A Fofoca: Nossa Paixão por Atirar Pedras
Não sei
o que acontece conosco, mas parece que adoramos ser como pedras nas mãos uns
dos outros. Gostamos de comentar a vida alheia, tirar conclusões precipitadas e
julgar sem piedade.
Não nos
importam as boas ações ou as beneficências que o outro realiza; o que nos atrai
é destacar o que ele deixou de fazer, ou pior, inventar falhas onde elas não
existem.
O que
nos seduz mesmo é a desgraça alheia. Não é preciso ser Freud, o pai da
psicanálise, para entender que isso tem raízes profundas na inveja - aquele
sentimento que nos faz diminuí-los para nos sentirmos maiores.
Vivemos
como a famosa "Candinha", personagem icônica da antiga coluna
"Mexericos da Candinha" na Revista do Rádio dos anos dourados, que
espalhava fofocas sobre celebridades.
Comentamos
tudo, muitas vezes sem conhecer a verdade dos fatos. E, se for mentira,
tratamos de espalhá-la até que ela vire "verdade" aos olhos de todos.
Nossos ídolos e celebridades são as maiores vítimas dessa língua afiada.
"Ele
gosta de travesti!", "Ela trai o marido!", "Ele bebe
demais!" - essas são as pedras que sempre carregamos nas mãos, prontas
para atirar. Basta um boato para destruirmos reputações construídas com anos de
esforço.
Mas o
que importam as atitudes dos outros se elas não nos afetam diretamente? Cada
pessoa tem o direito de viver sua vida como quiser, de ir e vir, de cometer
erros e acertos privados. Antes de acusar alguém, deveríamos nos olhar no
espelho: estamos cumprindo nosso papel com retidão e honestidade?
Julgamos
os outros com tanta facilidade, mas quantas vezes falhamos em nossas próprias
vidas? A vida não deveria ser uma eterna revista de fofocas. Precisamos
privilegiar a decência e o respeito.
A língua
não deve ser usada como arma para ferir ou destruir. Se todos usássemos a
língua de Camões para poetizar a beleza do mundo e a de Castro Alves para
clamar por justiça e liberdade, em vez de beijar a fofoca, construiríamos uma
sociedade mais verdadeira, empática e unida.
Não
quero plagiar Chico Buarque ao dizer: "Agora, falando sério!". A
seriedade está em sermos honestos, imparciais e responsáveis com nossas
palavras. Quem não tem nada de construtivo a dizer deveria ficar calado -
afinal, boca fechada não entra mosquito nem sai besteira.
A língua
é, de fato, uma arma poderosa: dela saem palavras que podem erguer ou demolir o
que está sendo construído. Temos que ter extremo cuidado ao fazer comentários,
para que um boato não sufoque a verdade, que sempre observa de longe,
silenciosa. Em 2025, com as redes sociais amplificando tudo em segundos, essa
cultura da fofoca ganhou proporções gigantescas.
Virou
comum ver "exposições" virais de celebridades, como polêmicas
envolvendo cantoras em rivalidades musicais, com acusações de plágio ou farpas
públicas, influencers digitais geradas por IA confundindo o público com sátiras
que parecem reais, ou até gestos românticos exagerados que geram debates
infinitos sobre privacidade.
Muitos
casos evoluem para uma "cultura do cancelamento", onde um erro, uma
frase mal interpretada ou um boato leva a linchamentos virtuais, perda de
contratos e danos à saúde mental.
Vemos
isso repetir-se: reputações destruídas da noite para o dia, sem chance de
defesa justa. "Mentiras sinceras não me interessam", como diria o
poeta, nem verdades absolutas distorcidas.
O que
importa é a probidade da palavra - falar com integridade e empatia. Calemos a
boca e deixemos de fofocar. Caso contrário, quando morrermos, o corpo irá num
caixão, mas a língua, essa sim, precisará de um caminhão inteiro, como canta
Jackson do Pandeiro em "Língua Ferina", para carregar todo o veneno
que espalhamos.
Que tal usarmos nossa voz para construir, em vez de destruir? Uma sociedade mais humana começa com o silêncio diante do que não nos cabe julgar.









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