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sábado, setembro 06, 2025

Edward Smith, Comodoro




Edward Smith, o Comodoro da White Star Line

Edward John Smith, nascido em 27 de janeiro de 1850 em Hanley, Staffordshire, Inglaterra, é uma figura lendária na história marítima, conhecido tanto por sua carreira ilustre quanto pelo trágico destino como comandante do RMS Titanic.

Em 1904, Smith alcançou o prestigioso posto de Comodoro da White Star Line, uma das mais renomadas companhias de navegação da época. Esse título significava que ele sempre estaria no comando do maior e mais imponente navio da frota, uma responsabilidade que refletia sua vasta experiência e reputação impecável.

Seu primeiro comando como Comodoro foi o RMS Baltic, durante sua viagem inaugural em 29 de junho de 1904. Três anos depois, em 8 de maio de 1907, assumiu o RMS Adriatic, navio-irmão do Baltic, que consolidou sua posição como um dos capitães mais respeitados da companhia.

Após a chegada do Adriatic a Nova York em sua viagem inaugural, Smith fez uma declaração memorável sobre sua carreira:

“Quando alguém me pergunta como melhor descrever minha experiência de quase quarenta anos no mar, eu simplesmente digo: sem intercorrências. Claro que houve tempestades de inverno, vendavais, nevoeiros e coisas do tipo, mas em toda a minha experiência, nunca estive em qualquer acidente digno de nota. Apenas em uma ocasião vi uma embarcação em perigo em todos os meus anos no mar. Eu nunca vi um naufrágio, nunca estive em um naufrágio, nem estive em qualquer situação que ameaçasse acabar em desastre de algum tipo. Perceba, eu não sou um bom material para uma história.”

Essa declaração, embora otimista, não refletia completamente a realidade de sua carreira, que, embora brilhante, não esteve isenta de incidentes.

Incidentes Menores e a Reputação de Smith

Apesar de sua autoproclamação de uma carreira "sem intercorrências", Edward Smith enfrentou alguns contratempos. Em 1889, enquanto comandava o SS Coptic, o navio encalhou na costa do Rio de Janeiro, Brasil, durante uma manobra.

Vinte anos depois, em 1909, um incidente semelhante ocorreu com o RMS Adriatic em Nova York. Ambos os eventos, no entanto, foram resolvidos sem consequências graves, demonstrando a habilidade de Smith em lidar com situações adversas.

Durante seu comando no Adriatic, ele ganhou o apelido de "Rei da Tempestade", uma referência à sua capacidade de navegar com segurança mesmo em condições climáticas extremas.

Entre seus muitos apelidos, o que mais se destacou foi "Comandante dos Milionários". Smith era extremamente admirado no meio marítimo e entre os passageiros de elite, que valorizavam sua personalidade serena, reconfortante e confiante.

Sua presença calma, aliada a um tom de voz benevolente, mas firme, conquistava a confiança de todos. Muitos passageiros abastados da White Star Line se recusavam a viajar em navios que não fossem comandados por ele, o que atesta sua popularidade.

O oficial Charles Lightoller, que serviu com Smith no Olympic e no Titanic, escreveu em suas memórias que o capitão era excepcional na manobra de grandes navios pelos estreitos canais do porto de Nova York, destacando sua destreza e autoridade tranquila.

Smith também se tornou o marinheiro mais bem pago de sua época, recebendo um salário anual de 1.250 libras esterlinas (equivalente a mais de 150 mil libras em valores atuais, ajustados pela inflação), além de um bônus de 200 libras por evitar colisões.

Em comparação, Henry Wilde, seu oficial chefe no Olympic e no Titanic, recebia cerca de 300 libras por ano, evidenciando o status elevado de Smith dentro da companhia.

A Classe Olympic e o Primeiro Grande Acidente

Com o sucesso do Baltic e do Adriatic, a White Star Line decidiu investir em uma nova geração de transatlânticos de proporções nunca antes vistas: a Classe Olympic, composta pelo RMS Olympic, RMS Titanic e, posteriormente, o RMS Britannic.

Como Comodoro, Smith foi designado para comandar cada um desses navios em suas viagens inaugurais. Em 21 de junho de 1911, ele assumiu o comando do RMS Olympic, o primeiro da classe, para sua viagem inaugural.

