Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei
com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se
existe (se é esses outros)
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim
perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em
nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor, eu sinto-me vários
seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim,
incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?), por uma suma de não-eus sintetizados num eu
postiço.
(Fernando
Pessoa)
Fernando
Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, foi um
poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo,
inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e
comentarista político português.
Fernando
Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do
Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o
idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse
idioma.
O crítico
literário Harold Bloom considerou Pessoa como “Whitman renascido”, e
o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização
ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também da inglesa.
Das quatro
obras que publicou em vida, três são na língua inglesa e apenas uma em
língua portuguesa, intitulada Mensagem. Fernando Pessoa
traduziu várias obras em inglês para o português, e obras portuguesas para o
inglês.
Enquanto
poeta, escreveu sob diversas personalidades – heterônimos, como Ricardo Reis,
Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da
maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.
Robert Hass,
poeta americano, diz: "outros modernistas como Yeats, Pound,
Eliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa
inventava poetas inteiros". Buscou também inspirações nas obras dos
poetas William Wordsworth, James Joyce e Walt Whitman.,
Fernando Pessoa foi internado no dia 29 de novembro de 1935, no Hospital
de São Luís dos Franceses, em Lisboa, com diagnóstico de "cólica
hepática" causada por cálculo biliar associado a cirrose hepática, diagnóstico que
é hoje contestado por estudos médicos, embora o excessivo consumo de
álcool ao longo da sua vida seja consensualmente considerado como um importante
fator causal.
Segundo um desses estudos, Pessoa não revelava alguns dos sintomas mais
típicos de cirrose hepática, tendo provavelmente sido vítima de uma pancreatite aguda.
Morreu no dia 30 de novembro de 1935, com 47 anos de idade. No dia
anterior, tinha escrito a sua última frase, em inglês: "I know not
what tomorrow will bring" ("Não sei o que o amanhã
trará"). O funeral realizou-se a 2 de dezembro no Cemitério dos Prazeres.
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