Talvez enxergar a dor que não é nossa seja uma das
maiores dificuldades atuais, ou de sempre. Nunca estivemos tão necessitados de
alento e de consolo, de um olhar mais empático, de fé e de esperança. Tempos
difíceis acabam nos tornando mais frágeis, vulneráveis e, de início, mais
fracos.
Tem toda aquela teoria de que as quedas nos
levantam, de que a gente fica mais forte ao passar por tempestades. Sim, a
gente fica, porém, durante a tempestade, como hoje vivemos, as forças parecem
minguar.
Não é fácil olhar para o horizonte e não enxergar
boas perspectivas, não alcançar nenhuma mão estendida, não esperançar. É
triste, porque, sem esperança dentro da gente, fica tudo meio oco, nebuloso,
feito zumbi.
Não é à toa que pesquisas indicam um aumento das
chamadas doenças da alma, que resultam de um psicológico abalado, de um
emocional em frangalhos. Quase ninguém está totalmente bem, porque as coisas da
vida encontram-se pendentes, em suspensão, num contexto atual que é atípico e
triste.
Sofrem os nossos olhos ao verem o cotidiano,
sofremos por dentro, ao sentir que ali não conseguiremos ter onde apoiar nossos
passos. E então adoecemos, no corpo, na alma.
O pior é que acabamos confrontando nossa fraqueza
emocional com essa necessidade de ser forte que se encontra estampada,
divulgada e propalada por todos os cantos. Recebemos inúmeras mensagens de que
a felicidade deve ser uma constante, de que devemos ser fortes, e isso tudo nos
faz questionar a nossa validade diante da vida.
A gente se enxerga muito distante de um ideal que é
tido como o desejável e tenta evitar a tristeza, sabotando o processo de cura e
superação, que necessariamente requer esse período de escuridão emocional.
Porque a verdade é que a tristeza não se evita, mas se encara, acolhe, pois é
digerindo a escuridão que conseguiremos voltar a lutar e a enxergar focos de
luz.
É o momento de olharmos para dentro de nós e
procurar a luz que está lá. É o momento de olharmos para o próximo e tentar
ajudar de alguma forma. As pessoas pedem socorro de várias formas, até mesmo
sorrindo. Porque a obrigação de ser feliz e resiliente nos é cobrada o tempo
todo. A importância do “você está bem?” nunca foi tão urgente. A normalidade de
responder “estou bem e você?” nunca foi tão utópica.
Marcel Camargo
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