Tudo se
esquece, até mesmo os grandes amores. Essa é a melancolia intrínseca à vida,
mas também sua estranha exaltação. O tempo, com sua corrente implacável, apaga
as marcas mais profundas do coração, diluindo memórias que outrora pareciam
eternas.
No
entanto, há algo de sublime nesse esquecimento: ele nos liberta para novas
perspectivas, para novos instantes de beleza e dor. Há, sim, uma certa maneira
de enxergar as coisas - uma clareza fugaz que emerge em raros momentos, como um
raio de luz cortando a névoa.
Essa
visão, quando aparece, transforma o ordinário em extraordinário, ainda que por
um breve instante. Por isso, apesar do peso da perda, é uma dádiva ter vivido
um grande amor, mesmo que tenha sido uma paixão infeliz.
Ele se
torna um marco, uma âncora na existência, um testemunho de que fomos capazes de
sentir profundamente, de nos entregarmos ao caos e à beleza do humano.
Esse
amor, mesmo que despedaçado, serve como um álibi para os desesperos sem razão
que, de tempos em tempos, nos acometem. Quando a angústia sem nome nos invade,
podemos olhar para trás e dizer: “Eu amei, eu sofri, eu vivi”.
E nisso
há uma justificativa, uma narrativa que dá sentido ao absurdo da existência. Os
grandes amores, felizes ou trágicos, são como estrelas que, mesmo extintas,
continuam a brilhar em nossa memória.
Eles
nos lembram que a vida, com toda sua impermanência, é feita de instantes que
desafiam o vazio. Camus, com sua filosofia do absurdo, sugere que o sentido não
está em evitar a dor ou o esquecimento, mas em abraçar a intensidade do
momento, em encontrar beleza no efêmero.
Um
grande amor, ainda que perdido, é uma rebelião contra a indiferença do universo
- uma prova de que, por um instante, fomos maiores que o destino. Quando Camus
escreveu sobre o amor e o absurdo, ele o fez em um contexto de pós-guerra, onde
a Europa, devastada, buscava sentido em meio às ruínas.
Seus
textos refletem a tensão entre o desejo humano de permanência e a realidade de
um mundo que não oferece garantias. Um grande amor, nesse cenário, é tanto um
refúgio quanto uma ferida: ele nos conecta à humanidade, mas também nos expõe à
sua fragilidade.
Assim,
a paixão infeliz não é apenas uma cicatriz; é um testemunho de coragem, de
alguém que ousou enfrentar o absurdo e encontrar, mesmo que por um momento,
algo que valesse a pena.









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