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quinta-feira, julho 24, 2025

Complexidade




Um homem toca acordeom para um casal apaixonado que se beija. De dentro do ônibus, alguém montado em sua solidão, observa. E talvez, mais solitário ainda, alguém que não está na foto e registra. 

Melodia de um Acordeom: O Contraste da Solidão e do Amor

Em uma praça banhada pela luz suave do entardecer, um homem de chapéu surrado dedilha um acordeom. Suas mãos, calejadas pelo tempo, extraem uma melodia agridoce que dança no ar, como se contasse histórias de amores antigos e saudades guardadas.

À sua frente, um casal apaixonado se entrega a um beijo, alheio ao mundo. Seus corpos entrelaçados, seus sorrisos entrecortados, parecem existir em uma bolha de felicidade, onde só há espaço para eles e a música que os embala.

De dentro de um ônibus estacionado, alguém observa. A janela embaçada reflete um rosto cansado, talvez de uma longa jornada ou de um dia que não trouxe respostas.

Montado em sua solidão, esse passageiro contempla o casal com um misto de inveja e melancolia. Seus olhos capturam a cena como quem guarda um quadro que nunca poderá pintar.

Ele está só, mas não é apenas a ausência de companhia que pesa - é o vazio que carrega no peito, um silêncio que nenhuma melodia pode preencher. E, mais solitário ainda, há alguém que não aparece na cena.

Um fotógrafo, talvez, ou apenas um transeunte com um celular na mão, que registra o momento. Ele clica, congela o instante, mas não faz parte dele. Seu papel é observar, eternizar, mas não pertencer.

A lente capta o amor do casal, a dedicação do acordeonista, a introspecção do passageiro no ônibus, mas não revela o que se passa em seu próprio coração. Ele é o narrador invisível, aquele que vê beleza e dor, mas permanece à margem, carregando sua própria solidão.

Solidão: Um Estado, não um Destino

Solidão não é sinônimo de estar desacompanhado. Muitas pessoas atravessam momentos de solidão, seja por escolha, seja por circunstâncias que a vida impõe.

Há quem encontre na solidão refúgio, um espaço para se reconectar consigo mesmo, para ouvir os próprios pensamentos sem o ruído do mundo. Estar sozinho pode ser um alívio, uma pausa para respirar, uma oportunidade de redescobrir prazeres simples - um livro, uma caminhada, o som de um acordeom que ecoa em uma praça.

Quando escolhida e controlada, a solidão pode ser um ato de liberdade, um momento de introspecção que fortalece. Mas há outra face da solidão, aquela que se impõe sem convite.

É o que sente o passageiro no ônibus, preso em seus pensamentos enquanto o mundo lá fora celebra o amor. É o que talvez sinta o fotógrafo, que registra a felicidade alheia, mas não encontra a sua própria.

Essa solidão não é uma escolha, mas um peso. Ela sussurra dúvidas, revive memórias de conexões perdidas, e faz com que até uma praça vibrante pareça um lugar de silêncios.

O Contexto da Cena: Um Instante de Vida

A praça, com seus bancos gastos e árvores que testemunham gerações, é um microcosmo da vida. O acordeonista, com sua música, não toca apenas para o casal apaixonado. Ele toca para si mesmo, para os passantes, para o vento que leva suas notas.

Talvez ele também carregue sua solidão, disfarçada na melodia que oferece ao mundo. O casal, absorto em seu amor, representa a efemeridade da felicidade - um momento perfeito que, como a música, logo se dissipará.

O passageiro no ônibus, com seus pensamentos distantes, talvez esteja voltando de um dia de trabalho, ou talvez tenha deixado alguém para trás. E o fotógrafo, aquele que registra, pode ser um artista em busca de beleza, ou apenas alguém que, ao capturar a vida, tenta encontrar sentido na sua própria.

Essa cena, tão simples e ao mesmo tempo tão cheia de camadas, reflete a complexidade das emoções humanas. Cada personagem, à sua maneira, está conectado pela presença do outro, mesmo que não se conheçam.

O acordeom une o casal em sua dança de amor, o passageiro em sua introspecção, o fotógrafo em seu desejo de eternizar. E, no fundo, todos eles compartilham algo universal: a busca por conexão, seja com outro, consigo mesmo ou com o mundo.

Uma Reflexão Sobre o Estar Só

A solidão, como a música do acordeom, pode ser bela ou dolorosa, dependendo de como a vivemos. Para o casal, a melodia é um pano de fundo para o amor; para o passageiro, é um lembrete do que falta; para o fotógrafo, é uma inspiração que ele captura, mas não possui.

Estar sozinho não é o mesmo que estar vazio, mas às vezes os dois se confundem. A verdadeira solidão, aquela que escolhemos, pode nos ensinar a ouvir nossa própria voz, a encontrar equilíbrio no caos.

Mas a solidão imposta, aquela que nos pega desprevenidos, exige coragem para ser enfrentada. Talvez o passageiro no ônibus encontre, um dia, sua própria melodia.

Talvez o fotógrafo, ao rever a foto, perceba que também faz parte da história que registrou. E talvez o casal, anos depois, olhe para trás e se lembre daquele beijo sob o som do acordeom como um dos instantes que definiu suas vidas.

A solidão e o amor, assim como a música, são passageiros - mas deixam marcas que carregamos para sempre.

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