Itzhak Stern: O Contador de Oskar Schindler e a Força por Trás da Lista
Itzhak
Stern, um judeu polonês nascido em 25 de janeiro de 1901, em Cracóvia, então
parte do Império Austro-Húngaro, desempenhou um papel crucial na história de
resistência e humanidade durante o Holocausto.
Como
contador de Oskar Schindler na Deutsche Emailwarenfabrik (DEF), uma fábrica de
utensílios esmaltados em Cracóvia, Stern não foi apenas um administrador
habilidoso, mas também uma figura central na salvação de mais de mil judeus
durante a Segunda Guerra Mundial.
Enquanto
prisioneiro no campo de concentração de Płaszów, Stern tornou-se o braço
direito de Schindler na gestão da fábrica. A DEF, que produzia panelas e outros
itens para o esforço de guerra alemão, foi inicialmente um empreendimento
movido a interesses comerciais, mas evoluiu para um símbolo de esperança.
Parte
do financiamento da fábrica veio de investimentos de judeus que, sob as leis
antissemitas do regime nazista, foram despojados de seus direitos e proibidos
de gerir seus próprios recursos.
Incapazes
de usar seu dinheiro livremente, muitos confiaram em Schindler, arriscando seus
fundos em um projeto que, à primeira vista, parecia apenas um negócio, mas que
se tornaria um meio de sobrevivência.
Foi
Itzhak Stern quem, com meticulosidade e coragem, digitou a célebre "Lista
de Schindler", um documento que continha os nomes de cerca de 1.200 judeus
que seriam salvos da deportação e da morte nos campos de extermínio.
A
lista, elaborada com a colaboração de Schindler, foi em grande parte idealizada
por Stern, que cuidadosamente selecionou trabalhadores, muitos dos quais não
tinham habilidades técnicas, mas cuja inclusão na lista significava a diferença
entre a vida e a morte.
Ele
falsificava documentos, transformando professores, intelectuais e artistas em
"mecânicos" e "operários qualificados", garantindo que
fossem considerados essenciais para a fábrica e, assim, protegidos da máquina
genocida nazista.
O
relacionamento entre Stern e Schindler começou de forma pragmática. Em sua
primeira reunião, Stern sugeriu que Schindler utilizasse mão de obra judia,
mais barata que a polonesa, uma decisão inicialmente movida por oportunismo de
ambos os lados.
Schindler,
um empresário alemão filiado ao Partido Nazista, via na proposta uma chance de
lucro; Stern, por sua vez, enxergava uma oportunidade de salvar vidas.
Com o
tempo, porém, o que era uma relação comercial transformou-se em uma profunda
amizade, marcada por respeito mútuo e um objetivo compartilhado: preservar a
humanidade em meio à barbárie.
Stern
foi um estrategista silencioso, mas essencial. Ele arriscava a própria vida ao
incluir na lista judeus considerados "não essenciais" pelos nazistas,
como idosos, crianças e intelectuais, que, sem sua intervenção, provavelmente
teriam sido enviados para campos de extermínio de Auschwitz.
Sua
habilidade em manipular registros e documentos, aliada à sua visão humanitária,
foi fundamental para o sucesso do plano de Schindler. Ele não apenas
administrava a fábrica, mas também servia como conselheiro de Schindler,
ajudando-o a navegar pelo perigoso equilíbrio entre agradar as autoridades
nazistas e proteger seus trabalhadores.
A
história de Stern ganhou destaque no filme A Lista de Schindler (1993),
dirigido por Steven Spielberg, onde foi brilhantemente interpretado por Ben
Kingsley.
A
atuação de Kingsley capturou a essência de Stern: um homem reservado, mas
astuto, cuja força residia na inteligência e na determinação. No final do
filme, a viúva de Stern aparece em uma cena comovente, visitando o túmulo de
Schindler em Jerusalém, acompanhada por Kingsley, em um tributo à memória de
ambos.
Além de
Itzhak, seu irmão, Natan Stern, também esteve entre os judeus salvos por
Schindler, reforçando o impacto pessoal que a lista teve na família Stern. A
relação entre Itzhak e Schindler, inicialmente fria e calculista, floresceu em
uma amizade genuína, marcada por momentos de cumplicidade e confiança.
Quando
Stern faleceu em 1969, Schindler, já debilitado e vivendo modestamente,
compareceu ao funeral e, segundo relatos, chorou copiosamente, um testemunho da
profundidade do laço que os uniu.
Contexto e Legado
O
trabalho de Stern e Schindler aconteceu em um dos períodos mais sombrios da
história. Durante o Holocausto, cerca de seis milhões de judeus foram
assassinados pelo regime nazista, em uma campanha sistemática de ódio e
extermínio.
Em
Cracóvia, o gueto criado em 1941 concentrou dezenas de milhares de judeus em
condições desumanas, antes que a maioria fosse deportada para campos de
concentração ou extermínio.
A
fábrica de Schindler, localizada próxima ao gueto, tornou-se um oásis
improvável, onde os trabalhadores, embora submetidos a condições difíceis,
tinham uma chance de sobreviver.
Stern
não apenas ajudou a salvar vidas diretamente, mas também contribuiu para um
legado de resistência moral. Ele representou a força daqueles que, mesmo em
circunstâncias de opressão extrema, encontraram maneiras de lutar pela
dignidade e pela sobrevivência de outros.
Sua história
é um lembrete de que, em meio ao caos e à crueldade, atos de coragem e
solidariedade podem fazer a diferença. Após a guerra, Stern continuou a viver
discretamente, sem buscar reconhecimento por suas ações.
Sua
morte em 1969 marcou o fim de uma vida dedicada à sobrevivência e à esperança,
mas seu impacto perdura. A Lista de Schindler, hoje preservada como um
documento histórico, é mais do que uma lista de nomes; é um testemunho da
parceria entre dois homens improváveis - um empresário alemão e um contador
judeu - que, juntos, desafiaram o horror do Holocausto.
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