Quando vier a Primavera,
se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira, e as árvores não
serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã
morria a a Primavera era depois de amanhã, morreria contente, porque ela era
depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo,
quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo
esteja certo; e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer
agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o
meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho
preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for,
é que será o que é.
Alberto Caeiro
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