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domingo, novembro 02, 2025

Redes Sociais


   

As redes sociais não ensinam a dialogar, pois é extremamente fácil evitar a controvérsia. Muita gente as utiliza não para unir ou ampliar horizontes, mas, ao contrário, para se fechar no que Zygmunt Bauman chamava de zonas de conforto - bolhas onde o único som que se ouve é o eco das próprias vozes, e o único rosto que se vê é o reflexo das próprias ideias.

As redes são, sem dúvida, úteis e prazerosas: conectam famílias separadas por oceanos, democratizam o acesso à informação, permitem que vozes marginalizadas sejam amplificadas.

Mas também são uma armadilha sutil. Algoritmos projetados para maximizar engajamento nos alimentam com conteúdo que reforçam crenças pré-existentes, criando câmaras de eco onde a dissonância cognitiva é banida.

O resultado? Uma polarização que não apenas separa amigos, mas corrói a própria possibilidade de empatia.

Acontecimentos que Ilustram o Fenômeno

Eleições de 2016 nos EUA e no Brasil (2018): A Cambridge Analytica usou dados do Facebook para micro segmentar eleitores, enviando mensagens que exploravam medos e preconceitos. O diálogo público foi substituído por narrativas paralelas - uma para cada bolha.

Primavera Árabe (2011) vs. Desinformação Atual: Inicialmente, o Twitter e o Facebook foram celebrados como ferramentas de mobilização. Anos depois, as mesmas plataformas se tornaram vetores de fake news durante a pandemia de COVID-19, com grupos antivacina se isolando em comunidades fechadas no WhatsApp e Telegram.

Cancelamento e Linchamentos Virtuais: Em 2023, uma professora brasileira foi demitida após um vídeo editado viralizar no TikTok. A "multidão digital" julgou sem ouvir a versão dela - um exemplo extremo de como a controvérsia é não apenas evitada, mas punida quando invade a zona de conforto alheia.

Uma Reflexão Adicional

Bauman, em Modernidade Líquida, alertava que a conexão fácil não garante proximidade real. Hoje, seguimos milhares, mas conversamos com ninguém. O desafio não é abandonar as redes, mas usá-las como pontes, não bunkers.

Isso exige esforço deliberado: seguir perfis que nos incomodam, participar de debates em espaços abertos, questionar o algoritmo que nos protege da dor do desacordo. Só assim o eco se transforma em diálogo - e o reflexo, em rosto humano.

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