Quando
cientistas não sabem alguma coisa – como por que o universo veio a existir ou
como a primeira molécula auto replicante se formou –, eles admitem.
Na
ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso
é o sangue vital da religião.
Uma das
ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrada com frequência em
como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber
de fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista
conhece.
Quando
consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas
opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.
Sam
Harris
Sam
Harris de nome completo Samuel Benjamin Harris nascido em Los Angeles
no dia 9 de abril de 1967 é um escritor, filósofo e neurocientista
norte-americano. É o autor de O Fim da Fé (2004) (no Brasil, "A
Morte da Fé"), laureado com o prêmio PEN/Martha Albrand em 2005 e de Carta
a Uma Nação Crista (2006), uma resposta elaborada às críticas que o livro
anterior recebeu.
Em
2009, ele completou o seu doutorado em neurociência na Universidade
da Califórnia em Los Angeles.
A sua
obra aborda uma vasta gama de tópicos, incluindo racionalidade, religião,
ética, livre arbítrio, neurociência, meditação, psicadélicos, filosofia da
mente, política, terrorismo e inteligência artificial.
Harris
sobressaiu pela sua crítica às religiões, e ao Islã em particular, e é
descrito como um dos "Quatro Cavaleiros do Ateísmo", juntamente com
Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Daniel Dannett.
Após
ter sido intensamente criticado em consequência de suas críticas à dogmática religiosa,
Harris é cauteloso em revelar detalhes sobre sua vida pessoal e sobre seu
passado.
Ele
disse ter sido criado por uma mãe judia e por um pai Quaker, e disse
para a revista Newsweek que quando era criança, teria recusado fazer a
cerimónia Bar mitzvá.
Frequentou
a Universidade de Stanford, na condição de aluno de graduação (major) em língua
inglesa, mas deixou os estudos depois de uma experiência com a droga LSD, que
lhe alterou a perspectiva de vida.
Durante
esse período estudou o budismo e a meditação e leu centenas de livros
sobre religião. Após onze anos, retornou para Stanford onde obteve a sua graduação
em filosofia. Mais tarde obteve o seu doutorado em neurociência na Universidade
da Califórnia em Los Angeles, utilizando imagens de ressonância magnética para
conduzir pesquisas sobre a base neurológica das crenças, descrenças e
incertezas.
Visão
de Mundo
A
mensagem básica de Harris é a de que chegou a hora de questionar livremente a
ideia de fé religiosa. Ele entende que a sobrevivência da civilização está
em perigo devido ao tabu de não se permitir questionar as crenças religiosas.
Enquanto
realça o que ele considera como um problema particular posto pelo Islã neste
momento com relação ao terrorismo internacional, Harris diretamente
critica as religiões de todos os tipos e tendências. Ele enxerga a religião
como um impedimento para o progresso em relação a abordagens mais esclarecidas
da ética e da espiritualidade.
Embora
um ateísta por definição, Harris afirma que o termo é desnecessário. Sua
posição é a de que o ateísmo não é uma visão de mundo ou filosofia, mas a
"destruição de ideias más".
Declara
que a religião é especialmente cheia de ideias más, chamando de "um
dos mais perversos maus usos de inteligência que nós já inventámos". Ele
compara as crenças religiosas modernas com os mitos dos antigos gregos,
que foram em tempos aceitos como verdadeiros, mas que atualmente estão
obsoletos.
Em uma
entrevista em janeiro de 2007, Harris disse: "Nós não temos uma palavra
para não acreditar em Zeus, o que é dizer que nós somos todos ateístas em
respeito a Zeus. E nós não temos uma palavra para não ser um astrólogo".
Ele
então diz que o termo será aposentado apenas quando "nós todos alcançarmos
um nível de honestidade intelectual onde não mais fingiremos estar certos sobre
coisas de que nós não estamos certos”.
Ele
também rejeita a alegação de que a Bíblia foi inspirada por um Deus
omnisciente. Declara que, se esse fosse o caso, o livro iria "fazer
predições específicas, constatáveis, sobre os eventos humanos".
Em vez
disso, a Bíblia "não contém uma única frase que não pudesse ter sido
escrita por um homem ou uma mulher vivendo no primeiro século". No
livro O Fim da Fé, Harris dedica um capítulo à "Natureza da
Crença".
Sua
principal sugestão é que todas as crenças, exceto aquelas relacionadas aos
dogmas religiosos, são baseadas em provas e experiências. Ele diz que a
religião permite que visões que, de outra forma, seriam um sinal de loucura, se
tornem aceitas e, em alguns casos, veneradas como "sagradas".
Ele dá
especial atenção a doutrinas tais como a transubstanciação, a doutrina adotada
pela Igreja Católica de que, durante a missa, o pão e vinho da eucaristia mudam
de substância para o corpo e sangue de Jesus Cristo.
