O ego
frequentemente confunde "ter" com "ser": eu tenho, logo eu
sou. Quanto mais possuo, mais acredito ser. Essa mentalidade, profundamente
enraizada, faz com que o ego se sustente por meio da comparação constante.
A forma
como os outros nos percebem molda, em grande parte, a maneira como nos vemos.
Assim, o senso de autoestima do ego está, na maioria dos casos, atrelado ao
valor que atribuímos a nós mesmos com base na validação externa.
Vivemos
em uma sociedade que, de maneira predominante, equipara o valor de uma pessoa
àquilo que ela possui - seja riqueza material, status, conquistas ou até mesmo
seguidores em redes sociais.
Essa
ilusão coletiva, amplificada pela cultura do consumo e pela exposição constante
nas mídias digitais, nos condiciona a buscar incessantemente a aprovação alheia
para preencher um vazio interno.
Se não
conseguirmos enxergar além dessa ilusão, estaremos condenados a uma busca
interminável por bens, reconhecimentos ou validações externas, na esperança vã
de encontrar nosso verdadeiro valor e a plenitude de nossa identidade.
Essa
dinâmica não é apenas uma questão individual, mas também um reflexo de
tendências culturais e sociais. Nos últimos anos, por exemplo, o impacto das
redes sociais intensificou essa busca por validação.
Estudos
recentes, como os realizados por psicólogos da Universidade de Harvard em 2023,
apontam que o uso excessivo de plataformas digitais está correlacionado a
níveis mais altos de ansiedade e baixa autoestima, especialmente entre jovens.
A
constante comparação com vidas "perfeitas" exibidas online reforça a
ideia de que nossa identidade depende de conquistas externas ou da aprovação de
estranhos.
Além
disso, a publicidade e a cultura de consumo continuam a alimentar a narrativa
de que adquirir mais - seja um carro novo, uma casa maior ou uma aparência
idealizada - é o caminho para a felicidade.
Por
outro lado, há um movimento crescente de conscientização sobre os perigos dessa
mentalidade. Filosofias como o minimalismo e práticas como a meditação têm
ganhado força como contraponto, incentivando as pessoas a encontrarem valor em
si mesmas, independentemente do que possuem ou de como são percebidas.
Em
2024, por exemplo, o Fórum Mundial de Bem-Estar, realizado em Londres, destacou
a importância de desconectar a autoestima de métricas externas, promovendo a
ideia de que a verdadeira plenitude vem do autoconhecimento e da conexão com
valores internos, como propósito, compaixão e autenticidade.
No
entanto, romper com essa ilusão não é tarefa simples. O ego, por sua natureza,
resiste a abrir mão do controle e da necessidade de validação. Para transcender
essa armadilha, é necessário um esforço consciente para questionar os padrões
culturais e cultivar uma relação mais profunda consigo mesmo.
Isso
pode envolver práticas como a autorreflexão, a desconexão temporária das redes
sociais ou até mesmo a busca por comunidades que valorizem a essência em vez da
aparência.
Somente ao enxergarmos além da superfície do "ter" podemos começar a compreender o verdadeiro significado do "ser".
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