Corria
o ano de 1993, quando o repórter fotográfico de origem sul-africana, Kevin
Carter, viajou a uma aldeia do Sudão e captou uma imagem que se converteu no
rosto da fome na África e que já foi destaque em um par de posts do MDig.
A
fotografia que tornou Carter famoso apresentava a imagem de um garoto
desnutrido prostrado no solo, espreitado por um abutre. Depois de mostrar a
imagem ao mundo, o fotógrafo foi severamente criticado por não ter feito nada
pelo menor.
Um ano
após que a foto foi publicada no The New York Times, Carter ganhou o Pulitzer e
se matou. Dezoito anos após este acontecimento, os pais de Kong Nyong falam
sobre o tema e assinalam que seu filho sobreviveu a essa fome, mas que morreu
há quatro anos por causa de uma alta febre causada por uma infecção.
Os pais do menor comentaram que Kong Nyong não caiu nas garras do abutre nem morreu de fome. De fato, na foto é possível ver que aquele bebê tinha uma pulseira de plástico com a inscrição T3 que era usada pela ONU nos lugares onde assistia e alimentava crianças desnutridas.
Este
fato desmente o mito de que o fotógrafo sul-africano teria abandonado o menor a
própria sorte. Sobre a fotografia, vários especialistas opinaram que Carter
manipulou a imagem, pois ela foi feita desde um ângulo que mostra o bebê sob o
olhar ameaçador do abutre, quando provavelmente este animal se encontrava a uma
distância superior aos 20 metros.
Segundo
narraram os fotógrafos espanhóis José Maria Arenzana e Luís Davilla, que
fizeram fotos muito similares à de Carter na mesma zona, o efeito pode ser
conseguido utilizando uma teleobjetiva.
Por sua
vez, o repórter gráfico sul-africano João Silva, que acompanhou Carter no
Sudão, deu uma versão similar à de seus colegas espanhóis, durante uma
entrevista com o escritor e jornalista Akio Fujiwara.
Segundo
Silva, ele e Carter viajaram com autoridades da ONU e aterrissaram na zona sul
do Sudão em 11 de março de 1993. O pessoal das Nações Unidas disse que
decolariam de novo em uns 30 minutos, de modo que perambularam pelo local para
fazer algumas fotos.
Enquanto
os homens da ONU distribuíam trigo para as mulheres do povoado que saíram de
suas choças de madeira. Silva foi buscar guerrilheiros, enquanto Carter não se
afastou mais que uns poucos metros do avião.
Segundo
Silva, Carter estava surpreso, pois era a primeira vez que via uma situação
real de fome, motivo pelo qual captou fotos de crianças famintas enquanto seus
pais estavam preocupados recolhendo a comida do avião, deixando por um momento
de dar atenção a seus filhos.
Esta era
a situação do menino da foto feita por Carter. Um abutre posou logo atrás e
para enquadrá-los, Carter se aproximou bem devagar para não assustar o abutre,
e fez a foto de uma distância de uns 10 metros.
O suicídio
A vida
de Kevin Carter sempre foi rodeada de altos e baixos. Testemunhas assinalam que
antes de seu suicídio, já havia tentado tirar a vida em mais de uma
oportunidade.
Também
assinalam que tinha problemas familiares e uma personalidade desordenada; que
era depressivo e tinha uma vida caótica. Sua morte ficou registrada em 27 de
julho de 1994.
Carter
chegou ao rio de Braamfontein Spruit, próximo de uma área onde brincava quando
era pequeno e se suicidou. Tinha 33 anos e em seu bilhete de suicídio podia ser
lido o seguinte:
"Estou
deprimido, sem telefone, sem dinheiro para o aluguel, sem dinheiro para a
manutenção dos filhos, para as dívidas. Dinheiro! Estou atormentado pelas
lembranças vividas dos assassinatos e dos cadáveres da ira e de dor... Das
crianças feridas e que morrem de fome, dos loucos do gatilho leve, com
frequência da polícia, dos assassinos e verdugos."
A
fotografia de Carter acabou se tornando uma das primeiras tentativas de fazer
com que o mundo virasse os olhos para o que acontecia na África e que
infelizmente continua acontecendo.
Fosse
qual fosse a intenção de Carter, a fotografia teve e tem sua importância
histórica. Da mesma forma, como podemos ler em seu bilhete de despedida, Carter
nunca disse que estava se suicidando por causa da morte do garoto do urubu, mas
a mídia da época aproveitou o fato para dar uma conotação ainda mais dramática
à sua morte.
Agora,
25 anos depois, aparece alguém para desenterrar a história e colocar novas
palavras na boca de Carter, será que desta vez vão deixar o cara finalmente
descansar em paz? (Fonte: Orbyt via El Mundo)
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