Antes da partida, Smith foi recebido pelo rei Afonso XIII da Espanha, que ficou tão impressionado com o capitão que, após o naufrágio do Titanic, enviou uma carta pessoal de condolências à viúva de Smith, Eleanor.

A viagem inaugural do Olympic foi um sucesso, exceto por uma pequena colisão com um rebocador no porto de Nova York, um incidente menor que não comprometeu a reputação do navio ou de seu comandante. No entanto, o primeiro acidente significativo da carreira de Smith ocorreu em 20 de setembro de 1911, no Solent, próximo à Ilha de Wight.

Enquanto navegava paralelamente ao HMS Hawke, um cruzador da Marinha Real Britânica, o Olympic realizou uma manobra inesperada para estibordo. A sucção gerada pelas enormes hélices do Olympic atraiu o Hawke, que colidiu de proa com a popa do transatlântico, abrindo dois grandes buracos no casco do Olympic, inundando dois compartimentos e danificando um dos eixos das hélices.

O Hawke, por sua vez, sofreu danos graves na proa e quase emborcou. Apesar da gravidade do incidente, o Olympic conseguiu retornar a Southampton por conta própria. As investigações posteriores atribuíram a culpa ao Olympic, mas Smith foi isento de responsabilidade direta.

O navio foi enviado para reparos nos estaleiros da Harland & Wolff, em Belfast, retornando ao serviço em novembro de 1911. Smith continuou no comando do Olympic até 30 de março de 1912, quando foi substituído pelo capitão Herbert Haddock para assumir o comando do RMS Titanic.

O Titanic e o Legado de Smith

Em abril de 1912, Edward Smith assumiu o comando do RMS Titanic, o segundo navio da Classe Olympic e o maior transatlântico do mundo na época. Considerado "praticamente inafundável" pela propaganda da White Star Line, o Titanic representava o ápice da engenharia naval e do luxo marítimo.

A viagem inaugural do Titanic, que partiu de Southampton em 10 de abril de 1912 com destino a Nova York, era vista como o ponto alto da carreira de Smith, que planejava se aposentar após essa travessia.

No entanto, na noite de 14 de abril de 1912, o Titanic colidiu com um iceberg no Atlântico Norte, a cerca de 600 km da costa da Terra Nova. O impacto abriu brechas em pelo menos cinco compartimentos estanques do navio, que não foi projetado para resistir a danos tão extensos.

Em menos de três horas, o Titanic afundou, levando consigo cerca de 1.500 vidas, incluindo a de Edward Smith. Relatos de sobreviventes sugerem que Smith permaneceu no comando até o fim, supervisionando a evacuação e garantindo que mulheres e crianças fossem priorizadas nos botes salva-vidas.

Sua conduta durante a tragédia foi descrita como heroica, mas também cercada de controvérsias, especialmente pela decisão de manter a alta velocidade do navio apesar dos avisos de icebergs na região. O naufrágio do Titanic marcou o fim trágico de uma carreira notável e lançou uma sombra sobre o legado de Smith.

Enquanto alguns o veem como um comandante experiente que enfrentou uma catástrofe imprevisível, outros questionam suas decisões, como a de ignorar os alertas de gelo e manter a velocidade do navio. Apesar disso, sua reputação como um líder respeitado e carismático permanece intacta entre aqueles que o conheceram.

Legado e Reflexão

Edward Smith personificava o ideal do capitão marítimo da Era Eduardiana: experiente, confiante e profundamente respeitado por colegas e passageiros. Sua carreira, marcada por feitos impressionantes e alguns contratempos, reflete a complexidade da navegação em uma era de rápida inovação tecnológica.

O naufrágio do Titanic, embora tenha definido seu legado para a posteridade, não apaga os quase 40 anos de serviço exemplar que o tornaram uma figura icônica no mundo marítimo.

A tragédia do Titanic também levou a mudanças significativas na regulamentação marítima, incluindo a obrigatoriedade de botes salva-vidas suficientes para todos a bordo e a criação do Patrulha Internacional do Gelo.

Assim, a história de Edward Smith não é apenas a de um homem, mas também a de uma era de ambição, confiança e, por fim, lições aprendidas a um custo devastador.



O Baltic, primeiro Navio que Smith comandou como Comodoro

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