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sábado, dezembro 27, 2025

O Perigo da Lingua.


A Fofoca: Nossa Paixão por Atirar Pedras

Não sei o que acontece conosco, mas parece que adoramos ser como pedras nas mãos uns dos outros. Gostamos de comentar a vida alheia, tirar conclusões precipitadas e julgar sem piedade.

Não nos importam as boas ações ou as beneficências que o outro realiza; o que nos atrai é destacar o que ele deixou de fazer, ou pior, inventar falhas onde elas não existem.

O que nos seduz mesmo é a desgraça alheia. Não é preciso ser Freud, o pai da psicanálise, para entender que isso tem raízes profundas na inveja - aquele sentimento que nos faz diminuí-los para nos sentirmos maiores.

Vivemos como a famosa "Candinha", personagem icônica da antiga coluna "Mexericos da Candinha" na Revista do Rádio dos anos dourados, que espalhava fofocas sobre celebridades.

Comentamos tudo, muitas vezes sem conhecer a verdade dos fatos. E, se for mentira, tratamos de espalhá-la até que ela vire "verdade" aos olhos de todos. Nossos ídolos e celebridades são as maiores vítimas dessa língua afiada.

"Ele gosta de travesti!", "Ela trai o marido!", "Ele bebe demais!" - essas são as pedras que sempre carregamos nas mãos, prontas para atirar. Basta um boato para destruirmos reputações construídas com anos de esforço.

Mas o que importam as atitudes dos outros se elas não nos afetam diretamente? Cada pessoa tem o direito de viver sua vida como quiser, de ir e vir, de cometer erros e acertos privados. Antes de acusar alguém, deveríamos nos olhar no espelho: estamos cumprindo nosso papel com retidão e honestidade?

Julgamos os outros com tanta facilidade, mas quantas vezes falhamos em nossas próprias vidas? A vida não deveria ser uma eterna revista de fofocas. Precisamos privilegiar a decência e o respeito.

A língua não deve ser usada como arma para ferir ou destruir. Se todos usássemos a língua de Camões para poetizar a beleza do mundo e a de Castro Alves para clamar por justiça e liberdade, em vez de beijar a fofoca, construiríamos uma sociedade mais verdadeira, empática e unida.

Não quero plagiar Chico Buarque ao dizer: "Agora, falando sério!". A seriedade está em sermos honestos, imparciais e responsáveis com nossas palavras. Quem não tem nada de construtivo a dizer deveria ficar calado - afinal, boca fechada não entra mosquito nem sai besteira.

A língua é, de fato, uma arma poderosa: dela saem palavras que podem erguer ou demolir o que está sendo construído. Temos que ter extremo cuidado ao fazer comentários, para que um boato não sufoque a verdade, que sempre observa de longe, silenciosa. Em 2025, com as redes sociais amplificando tudo em segundos, essa cultura da fofoca ganhou proporções gigantescas.

Virou comum ver "exposições" virais de celebridades, como polêmicas envolvendo cantoras em rivalidades musicais, com acusações de plágio ou farpas públicas, influencers digitais geradas por IA confundindo o público com sátiras que parecem reais, ou até gestos românticos exagerados que geram debates infinitos sobre privacidade.

Muitos casos evoluem para uma "cultura do cancelamento", onde um erro, uma frase mal interpretada ou um boato leva a linchamentos virtuais, perda de contratos e danos à saúde mental.

Vemos isso repetir-se: reputações destruídas da noite para o dia, sem chance de defesa justa. "Mentiras sinceras não me interessam", como diria o poeta, nem verdades absolutas distorcidas.

O que importa é a probidade da palavra - falar com integridade e empatia. Calemos a boca e deixemos de fofocar. Caso contrário, quando morrermos, o corpo irá num caixão, mas a língua, essa sim, precisará de um caminhão inteiro, como canta Jackson do Pandeiro em "Língua Ferina", para carregar todo o veneno que espalhamos.

Que tal usarmos nossa voz para construir, em vez de destruir? Uma sociedade mais humana começa com o silêncio diante do que não nos cabe julgar.

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