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sábado, janeiro 28, 2023

Quando vier a primavera


Quando vier a Primavera, se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira, e as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria a a Primavera era depois de amanhã, morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

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