Edward Smith, o Comodoro da White Star Line
Edward
John Smith, nascido em 27 de janeiro de 1850 em Hanley, Staffordshire,
Inglaterra, é uma figura lendária na história marítima, conhecido tanto por sua
carreira ilustre quanto pelo trágico destino como comandante do RMS Titanic.
Em
1904, Smith alcançou o prestigioso posto de Comodoro da White Star Line, uma
das mais renomadas companhias de navegação da época. Esse título significava
que ele sempre estaria no comando do maior e mais imponente navio da frota, uma
responsabilidade que refletia sua vasta experiência e reputação impecável.
Seu
primeiro comando como Comodoro foi o RMS Baltic, durante sua viagem inaugural
em 29 de junho de 1904. Três anos depois, em 8 de maio de 1907, assumiu o RMS
Adriatic, navio-irmão do Baltic, que consolidou sua posição como um dos
capitães mais respeitados da companhia.
Após a
chegada do Adriatic a Nova York em sua viagem inaugural, Smith fez uma declaração
memorável sobre sua carreira:
“Quando
alguém me pergunta como melhor descrever minha experiência de quase quarenta
anos no mar, eu simplesmente digo: sem intercorrências. Claro que houve
tempestades de inverno, vendavais, nevoeiros e coisas do tipo, mas em toda a
minha experiência, nunca estive em qualquer acidente digno de nota. Apenas em
uma ocasião vi uma embarcação em perigo em todos os meus anos no mar. Eu nunca
vi um naufrágio, nunca estive em um naufrágio, nem estive em qualquer situação
que ameaçasse acabar em desastre de algum tipo. Perceba, eu não sou um bom
material para uma história.”
Essa
declaração, embora otimista, não refletia completamente a realidade de sua
carreira, que, embora brilhante, não esteve isenta de incidentes.
Incidentes Menores e a Reputação de Smith
Apesar
de sua autoproclamação de uma carreira "sem intercorrências", Edward
Smith enfrentou alguns contratempos. Em 1889, enquanto comandava o SS Coptic, o
navio encalhou na costa do Rio de Janeiro, Brasil, durante uma manobra.
Vinte
anos depois, em 1909, um incidente semelhante ocorreu com o RMS Adriatic em
Nova York. Ambos os eventos, no entanto, foram resolvidos sem consequências
graves, demonstrando a habilidade de Smith em lidar com situações adversas.
Durante
seu comando no Adriatic, ele ganhou o apelido de "Rei da Tempestade",
uma referência à sua capacidade de navegar com segurança mesmo em condições
climáticas extremas.
Entre
seus muitos apelidos, o que mais se destacou foi "Comandante dos
Milionários". Smith era extremamente admirado no meio marítimo e entre os
passageiros de elite, que valorizavam sua personalidade serena, reconfortante e
confiante.
Sua
presença calma, aliada a um tom de voz benevolente, mas firme, conquistava a
confiança de todos. Muitos passageiros abastados da White Star Line se
recusavam a viajar em navios que não fossem comandados por ele, o que atesta
sua popularidade.
O
oficial Charles Lightoller, que serviu com Smith no Olympic e no Titanic,
escreveu em suas memórias que o capitão era excepcional na manobra de grandes
navios pelos estreitos canais do porto de Nova York, destacando sua destreza e
autoridade tranquila.
Smith
também se tornou o marinheiro mais bem pago de sua época, recebendo um salário
anual de 1.250 libras esterlinas (equivalente a mais de 150 mil libras em
valores atuais, ajustados pela inflação), além de um bônus de 200 libras por
evitar colisões.
Em
comparação, Henry Wilde, seu oficial chefe no Olympic e no Titanic, recebia
cerca de 300 libras por ano, evidenciando o status elevado de Smith dentro da
companhia.
A Classe Olympic e o Primeiro Grande Acidente
Com o
sucesso do Baltic e do Adriatic, a White Star Line decidiu investir em uma nova
geração de transatlânticos de proporções nunca antes vistas: a Classe Olympic,
composta pelo RMS Olympic, RMS Titanic e, posteriormente, o RMS Britannic.
Como
Comodoro, Smith foi designado para comandar cada um desses navios em suas
viagens inaugurais. Em 21 de junho de 1911, ele assumiu o comando do RMS
Olympic, o primeiro da classe, para sua viagem inaugural.
