, o Inglês. Segundo as fontes, João, em
virtude de sua notável inteligência, foi eleito Papa por unanimidade após a
morte de Leão IV (ocorrida a 17 de julho de 855).
Apesar de ter sido fácil
ocultar sua gravidez, devido às vestes folgadas dos Papas, acabou por ser
acometida pelas dores do parto em meio a uma procissão numa rua estreita, entre
o Coliseu de Roma e a Igreja de São Clemente, e deu à luz perante a multidão.
As versões divergem também
sobre este ponto, mas todas coincidem em que a multidão reagiu com indignação,
por considerar que o trono de São Pedro havia sido profanado. João/Joana
teria sido amarrada num cavalo e apedrejada até à morte.
Neste trajeto depois foi
posta uma estátua de uma donzela com uma criança no colo com a inscrição Parce
Pater Patrum, Papissae Proditum Partum, conforme mais tarde 1375 atestado
pelo Mirabilia Urbis Romae.
Noutro relato, Joana teria
morrido devido a complicações no parto, enquanto os cardeais se ajoelhavam
clamando: "Milagre, milagre!". Existem muitas controvérsias
sobre esta história. Alguns historiadores tornaram-se partidários de sua
veracidade, outros contestaram-na como pura invenção.
Alguns céticos afirmam que
o mito pode ter surgido em Constantinopla, devido ao ódio da Igreja
Ortodoxa contra a Igreja Católica. O objetivo seria desmoralizar a igreja
rival. Outra vertente é de que este papa seria, na verdade, um
eunuco que, por ser castrado, não foi eleito, mas antes rotulado de
“mulher”.
Outra hipótese é que, no
século XIII, o papado tinha um grande número de inimigos, especialmente entre a
Ordem dos Franciscanos ou a dos Dominicanos, descontentes com as diversas
restrições a que eram submetidas. Para se vingar, teriam espalhado verbalmente
a história da papisa.
Barônio considera a
papisa um monstro que os ateus e os heréticos tinham evocado do inferno por
sortilégios e malefícios. Florimundo Raxmond compara Joana a um segundo
Hércules enviado do céu para esmagar a Igreja romana, cujas abominações
tinham excitado a cólera de Deus. Contudo, a papisa foi defendida por um
historiador inglês chamado Alexandre Cook.
No seu libelo, o padre
Labbé acusava João Hus, Jerônimo de Praga, Wiclef, Lutero e Calvino de
serem os inventores da história da papisa, mas provou-se que, tendo Joana
subido à Santa Sé perto de seis séculos antes do nascimento do primeiro
daqueles personagens, era impossível que eles tivessem imaginado tal fábula; e
que, em todo o caso, Mariano, que escrevera a vida da papisa mais de 50 anos
antes deles, não poderia tê-la copiado das suas obras. Eis uma asseveração
transcrita de Labbé:
Outras lendas de mulheres
na Igreja
Além da fábula da Papisa
Joana, circulam diversas lendas sobre mulheres que teriam vestido o hábito
sacerdotal. Uma cortesã chamada Margarida ter-se-ia disfarçado de padre e
entrado para um convento de homens, onde tomou o nome de Frei Pelágio; Eugênia,
filha do célebre Filipe, governador de Alexandria no reinado do imperador
Galiano, dirigia um convento de frades, e não descobriu o seu sexo senão para
se desculpar de uma acusação de sedução que lhe fora intentada por uma jovem.
A crônica da Lombardia, composta por um monge da Abadia do Monte, refere igualmente, segundo um padre chamado Heremberto (que escrevia trinta anos depois da morte de Leão IV), a história de uma mulher que fora patriarca de Constantinopla.
0 Comentários:
Postar um comentário