As
redes sociais não ensinam a dialogar, pois é extremamente fácil evitar a
controvérsia. Muita gente as utiliza não para unir ou ampliar horizontes, mas,
ao contrário, para se fechar no que Zygmunt Bauman chamava de zonas de conforto
- bolhas onde o único som que se ouve é o eco das próprias vozes, e o único
rosto que se vê é o reflexo das próprias ideias.
As
redes são, sem dúvida, úteis e prazerosas: conectam famílias separadas por
oceanos, democratizam o acesso à informação, permitem que vozes marginalizadas
sejam amplificadas.
Mas
também são uma armadilha sutil. Algoritmos projetados para maximizar
engajamento nos alimentam com conteúdo que reforçam crenças pré-existentes,
criando câmaras de eco onde a dissonância cognitiva é banida.
O
resultado? Uma polarização que não apenas separa amigos, mas corrói a própria
possibilidade de empatia.
Acontecimentos que Ilustram o Fenômeno
Eleições
de 2016 nos EUA e no Brasil (2018): A Cambridge Analytica usou dados do
Facebook para micro segmentar eleitores, enviando mensagens que exploravam
medos e preconceitos. O diálogo público foi substituído por narrativas
paralelas - uma para cada bolha.
Primavera
Árabe (2011) vs. Desinformação Atual: Inicialmente, o Twitter e o Facebook
foram celebrados como ferramentas de mobilização. Anos depois, as mesmas
plataformas se tornaram vetores de fake news durante a pandemia de COVID-19,
com grupos antivacina se isolando em comunidades fechadas no WhatsApp e
Telegram.
Cancelamento
e Linchamentos Virtuais: Em 2023, uma professora brasileira foi demitida após
um vídeo editado viralizar no TikTok. A "multidão digital" julgou sem
ouvir a versão dela - um exemplo extremo de como a controvérsia é não apenas
evitada, mas punida quando invade a zona de conforto alheia.
Uma Reflexão Adicional
Bauman,
em Modernidade Líquida, alertava que a conexão fácil não garante proximidade
real. Hoje, seguimos milhares, mas conversamos com ninguém. O desafio não é
abandonar as redes, mas usá-las como pontes, não bunkers.
Isso
exige esforço deliberado: seguir perfis que nos incomodam, participar de
debates em espaços abertos, questionar o algoritmo que nos protege da dor do
desacordo. Só assim o eco se transforma em diálogo - e o reflexo, em rosto
humano.









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