Harris
sugere que se alguém isoladamente desenvolvesse essa crença, iria ser
considerado "louco". Ele entende ser "meramente um acidente da
história ser considerado normal em nossa sociedade acreditar que o criador do
universo possa ouvir os seus pensamentos, enquanto que é demonstrativo de
doença mental acreditar que ele está se comunicando com você por batidas de
chuva em código Morse na janela de seu quarto".
Para
ele, apesar de existirem várias formas de obter conhecimento, aceitar mentiras
apenas por serem emocionalmente agradáveis não é algo saudável. Harris acredita
que no contexto de um século XXI, com tecnologias militares de um poder
inimaginável, continuar relegando a razão a fantasias religiosas constitui um
sério perigo ao futuro da humanidade
Harris
centra muitas de suas críticas sobre o estado contemporâneo das coisas
religiosas nos estados Unidos. Harris preocupa-se de que muitas áreas da
cultura de seu país estão danificadas pelas opiniões que são guiadas pelo dogma
religioso.
Por
exemplo, ele cita pesquisas de opinião pública mostrando que 44% dos
norte-americanos acreditam que é "certo" ou "provável" que Jesus retornará
à Terra dentro dos próximos cinquenta anos, e que o mesmo número percentual de
pessoas acredita que o Criacionismo deve ser ensinado em escolas públicas,
e que Deus prometeu literalmente a terra de Israel aos atuais judeus.
Quando
o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush publicamente
invocou Deus em discursos sobre questões de política interna e externa,
Harris nos propôs considerar como nós poderíamos reagir se ele tivesse
mencionado Zeus ou Apolo na mesma situação.
Tais
opiniões e manifestações sem lógica são frequentemente protegidas contra um
criticismo objetivo, o que nos impede de planejar um futuro sustentável e
construir uma sociedade realmente global, diz Harris.
Em
consideração a moralidade, Harris considera que estamos há muito atrasados para
adotarmos o humanismo secular. Harris afirma que a suposta ligação entre fé
religiosa e moralidade é um mito, que não está baseado em provas estatísticas.
Ele
observa, por exemplo, que os países escandinavos, altamente secularizados,
estão dentre os mais generosos para com o terceiro mundo. Harris vai além e
coloca que, longe de ser a fonte de nossa boa moral, a religião pode render
posições éticas altamente problemáticas.
Ele
cita diversos exemplos, incluindo a proibição da Igreja Católica do uso de
preservativos, alegadamente agravando a epidemia global de AIDS, as
tentativas feitas por grupos de pressão religiosos estadunidenses para
impedir pesquisas com células tronco, e a natureza punitiva da "guerra
contra as drogas" nos Estados Unidos.
Ele vê
nesses exemplos a tendência da religião separar os juízos morais do foco no
sofrimento humano real. Harris também vê a influência da religião na maioria
das leis estadunidenses sobre "vícios". Ele entende que a
maioria das leis marginalizando a pornografia, sodomia e prostituição têm,
na verdade, a intenção de combater o “pecado”, e não o “crime”.
Harris
sustenta que a moralidade e a ética podem ser estudadas, e melhoradas, sem
"pressupor qualquer coisa com base em provas insuficientes". Ele
declara que os humanos devem "decidir o que é bom nos bons livros"
("decide what is good in the Good Books"), em vez de derivar o nosso
código moral das escrituras. Ele elogia a regra de ouro como um
ensinamento moral que é "ótimo, sábio e compassivo”.
Ele
contrasta isso com as passagens bíblicas que declaram que atos como sexo
pré-marital, desobediência aos pais e a adoração de "outros deuses"
devem ser punidos com morte.
Harris
declara que nós evoluímos em nosso pensamento de uma maneira que nós compreendemos
que a Regra de Ouro vale a pena ser seguida, enquanto que outros mandamentos em
outras partes da Bíblia não.
Ele
também ressalta que a Regra de Ouro não é exclusiva de uma religião em
particular, e que ela foi ensinada por figuras tais como Confúcio e o Buda séculos
antes do Novo Testamento ser escrito.
Glenn
Greenwald afirmou que "Harris e outros promovem Islamofobia sob
o disfarce de ateísmo racional".
Em
abril de 2017, Harris provocou polêmica ao receber o cientista social Charles
Murray em seu podcast, onde discutiram tópicos como a herdabilidade do QI,
raça e inteligência.
Harris
afirmou que a indignação pelo convite se deu por conta do violento protesto que
fizeram contra Murray no Middlebury College, no mês anterior a sua participação
no podcast, e não pelo particular interesse pelo tópico que foi discutido.
O
podcast recebeu críticas significativas, por exemplo, de Vox e Slate. Harris
e Murray foram defendidos pelo comentarista conservador Andrew Sullivan, bem
como pelo neurocientista Richard Haier, que afirmou que os pontos que Murray
alegava serem opinião científica dominante eram de fato predominantes.
A equipe da Hatewatch no Southern Poverty Law Center escreveu que membros do movimento "céticos", dos quais Harris é "uma das faces mais públicas", ajudam a "canalizar as pessoas para a extrema-direita”.
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