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quarta-feira, novembro 26, 2025

Ciência x Religião.



Quando os Cientistas Não Sabem - e Quando a Religião Finge Saber

Quando cientistas não sabem alguma coisa - como por que o universo veio a existir, como as leis fundamentais da física tomaram a forma que têm, ou como a primeira molécula autorreplicante emergiu da química primordial - eles admitem sua ignorância.

Na ciência, assumir que se sabe aquilo que não se sabe não é apenas um erro: é uma falha grave, quase um pecado metodológico. A base da ciência é justamente reconhecer limites, formular perguntas e seguir evidências. Fingir conhecimento é trair o próprio método.

No entanto, esse reconhecimento honesto da ignorância contrasta com a postura comumente adotada por sistemas religiosos. Para muitos discursos de fé, oferecer respostas absolutas - mesmo quando inexistem evidências - não é uma falha; é a própria fundação. O que na ciência seria considerado fraude intelectual, nas religiões se torna virtude, dogma e até motivo de orgulho.

Uma das grandes ironias do discurso religioso está no fato de que pessoas de fé frequentemente se orgulham de sua humildade espiritual, enquanto afirmam saber detalhes sobre cosmologia, biologia, moralidade e origem da vida que nem os melhores cientistas do mundo ousariam declarar como certezas.

Falam com convicção sobre a criação do universo, sobre a formação da vida, sobre o propósito da existência e até sobre eventos “sobrenaturais” que, por definição, não podem ser examinados.

Essa pretensão de conhecimento absoluto, embalada em linguagem sagrada, passa a impressão de sabedoria - quando, na verdade, é apenas uma forma elegante de evitar perguntas difíceis.

Já os ateus, agnósticos e céticos, ao enfrentarem questões sobre a natureza do cosmos, tendem a buscar respostas na ciência, admitindo que muitas delas ainda não existem. Essa postura não é arrogância, como alguns afirmam; é honestidade intelectual. É reconhecer que a ignorância não é um defeito, mas um ponto de partida.

Na visão científica, dizer “não sei” é abrir caminho para o progresso. Na visão dogmática, dizer “eu sei” - mesmo sem saber - é fechar a porta para qualquer investigação futura.

A história mostra claramente essa diferença de postura. - Quando não se sabia o que eram relâmpagos, religiões atribuíram o fenômeno à fúria de deuses. A ciência avançou e descobriu a eletricidade atmosférica.

- Quando não se sabia a origem das doenças, explicava-se tudo com demônios ou castigos divinos. Hoje, compreendemos vírus, bactérias, fungos, genética e imunologia.

- Quando não se entendia o movimento dos planetas, sacerdotes criavam mitologias. A ciência desenvolveu modelos matemáticos e a física moderna.
Em cada etapa, a religião ofereceu uma resposta pronta; a ciência ofereceu uma pergunta que levou a uma descoberta.

A diferença essencial é que a ciência não pretende ter a verdade final - e justamente por isso progride. A religião, ao reivindicar conhecimento absoluto sobre temas para os quais não há evidências, permanece imóvel, protegida pelo dogma.

No fim, a reflexão de Sam Harris ecoa com uma clareza desconfortável: a verdadeira humildade não está em declarar certeza onde não há fundamentos, mas em reconhecer a vastidão do desconhecido. A ciência cresce ao admitir sua ignorância; a religião se sustenta ao negá-la.

Se há uma virtude intelectual necessária para compreender o universo, ela não é a fé - é a coragem de dizer: “ainda não sabemos.”

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