Quando os
Cientistas Não Sabem - e Quando a Religião Finge Saber
Quando cientistas não sabem alguma coisa - como por que o universo veio
a existir, como as leis fundamentais da física tomaram a forma que têm, ou como
a primeira molécula autorreplicante emergiu da química primordial - eles
admitem sua ignorância.
Na ciência, assumir que se sabe aquilo que não se sabe não é apenas um
erro: é uma falha grave, quase um pecado metodológico. A base da ciência é
justamente reconhecer limites, formular perguntas e seguir evidências. Fingir
conhecimento é trair o próprio método.
No entanto, esse reconhecimento honesto da ignorância contrasta com a
postura comumente adotada por sistemas religiosos. Para muitos discursos de fé,
oferecer respostas absolutas - mesmo quando inexistem evidências - não é uma
falha; é a própria fundação. O que na ciência seria considerado fraude
intelectual, nas religiões se torna virtude, dogma e até motivo de orgulho.
Uma das grandes ironias do discurso religioso está no fato de que
pessoas de fé frequentemente se orgulham de sua humildade espiritual, enquanto
afirmam saber detalhes sobre cosmologia, biologia, moralidade e origem da vida
que nem os melhores cientistas do mundo ousariam declarar como certezas.
Falam com convicção sobre a criação do universo, sobre a formação da
vida, sobre o propósito da existência e até sobre eventos “sobrenaturais” que,
por definição, não podem ser examinados.
Essa pretensão de conhecimento absoluto, embalada em linguagem sagrada,
passa a impressão de sabedoria - quando, na verdade, é apenas uma forma
elegante de evitar perguntas difíceis.
Já os ateus, agnósticos e céticos, ao enfrentarem questões sobre a
natureza do cosmos, tendem a buscar respostas na ciência, admitindo que muitas
delas ainda não existem. Essa postura não é arrogância, como alguns afirmam; é
honestidade intelectual. É reconhecer que a ignorância não é um defeito, mas um
ponto de partida.
Na visão científica, dizer “não sei” é abrir caminho para o progresso.
Na visão dogmática, dizer “eu sei” - mesmo sem saber - é fechar a porta para
qualquer investigação futura.
A história mostra claramente essa diferença de postura. - Quando não se
sabia o que eram relâmpagos, religiões atribuíram o fenômeno à fúria de deuses.
A ciência avançou e descobriu a eletricidade atmosférica.
- Quando não se sabia a origem das doenças, explicava-se tudo com
demônios ou castigos divinos. Hoje, compreendemos vírus, bactérias, fungos,
genética e imunologia.
- Quando não se entendia o movimento dos planetas, sacerdotes criavam
mitologias. A ciência desenvolveu modelos matemáticos e a física moderna.
Em cada etapa, a religião ofereceu uma resposta pronta; a ciência ofereceu uma
pergunta que levou a uma descoberta.
A diferença essencial é que a ciência não pretende ter a verdade final -
e justamente por isso progride. A religião, ao reivindicar conhecimento absoluto
sobre temas para os quais não há evidências, permanece imóvel, protegida pelo
dogma.
No fim, a reflexão de Sam Harris ecoa com uma clareza desconfortável: a
verdadeira humildade não está em declarar certeza onde não há fundamentos, mas
em reconhecer a vastidão do desconhecido. A ciência cresce ao admitir sua
ignorância; a religião se sustenta ao negá-la.
Se há uma virtude intelectual necessária para compreender o universo, ela não é a fé - é a coragem de dizer: “ainda não sabemos.”









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