Antes
da partida, Smith foi recebido pelo rei Afonso XIII da Espanha, que ficou tão
impressionado com o capitão que, após o naufrágio do Titanic, enviou uma carta
pessoal de condolências à viúva de Smith, Eleanor.
A
viagem inaugural do Olympic foi um sucesso, exceto por uma pequena colisão com
um rebocador no porto de Nova York, um incidente menor que não comprometeu a
reputação do navio ou de seu comandante. No entanto, o primeiro acidente
significativo da carreira de Smith ocorreu em 20 de setembro de 1911, no
Solent, próximo à Ilha de Wight.
Enquanto
navegava paralelamente ao HMS Hawke, um cruzador da Marinha Real Britânica, o
Olympic realizou uma manobra inesperada para estibordo. A sucção gerada pelas
enormes hélices do Olympic atraiu o Hawke, que colidiu de proa com a popa do
transatlântico, abrindo dois grandes buracos no casco do Olympic, inundando
dois compartimentos e danificando um dos eixos das hélices.
O
Hawke, por sua vez, sofreu danos graves na proa e quase emborcou. Apesar da
gravidade do incidente, o Olympic conseguiu retornar a Southampton por conta
própria. As investigações posteriores atribuíram a culpa ao Olympic, mas Smith
foi isento de responsabilidade direta.
O navio
foi enviado para reparos nos estaleiros da Harland & Wolff, em Belfast,
retornando ao serviço em novembro de 1911. Smith continuou no comando do
Olympic até 30 de março de 1912, quando foi substituído pelo capitão Herbert
Haddock para assumir o comando do RMS Titanic.
O Titanic e o Legado de Smith
Em
abril de 1912, Edward Smith assumiu o comando do RMS Titanic, o segundo navio
da Classe Olympic e o maior transatlântico do mundo na época. Considerado
"praticamente inafundável" pela propaganda da White Star Line, o
Titanic representava o ápice da engenharia naval e do luxo marítimo.
A
viagem inaugural do Titanic, que partiu de Southampton em 10 de abril de 1912
com destino a Nova York, era vista como o ponto alto da carreira de Smith, que
planejava se aposentar após essa travessia.
No
entanto, na noite de 14 de abril de 1912, o Titanic colidiu com um iceberg no
Atlântico Norte, a cerca de 600 km da costa da Terra Nova. O impacto abriu
brechas em pelo menos cinco compartimentos estanques do navio, que não foi
projetado para resistir a danos tão extensos.
Em
menos de três horas, o Titanic afundou, levando consigo cerca de 1.500 vidas,
incluindo a de Edward Smith. Relatos de sobreviventes sugerem que Smith
permaneceu no comando até o fim, supervisionando a evacuação e garantindo que
mulheres e crianças fossem priorizadas nos botes salva-vidas.
Sua
conduta durante a tragédia foi descrita como heroica, mas também cercada de
controvérsias, especialmente pela decisão de manter a alta velocidade do navio
apesar dos avisos de icebergs na região. O naufrágio do Titanic marcou o fim
trágico de uma carreira notável e lançou uma sombra sobre o legado de Smith.
Enquanto
alguns o veem como um comandante experiente que enfrentou uma catástrofe
imprevisível, outros questionam suas decisões, como a de ignorar os alertas de
gelo e manter a velocidade do navio. Apesar disso, sua reputação como um líder
respeitado e carismático permanece intacta entre aqueles que o conheceram.
Legado e Reflexão
Edward
Smith personificava o ideal do capitão marítimo da Era Eduardiana: experiente,
confiante e profundamente respeitado por colegas e passageiros. Sua carreira,
marcada por feitos impressionantes e alguns contratempos, reflete a
complexidade da navegação em uma era de rápida inovação tecnológica.
O
naufrágio do Titanic, embora tenha definido seu legado para a posteridade, não
apaga os quase 40 anos de serviço exemplar que o tornaram uma figura icônica no
mundo marítimo.
A
tragédia do Titanic também levou a mudanças significativas na regulamentação
marítima, incluindo a obrigatoriedade de botes salva-vidas suficientes para
todos a bordo e a criação do Patrulha Internacional do Gelo.
Assim,
a história de Edward Smith não é apenas a de um homem, mas também a de uma era
de ambição, confiança e, por fim, lições aprendidas a um custo devastador.
O Baltic, primeiro Navio que Smith comandou como Comodoro
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